O drama maior do Brasil está em três "ismos": populismo, corporativismo e patrimonialismo. É quando se busca apropriar-se do Estado para fins de interesses próprios ou dos amigos.
O indomável Millôr Fernandes, dentre as mais de 5 mil frases e sacadas que produziu, uma delas dizia: "Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem não chegou ao poder". Triste sina de um país, onde a impunidade encoraja o surgimento de mais corruptos, independentemente de quem esteja no poder.
Estamos diante de outro escândalo. Este, pode levar à frustração 60 milhões de brasileiros que votaram no candidato da direita, na esperança de restauro da moralidade há muito perdida. Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel, filho de general de quatro estrelas, se dispõe a revelar "o segredo das joias", presenteadas ao então chefe de Estado por mandatários de países árabes. Por lei, elas pertencem ao patrimônio público. Se não fosse presidente, as joias não teriam sido ganhas por Bolsonaro e pela primeira dama Michelle. O verdadeiro presenteado deve ser o Estado. Caso contrário, os presentes poderiam ser considerados tentativas de propinas.
Mauro Cid já adiantou que devia obediência hierárquica a Bolsonaro, "chefe supremo" do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Apenas "cumpria ordens".
Rezam os manuais que ordens para se cometer ilegalidades ou contrárias à ética e a moral, não devem ser cumpridas. O jovem oficial, com brilhante carreira pela frente, tinha como certo chegar ao generalato, um projeto de família. O pai, recentemente também se viu envolvido em diligências da PF em sua residência. Um vexame. O general Mauro Lourena Cid, que foi colega de Bolsonaro na Escola de Cadetes das Agulhas Negras, ocupara a chefia de um escritório do governo brasileiro, em Miami, para promover a venda de produtos exportáveis e ganhava em dólares, com despesas pagas. Vendeu joias na Flórida para o ex-presidente. Deve estar arrependido, com o filho preso e todo o estrépito provocado. O Exército, oficialmente, fixou que "não compactua com eventuais desvios de conduta de quaisquer integrantes".
Mauro Cid, filho, está preso desde maio pela PF, em decorrência de investigações sobre certificados de imunização contra a Covid-19, para Bolsonaro e familiares, irregularmente emitidos. Ainda terá que explicar a movimentação de R$ 12 milhões na sua conta no período Bolsonaro, importâncias incompatíveis com sua renda e patrimônio. O ajudante de ordens cuidava do cartão corporativo, que todo presidente dispõe para pagamento de despesas em função de suas atividades como chefe e Estado, inclusive de familiares. Nada o impede de sacar dinheiro no caixa, para pagamentos em espécie. As faturas são secretas e os gastos, ilimitados.
Para lambrecar ainda mais a situação, o advogado de Bolsonaro Fred Wassef, contou à imprensa sobre a recompra do Rolex que teria sido vendido, com outros "presentes", pelo general Mauro Lourena Cid, nos Estados Unidos, por 50 mil dólares. Foi o mesmo Wassef que escondeu Fabrício Queiroz em seu sítio em Atibaia e depois disse que nem sabia que ele estava lá. Belo seu jeito "topa tudo por dinheiro", Bolsonaro o havia apelidado de "Fio Desencapado". Os aliados do ex-presidente, que não gostaram nenhum pouco das declarações do advogado, agora o chamam de "Wasséfalo", uma nova versão da mula sem cabeça.
O escritor irlandês C.S. Lewis, de "As Crônicas de Nárnia", também escreveu "Cartas de um Diabo a seu Aprendiz", onde Asmodeus diz ao seu sobrinho candidato que "Ele sempre envia ao mundo erros aos pares - pares de opostos. E sempre nos estimula a desperdiçar precioso tempo na tentativa de adivinhar qual deles é pior. Temos que passar reto pelo meio de ambos os erros. Nem um nem outro nos interessam".
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