MEIO AMBIENTE

Trecho do Rio Tietê em Barra Bonita é tomado por aguapés e afeta navegação

Por Guilherme Matos - Especial para o JC | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Cláudio R. Bonafé (ONG Mãe Natureza)
Aguapés se proliferam excessivamente por conta da poluição
Aguapés se proliferam excessivamente por conta da poluição

Barra Bonita - O trecho do Rio Tietê próximo à barragem da Hidrelétrica de Barra Bonita (68 quilômetros de Bauru) foi tomado por aguapés - uma espécie de vegetação que aumenta excessivamente por conta da poluição. A proliferação começou na última quinta-feira (9) e está sendo combatida por meio da abertura de comportas da represa. Estima-se que pode levar de dois a três dias para a solução do problema.

Segundo a AES Brasil, essa vegetação faz parte de um conjunto de espécies de plantas aquáticas, em sua maioria nativas, e o aumento está relacionado com o tipo de efluentes depositados nos rios. A empresa também afirma que monitora o desenvolvimento das plantas e sua dispersão, apesar de controlar o problema apenas por meio da abertura de comportas.

De acordo com Hélio Palmesan, presidente da ONG Mãe Natureza, ambientalista e comandante de uma embarcação turística que atua no local, essa foi a maior quantidade de aguapés já vista no local.

Segundo o ambientalista, o excesso do vegetal atrasa e compromete o transporte da produção de grãos vinda do Centro-Oeste do Brasil. No entanto, o Departamento Hidroviário (DH) informou que não houve registro de intercorrências causadas por aguapés.

Apesar de não gerar problemas graves para as grandes embarcações de carga, este acúmulo impede completamente a pesca e o trânsito de embarcações menores, além de comprometer os sistemas propulsores dos barcos, segundo Hélio.

Em Barra Bonita residem cerca de 1.500 famílias na Colônia de Pescadores do Z-20, que estão impossibilitadas de exercerem sua principal atividade de subsistência. Os aguapés impedem a movimentação dos barcos e impossibilitam o uso de redes e linhas de pesca.

RAÍZES DO PROBLEMA

A ONG Mãe Natureza trabalha com problemas ambientais no Tietê desde 1981, quando mobilizou centenas de pessoas em um abaixo-assinado para punir uma empresa que causou a morte de milhares de peixes. O presidente da ONG explica que a planta se espalha, principalmente, na região de Anhembi e Botucatu, no rio Piracicaba. Com as fortes chuvas, os vegetais são levados pela correnteza e ventos até estagnar na represa de Barra Bonita.

A proliferação nos rios é possibilitada pela alta concentração de nitrogênio, fósforo e potássio, nutrientes essenciais para as plantas, mas que em excesso geram problemas ambientais. Os fertilizantes usados nas lavouras somados à poluição produzida pelos esgotos despejados no Rio Tietê - principalmente na região metropolitana de São Paulo - são os grandes responsáveis pelo excesso de nutrientes.

Na visão do ambientalista, o problema seria evitado com a implementação do "tratamento terciário" de esgotos. Os processos físico-químicos ou biológicos retiram poluentes menores que resistiram a processos anteriores.

Em nota enviada ao JC, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) confirmou as informações de Hélio. "O nível de tratamento atual não remove nutrientes como Fósforo Total e Nitrogênio Amoniacal, havendo ainda outras contribuições decorrentes de atividades agrícolas, como o uso de fertilizantes", afirma.

No entanto, a companhia informou que as plantas se proliferam no próprio reservatório de Barra Bonita, diferentemente do que sustenta o ambientalista. "O represamento dessas águas no reservatório de Barra Bonita cria um ambiente de águas calmas, propício ao crescimento de plantas aquáticas", declara a Cetesb.

Acúmulo de plantas impede a pesca e o trânsito de embarcações menores (crédito: Cláudio R. Bonafé/ONG Mãe Natureza)
Acúmulo de plantas impede a pesca e o trânsito de embarcações menores (crédito: Cláudio R. Bonafé/ONG Mãe Natureza)

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