COLUNISTA

Uma canção de amor

Por Dom Caetano Ferrari |
| Tempo de leitura: 3 min
Bispo Emérito de Bauru

No Evangelho da santa Missa deste domingo - Mt 21,33-43 - Jesus relembra o tema da vinha, o qual como uma canção de amor fora cantado por Isaías, ficando conhecido na história com o nome de "Cântico da Vinha".

A liturgia da Missa, na primeira leitura, nos apresenta essa passagem de Isaías 5,1-7. A vinha é a imagem do povo de Israel, a amada de Deus enriquecida por Ele com todos os cuidados, a fim de produzir abundantes frutos de bem para todo o povo. No entanto, a vinha escolhida por Deus transformou-se numa ingrata que não produziu os bons frutos esperados, mas distinguiu-se pela violência e a maldade, desprezou o direito e a justiça com os pobres, renegou a aliança com Javé. Israel é essa esposa infiel, a vinha ingrata que, ao fim, por causa desse seu comportamento desprezível acabou amaldiçoada e estéril.

No santo Evangelho, porém, segundo Jesus, a vinha é o novo Israel, a Igreja, a amada que, embora infiel, não é amaldiçoada. Deus é o esposo fiel no seu amor que, jamais abandonando a sua amada, a entrega, porém, aos cuidados de outros agricultores, outro povo que seja capaz de distribuir os seus frutos, segundo a justiça do reino, para o bem de todos. A Igreja, como a vinha, sempre produz bons frutos; os seus arrendatários, contudo, corrompendo-se, é que poderão desviar os seus frutos para atender interesses escusos, contrários à justiça divina e aos mandamentos de Deus. Na antiga aliança foram rejeitados os profetas e os homens de Deus, na nova aliança, serão rejeitados o próprio Cristo, os apóstolos, os cristãos justos e santos. Todos os que se esforçam para fazer a vontade de Deus e produzir frutos de justiça para o bem do povo têm o mesmo destino. Conforme Jesus conta na parábola, os arrendatários criminosos da vinha são os que mataram os profetas, o filho do patrão, o herdeiro da vinha. Uma alusão aos cristãos que serão martirizados e a Ele mesmo que será jogado fora da vinha, além dos muros de Jerusalém, no alto do Calvário, para ser crucificado e morto. De novo vem à nossa mente o dito de Jesus de que os últimos poderão ser os primeiros e os primeiros poderão ficar por último ou, pior ainda, de fora. Quem são esses últimos? Os pecadores arrependidos, os pagãos convertidos, os cobradores de impostos, as prostitutas. Os primeiros podem ser os justos batizados desde a primeira hora, como nós, que depois, corrompendo-se, deixam de cumprir a vontade de Deus, de seguir os seus ensinamentos e de obedecer aos seus mandamentos: "Então, Jesus disse aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo: 'Vós nunca lestes nas Escrituras que a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos? Por isso, Eu vos digo, o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos'". Em Ezequiel lemos que: "Deus se compraz com um pecador que se arrepende de seus pecados, se converte e se salva, e rejeita um justo que se desvia da justiça, pratica o mal e morre por causa de seu pecado" (Ez 18, 26-28). Neste outubro da primavera, mês missionário, somos convidados a permanecer unidos em oração com toda a Igreja pelo bom êxito da 16ª Assembléia Geral, convocada pelo Papa Francisco e que se realiza em Roma, tendo por tema: "Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão".

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