COLUNISTA

Erguendo os olhos para a fé

Por Carlos Brunelli | 06/08/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Igreja Batista do Estoril

Muitas pessoas olham para si mesmas com severidade desmedida ante o acúmulo de pecados cometidos. Acreditam que a elas não há chance alguma de redenção e mergulham em uma roda-viva de renovação dos atos pecaminosos, descrença na salvação e, em função disso, manutenção de uma vida apartada de Deus.

A bíblia é repleta de personagens marcados por uma biografia à margem dos ensinamentos divinos, mas que foram trabalhados e moldados pela graça e tornaram-se estandartes da fé. Tanto no Velho quanto no Novo Testamento há um sem-número de pecadores que, em determinado momento, foram tocados pelo Espírito Santo, convenceram-se de suas falhas, arrependeram-se sinceramente do mal e saltaram gradativamente das trevas à luz, pela obediência.

O filósofo existencialista, teólogo, poeta e crítico social dinamarquês Soren Kirkegaard (1813-1855) destaca em seus escritos filosóficos a importância da escolha e do comprometimento pessoal. Já seu trabalho teológico centra-se na ética cristã e no contraste entre a finitude e temporalidade do homem em comparação à infinitude e eternidade de Deus, assim como a relação subjetiva, ou seja, o modo particular, de cada indivíduo de relacionar-se com Jesus Cristo, por meio da fé. Em um de seus ensaios, contrapôs enfaticamente a ciência - que aprende sobre o mundo pela observação, e defende ser este o caminho a seguir - ao cristianismo, que revela o caminho através do mundo espiritual.

Kirkegaard julgava que ninguém reteria seus pecados, mesmo que esse alguém não acreditasse no perdão do pecado, pois esse medo de não encontrar o perdão é devastador e ninguém viveria toda uma vida duvidando da existência do perdão. Em uma cantata denominada Orações de Kirkegaard, Samuel Barber compôs assim: "Deus Pai, que está no céu, não retenha nossos pecados contra nós, mas sustenta-nos contra nossos pecados, para que quando forem despertados em nossa alma pensamentos elevados a Ti, não nos lembremos dos pecados que cometemos, mas sim dos que o Senhor perdoou; não de como nos desviamos, mas de como o Senhor nos salvou". Uma síntese do pensamento do filósofo sobre a fé na redenção.

No início de sua carta aos Efésios, o apóstolo Paulo descreve como Deus nos concede o perdão para nossos pecados através de Jesus Cristo, quando afirma "Nele temos a redenção, pelo seu sangue; a remissão dos pecados, segundo a riqueza de sua graça" (Ef. 1:7). Jesus pagou o preço pelos pecados de todos nós, e aqueles que Nele crerem serão perdoados e viverão com Deus na eternidade. É de graça e para todos; uma questão de escolha e de comprometimento pessoal, "porque Deus enviou seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele" (João 3:17).

Voltando a Kirkegaard, ele cunhou a célebre frase: "a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente". Ter consciência de seus pecados é fundamental para entender os descaminhos para os quais não se deve voltar, porém a perspectiva de um futuro pleno e de paz abundante em Cristo Jesus é quem deve reger sua decisão de doravante estar ao lado do Senhor de nossas vidas.

Um dos passatempos prediletos de Kirkegaard era passear a pé por Copenhague, sua cidade natal. Ele adorava caminhar pelas ruas da capital da Dinamarca, onde o Royal Theatre ficava em uma extremidade da cidade e no outro extremo ficava a catedral onde se pregava o Evangelho. Essa posição geográfica diametralmente oposta é uma bela alegoria para ilustrar a vida secular a que se deve dar as costas e caminhar resoluto ao encontro do sagrado, erguendo os olhos para a fé.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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