COLUNISTA

Deus está do nosso lado

Por Dom Caetano Ferrari | 25/06/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Bispo Emérito de Bauru

No Evangelho da santa Missa deste domingo, décimo segundo do Tempo Litúrgico Comum - Mt 10,26-33 - aparecem três vezes a expressão "Não tenhais medo", expressão saída da boca de Jesus e dirigida aos seus Apóstolos.

Na primeira leitura da Missa - Jr 20,10-13 - o profeta Jeremias sustenta que o Senhor esteve do seu lado como forte guerreiro e o salvou das mãos dos malvados, isto é, da parte rebelde e obstinada do povo que recusava a sua profecia anunciada em nome de Deus, honestamente e a todo custo, exatamente para a salvação de todo o povo. Como consequência do exercício de sua missão profética, ele sentiu na pele o peso das injúrias provocadas por tantos homens maus que, rejeitando-o, espalhavam o medo ao seu redor e o perseguiam, na espreita de alguma falha para apanhá-lo de surpresa e, assim, poderem se vingar dele. Jeremias é dentre os profetas um dos que mais sofreu perseguições por causa da sua missão profética, razão por que também ele deve ter experienciado o sentimento do medo. Jeremias foi preso, espancado, jogado num poço e conduzido à força para o Egito. Prevaleceu nele, no entanto, como dito acima, a fé e a confiança em Deus.

Jesus, mais de uma vez, alertou os seus Apóstolos para o fato de que também eles estarão sujeitos às incompreensões, às injúrias, às perseguições e, inclusive, ao martírio, por causa do Evangelho, da sua fé em Deus, da sua missão de denunciar o pecado e anunciar a justiça divina que não falha. Pois, Ele chegou a dizer que assim como farão com Ele, farão também com eles; o discípulo não estará acima do seu mestre; se os adversários O chamaram de belzebu, como não dirão de seus seguidores?

Voltando ao Evangelho, vemos Jesus encorajando os Apóstolos a permanecerem firmes na fé, perseverantes na missão, enfim, a não terem medo diante dos homens, nem daqueles que matam o corpo, mas não matam a alma. Ao medo que poderia se apoderar deles, Jesus contrapõe a coragem. As razões para a coragem em dar testemunho da fé, Jesus acentua ao menos três. Primeira, a mensagem do Reino de Deus e de sua justiça, até agora oculta, é verdadeira e será revelada, isto é, o Reino já está em nosso meio. Então: O que escutais na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que ouvis ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados!" Segunda, os homens podem tirar a vida do corpo, mas não o podem da alma, pois esta não depende dos homens, mas de Deus. E só Deus pode transformar a morte do corpo em vida eterna. Terceira, a Providência divina cuida de todas as criaturas, até mesmo das mais humildes como os pardais, então cuida com mais razão daqueles que professam a fé no seu nome. A razão maior para a coragem deve se assentar sobre a verdade de que Ele mesmo há de confessar diante do Pai, no juízo final, aqueles que O tiverem confessado nesta vida no mundo. Quem O testemunhar diante dos homens aqui, Ele o testemunhará diante do Pai lá no céu.

O mistério do Reino de Deus com a sua justiça será conhecido por todos pelo testemunho dos cristãos discípulos missionários, enfim, da Igreja. Aqueles que abraçarem a fé sabem que precisarão passar por um duro processo de conversão de vida, de mudança no modo de pensar e agir agora segundo Deus, em outras palavras, que deverão abandonar os vícios e praticar as virtudes, renunciar as coisas do mundo para abraçar as do céu. Isto conseguirão com a graça de Deus, a boa vontade pessoal e o apoio da comunidade de fé. Mas não demorarão a conhecer a incompreensão muitas vezes vindas das pessoas mais próximas e a perseguição geral por causa do nome de Cristo que abraçaram. Como sabemos, a perseguição à Igreja e aos cristãos por causa da sua fé e do seu Evangelho faz parte da história da Igreja, faz parte da vida do discípulo missionário.

Inclusive nos dias de hoje os cristãos são dados ao espetáculo aos olhos do mundo por causa da sua fé. São perseguidos e martirizados. As mesmas palavras de Jesus ouvidas no Evangelho podem ser lidas também no Apocalipse: "Não temas! Eu sou o primeiro e o último, o Vivente. Estive morto, e eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e da região dos mortos" (Ap 1,17-18). Em nós há um desejo de imortalidade e, no entanto, todos nós morreremos. Fortalece-nos, porém, estas outras palavras de Jesus: "Quem crer em mim, ainda que esteja morto, viverá" (Jo 11,25).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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