EM BAURU

Na hora do rush, trânsito trava até nas transversais das principais avenidas

Por Larissa Bastos | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Larissa Bastos
Trânsito também fica carregado na avenida Comendador José da Silva Martha, em Bauru, nos horários de pico
Trânsito também fica carregado na avenida Comendador José da Silva Martha, em Bauru, nos horários de pico

Trafegar por Bauru em vários horários está mais difícil. Além de o trânsito já ficar travado nas grandes avenidas no período das 7h às 8h e das 17h às 19h, a lentidão se espalhou e agora também acomete ruas adjacentes e transversais das principais vias, em diferentes regiões do município. Para especialistas, essa situação, que tem exigido cada vez mais paciência e tempo dos condutores e passageiros, tem relação com o aumento da frota de veículos da cidade e com a mudança de hábitos das pessoas após o fim do período de restrições da pandemia.

Motorista de aplicativo há cinco anos em Bauru, Marcel Buzzolini conta que, ultimamente, nem mesmo buscar rotas alternativas durante as corridas tem sido efetivo para evitar ficar preso no congestionamento. "Aos poucos, tem ficado impossível dirigir nos horários de pico. Se chove, então, o congestionamento triplica e se torna um caos", relata.

Na percepção do profissional, alguns dos endereços mais complicados da cidade para percorrer são: rodovia Marechal Rondon (SP-300) - entre o viaduto da Duque de Caxias e a entrada para o Parque São Geraldo -, a rua Nilo Peçanha e a avenida Comendador José da Silva Martha, no sentido Bairro/Centro.

Esta última via, inclusive, é destacada pelo engenheiro de trânsito e especialista em segurança viária Archimedes Raia Júnior como o pior local para trafegar atualmente na hora do rush, principalmente no trecho da rotatória que liga à avenida José Vicente Aiello.

"A maioria das nossas avenidas possui de uma a duas faixas de rolamento, enquanto as ruas secundárias têm apenas uma faixa. Ou seja, Bauru possui um sistema viário de baixa capacidade, que não acompanhou o crescimento da cidade e que não comporta um município desse porte. A avenida Comendador José da Silva Martha é um bom exemplo disso. Houve uma expansão grande para aquela região, com a construção de condomínios, prédios e comércios, e hoje muitas pessoas dependem dessa via para chegar em casa. Mas têm transtorno, porque a rota está saturada e não há alternativa", explica.

MAIOR

Aliado a isso, durante a pandemia, houve também um aumento do número de carros, motos, caminhões e ônibus no município, que só foi percebida nas ruas após o fim do período de restrições, quando a população retomou a realização das atividades presenciais.

"Os motoristas que não puderam parar e tiveram de sair de casa experimentaram ruas mais vazias, enquanto outras pessoas continuaram comprando automóveis, mas ainda não saíam com frequência. Agora, com a volta da normalidade, isso está refletido no trânsito mais carregado", observa Raia Júnior.

Segundo a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), Bauru ganhou mais de 18 mil veículos entre 2018 e 2022. Em abril de 2023, a frota total era de 300.144. Ou seja, se aproxima de ter um automóvel por pessoa, já que o município possui cerca de 388 mil habitantes atualmente, aponta o IBGE. "É uma taxa altíssima", afirma o especialista.

HÁBITOS

O engenheiro de trânsito ainda observa uma mudança de hábito entre os bauruenses. "Na pandemia, para evitar o vírus, muitos deixaram de usar o transporte coletivo e aderiram ao transporte por aplicativo, ou passaram a usar seus próprios veículos, e agora não querem voltar a usar ônibus. Isso também faz com que cresça a quantidade de carros nas ruas, principalmente nos períodos de entrada e saída do trabalho, da escola e da faculdade", complementa.

Por outro lado, existem os motoristas que mantêm péssimos hábitos e, consequentemente, atrapalham o trânsito cometendo infrações. Comandante do Pelotão de Policiamento de Trânsito da Polícia Militar (PM) de Bauru, o primeiro-tenente Júlio César Pereira da Silva cita como exemplo aqueles condutores que mexem no celular quando param no semáforo e demoram para perceber que ficou verde, ou então, andam devagar na faixa da esquerda - voltada para aqueles que circulam no limite da velocidade -, e dificultam o fluxo de automóveis.

"O comportamento humano colabora para a piora no tráfego e a falta de consciência da legislação, também. Muitos não sabem, mas é infração de trânsito mexer no celular quando o veículo está parado na faixa de rolamento, seja no semáforo ou congestionamento. O motorista deve estar o tempo todo atento aos arredores. E também é importante deixar a faixa da esquerda livre. Às vezes, o condutor está tão desatento que temos que dar o sinal sonoro da viatura para nos deixar passar", detalha o primeiro-tenente, ressaltando que usar o celular enquanto dirige também é passível de multa gravíssima.

ÀS SEXTAS, TRÁFEGO AUMENTA ATÉ 30%

Segundo o primeiro-tenente Júlio César Pereira da Silva, além do crescimento geral na quantidade de veículos nas ruas, uma curiosidade observada pelo Pelotão de Trânsito da PM é que às sextas-feiras, entre 17h e 19h, o volume de automóveis é ainda maior, chegando a aumentar de 20% a 30%. "Não sabemos exatamente a razão desta mudança neste período. Mas, de qualquer forma, também intensificamos a fiscalização", relata.

Semáforos controlados por uma central ajudaria a dar fluidez, diz especialista

Uma alternativa para melhorar a fluidez no trânsito sem grandes obras de ampliação e desapropriações, seria a instalação de um sistema de controle em rede dos semáforos, para interligá-los e conectá-los a uma central que otimizará o tempo que os dispositivos ficam abertos e fechados com base na quantidade de veículos no momento, explica o engenheiro Archimedes Raia Júnior.

"As chamadas 'ondas verdes' são ótimas para dar fluidez. Porém, atualmente em Bauru, só é possível programar os dispositivos em linha, ou seja, rua por rua, e com um ou dois tempos programados por dia. Então, esse sistema em rede melhoraria o fluxo até mesmo nas vias que têm vários cruzamentos, como a avenida Duque de Caxias", afirma.

SEM DINHEIRO

A Emdurb, responsável pelo gerenciamento do trânsito da cidade, afirma que a maioria dos semáforos das principais avenidas e ruas já está interligada, e que seus técnicos estudam constantemente maneiras de melhorar o tráfego, implantando sentido único nas vias, proibição de estacionamento e 'onda verde' nos sinaleiros.

"Nós estudamos, sim, a implantação de uma central e a compra de semáforos inteligentes (equipamento moderno que, por meio de sensores, sincroniza seu tempo de acordo com o fluxo de veículos no momento). Mas, devido à atual situação financeira, ainda não foi possível", conclui a Emdurb, em nota enviada pela assessoria de imprensa, complementando que os agentes do GOT também atuam na orientação dos motoristas em horário de pico.

Tenente Júlio César Pereira da Silva comenta que condutor lento na faixa da esquerda também atrapalha (crédito: Malavolta Jr./JC Imagens)
Tenente Júlio César Pereira da Silva comenta que condutor lento na faixa da esquerda também atrapalha (crédito: Malavolta Jr./JC Imagens)
Archimedes Azevedo Raia Júnior destaca que Bauru tem um sistema viário de baixa capacidade (crédito: Quioshi Goto/JC Imagens)
Archimedes Azevedo Raia Júnior destaca que Bauru tem um sistema viário de baixa capacidade (crédito: Quioshi Goto/JC Imagens)

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