VIOLÊNCIA

‘Sequestro emocional’ é principal entrave para denúncias de violência contra mulher

Por Guilherme Matos - Especial para o JC | da Redação
| Tempo de leitura: 2 min
Divulgação
Raquel Kobashi Lombardi é delegada de polícia desde 2012
Raquel Kobashi Lombardi é delegada de polícia desde 2012

A delegada Raquel Kobashi, especialista em segurança pública e violência de gênero, em entrevista ao JC, explicou que os agressores produzem um tipo de "sequestro emocional" nas mulheres e isso impede as vítimas de denunciar agressões e outros crimes. Ela coordenou nesta terça (28) a palestra "Segurança Pública e Violência Contra a Mulher", na Casa da Advocacia, da OAB Bauru, em uma promoção da Comissão da Mulher Advogada, presidida pela advogada Gabriela Gavioli.

"As mulheres que estão vivenciando um ciclo abusivo de violência doméstica não só normalizam, como 'romantizam' atos de agressão. Elas não se veem inseridas em um contexto violento e, por isso, negam e até escondem os fatos", afirma Raquel, caracterizando um "arcabouço do sequestro emocional".

Para ela, a partir de informações a respeito da violência contra a mulher, as vítimas percebem que o que estão vivenciando não é normal e isso pode encorajá-las a denunciar os casos para polícia.

CICLO DE VIOLÊNCIA

O Instituto Maria da Penha, que atua na conscientização e combate à violência de gênero, divide o ciclo de violência que leva ao feminicídio em três fases: aumento da tensão, ato de violência e arrependimento.

No primeiro momento, o agressor se mostra tenso e irritado, suscetível a acessos de raiva, com ameaças e destruição de objetos.

Neste ponto, a vítima procura esconder de outras pessoas, negar para si mesma que isso está acontecendo e, até mesmo, se culpar pelo comportamento violento do parceiro.

"Essa tensão pode durar dias ou anos, mas como ela aumenta cada vez mais, é muito provável que a situação levará à Fase 2", complementa o Instituto em seu site. Em seguida, ocorre o "ato de violência", que corresponde à explosão do agressor e a consumação da violência verbal, física, psicológica, moral ou patrimonial. Nesta fase, a mulher pode se sentir paralisada e sofrer tensão psicológica. É comum que haja um afastamento do agressor, porém, a fase seguinte cumpre um papel de "enganar" a vítima para trazê-la de volta ao relacionamento.

O "arrependimento e comportamento carinhoso" ou "lua de mel" é caracterizado pela amabilidade do agressor, que tenta uma reconciliação demonstrando um suposto esforço pela mudança, o que pressiona a vítima a manter o relacionamento.

O que ocorre, no entanto, é a volta à primeira fase e, consequentemente, o retorno ao ciclo que leva ao feminicídio.

Para Kobashi, todo relacionamento com um agressor se inicia como um conto de fadas e, por isso, é necessário ser rápida na hora de identificar as características do relacionamento abusivo: "Se a mulher não romper o ciclo de violência o mais rápido possível, fatalmente ela figurará como mais uma estatística de feminicídio", complementa a delegada.

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