COLUNISTA

Coincidências e contrastes

Por Por Carlos Brunelli | 11/03/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Um antigo hit carnavalesco que exalta e homenageia uma famosíssima banda de percussão diz que "o estampido ecoou nos quatro cantos do mundo em menos de um minuto, em segundos". Quase impossível não estabelecer um paralelo com dois episódios que ladearam o Carnaval: o terremoto que abalou cidades da Turquia e da Síria, deixando um rastro de destruição e dor no dia 6 de fevereiro, e a tragédia que se abateu especialmente sobre a cidade de São Sebastião, no litoral norte paulista, no dia 19 do mesmo mês. O estampido dos prédios ruindo no Oriente Médio ou das pedras rolando sobre casas nas encostas do município praiano também ecoou em segundos nos quatro cantos do planeta, através das notícias que rapidamente dominaram todo tipo de mídia.

As populações de Gaziantep e de Aleppo, as duas cidades mais atingidas pelo sismo na Turquia e Síria, respectivamente, somam os mesmos 3,9 milhões de habitantes da região metropolitana de Salvador, casa do Olodum. A ONU solicitou ajuda financeira para mitigar a fome dos cerca de 870 mil seres humanos atingidos pelo terremoto nos dois países. Coincidentemente, esse foi aproximadamente o número de pessoas que se esbaldaram no carnaval de Salvador, segundo as Secretarias de Turismo e de Cultura do governo baiano.

Um abadá para o desfile do domingo do famoso bloco Camaleão, que arrastou quatro mil pessoas no circuito Barra-Ondina, não saiu por menos de dois mil reais nas mãos de cambistas, ágeis em estocar o disputadíssimo adereço. Com igual valor, segundo a Organização Mundial da Saúde, seria possível comprar 15 cestas básicas para os desabrigados de tragédias, alimentando ao menos 60 pessoas durante um mês.

Na naturalmente quente Salvador a temperatura oscilou na faixa dos 32 graus durante os dias de Carnaval, temperatura essa que chegou a ultrapassar facilmente os 40 graus no meio da chamada "turma da pipoca", milhares de foliões que não conseguem pagar pelo abadá e têm que acompanhar os trios elétricos fora das cordas de segurança. Na igualmente quente São Sebastião, a "corda" que separa os dois mundos do Sahy - a Vila e a Barra - é a rodovia Rio-Santos. A Vila, com suas moradias perigosamente se equilibrando nas ribanceiras, surgiu na encosta da serra, habitada por famílias pobres que buscam emprego nos condomínios de luxo fincados com toda estrutura no lado oposto da rodovia, a Barra. A Vila do Sahy escorreu morro abaixo na correnteza de lama. A Barra do Sahy, intacta, tudo assistiu de camarote.

Equipes de resgate formadas por dezenas de brigadistas e voluntários enfrentaram o frio congelante do inverno turco e sírio, assim como outras dezenas de socorristas e anônimos abnegados escavaram com as mãos centenas de metros cúbicos de pedra e lama buscando encontrar sobreviventes, mesmo sob chuva persistente e ameaçadora, numa corrida frenética e incessante, 24 horas por dia, onde cada minuto perdido pode significar uma vida a menos.

Cães farejadores de várias espécies foram deslocados, tanto para a área do desastre sísmico quanto para as de queda de barreiras, na tentativa de ajudar a localizar vítimas nos escombros. Cães treinados também são utilizados pelos órgãos de segurança para detectar entorpecentes largamente comercializados durante o Carnaval, ou bombas de atentados naquele pedaço médio-oriental do planeta onde conflitos étnicos parecem não ter fim.

O injusto mundo em que vivemos é feito de algumas coincidências, vários contrastes, mas sobretudo de muita desigualdade. Consolo e esperança é que esta passageira vida terrena é um deserto a ser atravessado para gozar das bênçãos infindáveis do reino eterno.

"Não confiem em príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem não há salvação. Sai-lhes o espírito e eles voltam ao pó; nesse mesmo dia acabam todos os seus planos. Feliz aquele que tem Deus por seu auxílio, cuja esperança está no Senhor que fez os céus e a terra. Que faz justiça aos oprimidos e dá pão aos que têm fome. O Senhor levanta os abatidos, ama os justos e ampara o órfão e a viúva. O Senhor reina para sempre. Aleluia!" (Salmo 146)

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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