POLÍTICA

Coletivo denuncia trechos racistas no Palavra Cantada e pede providências

Por André Fleury Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação
Material Palavra Cantada, adquirido no ano passado, até hoje não foi totalmente implementado em Bauru
Material Palavra Cantada, adquirido no ano passado, até hoje não foi totalmente implementado em Bauru

O Coletivo Educação em Luta, liderado por professores e demais profissionais da rede municipal de ensino, denunciou em manifesto divulgado na quarta-feira (11) trechos racistas e capacitistas que constam do livro para crianças de 10 anos do material Palavra Cantada.

O texto do colegiado foi publicado nas redes sociais e mostra, por exemplo, versos como "é mais fácil um negão tomar banho e ficar branquinho" e "é mais fácil um aleijado disparar numa cadeira".

As citações são parte da música "Eu nunca posso perder", que consta do repertório da dupla Palavra Cantada - de Sandra Peres e Paulo Tatit. Em nota, a Secretaria de Educação afirmou ao JC que a canção é "rica em tradição e significado" e "tem um potencial pedagógico valioso".

"No entanto, a música em questão nos lembra que a cultura também carrega consigo elementos do passado, incluindo preconceitos raciais e capacitistas. A análise crítica é essencial. O conteúdo da música deve ser examinado à luz dos valores de igualdade e inclusão que defendemos na sociedade contemporânea", prossegue a administração.

Para o coletivo, no entanto, o problema está na falta de uma revisão prévia sobre o material. Especialmente porque os livros são destinados a alunos da quarta série (5.º ano), que têm entre 9 e 10 anos.

"Não há respaldo em liberdade poética, assim como no passado foram excluídos textos de Monteiro Lobato das bibliográfias oficiais do Estado de SP. Para a contemporaneidade, não cabe mais tolerar preconceito e capacitismo sob a ótica do 'jeitinho de falar daquela época'. É isso que estamos oferecendo aos alunos dos quintos anos em Bauru?", indaga o movimento.

A administração alega também que "a autoria do material do Palavra Cantada é de responsabilidade da editora" e que "por mais que o cordel publicado possa ter uma eventual interpretação regionalista, o tom racista e o evidente preconceito não devem, nem podem, ser aceitos".

A afirmação de que o tom racista não pode ser aceito destoa da posição do próprio governo de que o conteúdo deve ser examinado a partir do contexto histórico da época em que a canção, tradicional no Rio Grande do Norte - conforme afirma a pasta, foi elaborada.

Em nota, a editora Movimenta afirmou "não tem ingerência sobre o material e detém apenas os direitos decomercialização". Procurada na noite de ontem, a assessoria da dupla musical Palavra Cantada reconheceu os termos preconceituosos e afirmou que os versos foram retirados da canção em agosto de 2023.

"A Palavra Cantada repudia qualquer conteúdo de cunho racista e informa que, em agosto do corrente ano, foi realizada a exclusão dos versos citados da canção Eu Nunca Posso Perder - de autoria e interpretação dos repentistas mirins do Rio Grande do Norte Frank e Nazah, na época com 11 e 14 anos. A faixa integra a coletânea Canções do Brasil, produzida em 2000, que reúne o canto infantil regional de todo o país. A Palavra Cantada agradece a percepção dos professores e pede desculpas pela grave desatenção", afirma a nota.

O material foi comprado pela Prefeitura de Bauru em agosto do ano passado por R$ 5,2 milhões e até hoje não foi integralmente implementado na rede municipal de ensino. O impasse gerou até uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) na Câmara, que ainda está em andamento e é presidida pelo vereador Markinho Souza (PSDB).

Já no âmbito do Tribunal de Contas (TCE), enquanto isso, o Ministério Público (MP) pediu a rejeição do contrato de aquisição dos kits pedagógicos e defendeu inclusive a aplicação de multa aos responsáveis pela compra. A Movimenta afirma ter cumprido todos os requisitos para a contratação na modalidade compatível com a exclusividade do material

Comentários

2 Comentários

  • Eduarda Maria de Souza Fernandes 13/10/2023
    Com tanta gente titulada na Secretaria da Educação como é possível a compra de material didático com conteúdo dessa natureza? Ou a compra se deu sem discussão e análise dos especialistas que ocupam a pasta da Educação?
  • Tati 13/10/2023
    Tudo o que começa errado, termina errado! Tá na cara que não houve participação dos professores pra escolha deste material. O verdadeiro enfiado goela abaixo! Vergonhoso!