POLÍTICA

PSD de Kassab domina metade das prefeituras de SP; na região são 28

Movimentação reflete mudança na política paulista desde o fim dos quase 30 anos de PSDB com a derrota de Rodrigo Garcia

Por André Fleury Moraes / com FolhaPress | 05/11/2023 | Tempo de leitura: 5 min

Divulgação

A prefeita Suéllen Rosim (PSD) durante reunião com Gilberto Kassab em janeiro: encontro selou filiação da mandatária à sigla
A prefeita Suéllen Rosim (PSD) durante reunião com Gilberto Kassab em janeiro: encontro selou filiação da mandatária à sigla

O PSD, partido dirigido por Gilberto Kassab, secretário de Governo da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), multiplicou por sete o número de prefeitos no estado de São Paulo desde dezembro de 2022 - de 46 para 336 segundo dados atualizados até a última sexta-feira (3).

Isso significa que Kassab, também bem relacionado com o governo Lula (PT), domina atualmente 52% das 645 prefeituras do Estado. Considerado homem forte da gestão Tarcísio, o presidente do PSD é responsável pela relação do Palácio dos Bandeirantes com prefeitos e deputados, além de controlar o repasse de emendas e convênios.

Somente na macrorregião de Bauru, para se ter uma ideia, o PSD está à frente de 28 governos numa comparação que envolve 48 prefeituras (veja na tabela). Parte dos prefeitos se filiou ao partido neste ano, na esteira da ascensão de Kassab à Secretaria de Governo do Palácio dos Bandeirantes, e uma outra ala, esta menor, já pertencia ao partido.

Algumas das migrações partidárias receberam as bênçãos do próprio presidente nacional do PSD, que esteve em Pederneiras no primeiro semestre deste ano e assinou a ficha de filiação de prefeitos ao lado dos mandatários. Em números percentuais, o PSD domina 58% das prefeituras da macrorregião de Bauru.

O partido deve abrigar até o final de dezembro o prefeito de Lençóis Paulista, Anderson Prado. Hoje, ele pertence à União Brasil, legenda criada a partir da fusão do DEM com o PSL, mas já firmou acordo com Kassab.

Atrás do PSD está o MDB, que possui 10 prefeituras na macrorregião de Bauru. O avanço de Kassab sobre os municípios paulistas poupou prefeitos emedebistas para evitar uma crise com o presidente nacional da sigla, Baleia Rossi, com quem o PSD mantém bom relacionamento.

A movimentação em massa de prefeitos a partir de dezembro reflete a principal mudança na política paulista desde o fim dos quase 30 anos de poder do PSDB com a derrota do tucano Rodrigo Garcia. Em seu lugar, ascenderam PSD, Republicanos, PP e PL.

Nesse período, o PSDB minguou de 238 prefeitos para 43. O partido atravessa uma nova crise com a decisão da executiva nacional, comandada por Eduardo Leite (PSDB), de suspender a convenção estadual e interferir no comando do diretório paulista. O clima de conflagração se repete em nível nacional e na capital paulista.

Desde dezembro passado, o Republicanos, partido de Tarcísio, também cresceu, mas não na proporção do PSD - foi de 25 para 54 prefeitos, ou seja, praticamente dobrou. A segunda maior legenda em número de prefeitos em São Paulo é o MDB, que passou de 58 para 73. O PL, de Jair Bolsonaro, saiu de 39 para 56. Já o PP tinha 32 e agora 42.

Além do PSDB, a União Brasil, que foi o principal partido aliado dos tucanos no estado, também perdeu prefeitos: tinha 75 e agora 27. No campo da oposição, PT e PSB mantiveram estabilidade. O partido dos ex-governadores Márcio França (PSB) e Geraldo Alckmin (PSB) tem cerca de dez prefeitos, como em dezembro.

Os petistas, por sua vez, têm uma dificuldade histórica entre os eleitores do Interior de São Paulo. Em 2020, elegeram apenas quatro prefeitos - número que não se alterou. Para dirigentes partidários ouvidos pela reportagem, a eleição municipal de 2024 deve alterar o quadro, mas a dominação de legendas do centrão em detrimento do PSDB é um cenário que deve se consolidar.

Ao contrário de vereadores e deputados, os prefeitos não precisam esperar a janela partidária que antecede cada eleição para mudar de sigla. Por isso, é comum que eles busquem aderir às legendas governistas da ocasião.

O fluxo de prefeitos rumo ao PSD tem gerado reclamação na cúpula de outros partidos da base de Tarcísio, que veem chantagem e intimidação por parte de Kassab. Nos bastidores, eles afirmam que seus filiados mudam para o PSD com a promessa de receberem mais recursos para seus municípios.

O secretário afirma que não faz política partidária no Palácio dos Bandeirantes e nega haver qualquer promessa ou benefício para os prefeitos que entram no PSD.

"O atendimento do governo é republicano, sem distinção de partidos. Esse aumento de prefeitos do PSD reflete uma nova circunstância política no Estado. Foi uma mudança não de cooptação, mas de sintonização dos novos ventos da política. Ventos que têm Tarcísio como líder", diz Kassab.

Políticos ouvidos pela reportagem apontam ainda um crescimento artificial do PSDB nos anos finais da gestão de João Doria e Rodrigo Garcia. Em 2020, o partido elegeu 172 nomes, mas o governo buscou novas filiações. PSD e PTB foram as siglas que mais perderem prefeitos para a máquina tucana entre 2020 e 2022.

O presidente do PSDB paulista, Marco Vinholi, era o secretário de Desenvolvimento Regional na época, exercendo uma função parecida com a de Kassab hoje, isto é, controlando o fluxo de verba para os municípios.

Em 2021, Doria precisava do voto de prefeitos tucanos no estado para derrotar Eduardo Leite nas prévias presidenciais, o que ensejou a corrida por filiados. A campanha do gaúcho chegou a denunciar 51 filiações de prefeitos irregulares.

Depois da derrota de Rodrigo Garcia, que não chegou ao segundo turno mesmo com o apoio da maioria dos prefeitos, líderes partidários têm pontuado que a quantidade de mandatários não é necessariamente uma vantagem.

Dirigentes de siglas como Republicanos, PP e mesmo PSDB dizem que seu objetivo não é acumular cada vez mais prefeituras, mas sim manter os prefeitos que se identifiquem com as propostas e a identidade das respectivas legendas.

Bruno Silva, pesquisador do Laboratório de Política e Governo da Unesp Araraquara, diz que um dos fatores que explica o crescimento do PSDB nos anos anteriores é relação de proximidade do então vice Rodrigo Garcia com prefeitos no Interior do estado - vácuo que foi ocupado por Kassab.

Para ele, o aumento de prefeitos do PSD está ligado ao projeto político expansionista do partido e ao controle de Kassab sobre o cofre do estado.

Lara Mesquita, cientista política e professora da FGV, afirma que o crescimento variado dos partidos tem relação com suas diferentes estratégias.

Ela aponta que o PL é o partido mais atrativo para os prefeitos que vão disputar a eleição municipal por deter a maior parte do fundo eleitoral, mas, apesar disso, o PSD pode ter sido mais eficiente na mobilização, oferecendo acesso aos recursos do estado.

Já o Republicanos, diz, é um partido que opta pelo crescimento orgânico, que prefere filiar apenas aqueles que queiram permanecer ali.

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1 COMENTÁRIOS

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  • APARECIDO DE OLIVEIRA LIMA
    05/11/2023
    Esse avanço do ka sabe sobre o prefeitos ela é puramente fisiológica o que os prefeitos querem recursos ou fundos perdidos para obras nos municípios E isso não vai conseguir com certeza nos próximos 12 meses a sigla deverá esvaziar oremos