PESQUISA

Reduzir estigma nas empresas diminui estresse emocional, diz pesquisa

Estudo foi realizado com 86 mil trabalhadores

Por Alana Gandra | 11/03/2023 | Tempo de leitura: 3 min
Agência Brasil

Divulgação

Segundo pesquisa, trabalhadores podem adquirir síndrome de esgotamento (burnout), além dos quadros de ansiedade e depressão
Segundo pesquisa, trabalhadores podem adquirir síndrome de esgotamento (burnout), além dos quadros de ansiedade e depressão

Pesquisa feita pelo grupo Gattaz Health&Results, que usou a inteligência artificial (IA) para diagnosticar a saúde mental de 86 mil funcionários de 30 grandes corporações do Brasil, entre as quais a Petrobras e a Vale, permite o diagnóstico de grandes populações por meio de um questionário enviado por email ou celular. As respostas têm um acerto acima de 95% de se fazer uma hipótese diagnóstica.

O programa de saúde mental implantado nessas empresas após o estudo é baseado, em primeiro lugar, em informação, explicou o diretor geral do grupo, professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Wagner Gattaz, no 39º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, promovido pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em Fortaleza.

"O passo inicial é informar para reduzir o estigma. Reduzindo o estigma, as pessoas estão dispostas a preencher o questionário e reduzir o estresse emocional", explicou. Feito isso, são encaminhadas estratégias de tratamento e, também, para promover o bem-estar e, com isso, promover a saúde mental, prevenindo distúrbios, entre os quais síndrome de esgotamento (burnout), além dos quadros de ansiedade e depressão.

Segundo o professor da USP, os resultados encontrados são diferentes da população geral. "Um achado interessante é que, na população geral, 20% das pessoas têm transtorno de ansiedade. Nos trabalhadores, são 5%", disse Gattaz.

Os estudos mostram que uma pessoa com ansiedade tem chance menor de conseguir um emprego. "Eu diria que é uma seleção natural. Não é que o trabalho diminui a ansiedade, é que quem tem ansiedade não consegue trabalho", disse Gattaz.

OUTROS RESULTADOS

Do universo de 86 mil empregados analisados, 13% foram diagnosticados com depressão grave e quase 50% com sintomas depressivos. Wagner Gattaz disse que o percentual de funcionários com depressão grave tem necessidade de tratamento. O índice é pouco superior aos 12% encontrados na população geral há 10 anos. O professor disse que o aumento ocorreu durante a pandemia da Covid-19.

O risco de uso de álcool foi encontrado em 9% dos entrevistados, o dobro do que era há 10 anos (4%). "Sabemos que, na pandemia, as pessoas passaram a beber mais, a consumir diferentes bebidas".

Outro achado importante se refere ao burnout, que é uma condição associada ao trabalho, e que afeta em torno de 20% das pessoas dessa amostra de mais de 80 mil trabalhadores. Na pesquisa anterior, que englobava a população total, o índice encontrado ficou também por volta dos 20%.

Entretanto, no estudo recente, o índice variou muito dentre as diversas atividades e, principalmente, dentre as diferentes chefias dos diversos grupos de trabalho. Segundo Wagner Gattaz, "isso remete muito a um fator protetor ao líder também".

Gattaz salientou, por outro lado, que o número de pessoas afetadas no ambiente de trabalho pelo burnout varia dentro da própria empresa e dentre as profissões. "Geralmente, o burnout é maior em pessoas que têm contato direto com o público, por exemplo, os bancários, que trabalham no caixa e nos quais o índice alcança 70%".

Em outras empresas, são encontradas áreas com baixo burnout. Isso depende muito não só da profissão e da atividade, mas também da liderança, disse Gattaz. O treinamento das lideranças faz parte do programa do grupo do professor Gattaz para reduzir o risco ambiental do burnout. O fator protetor mais forte contra o burnout consiste em promover o apoio social no ambiente de trabalho.

A Covid afetou esses números e, em especial, pessoas em home office, devido ao afastamento social, ao medo de infecção e de perder o emprego. Esses fatores aumentaram o estresse e a sobrecarga de trabalho e ampliaram também o risco de burnout. "Nós encontramos cerca de 40% a 50% em algumas áreas", informou Gattaz.

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