
A música rege sua vida
Foi por influência do pai, artista da noite em bares de Araraquara, que Paulo Maia, 46 anos, se aproximou da música, ainda na infância. E até hoje, é ela que rege a bússola de sua vida. Formado em piano pelo Conservatório de Tatuí, o maior da América Latina, Maia também é arranjador, acordeonista, maestro e compositor.
Inserido neste universo, tornou-se amigo do multi-instrumentista Hermeto Pascoal, inspiração para diversas composições do pianista, que mora em Bauru desde 2011 justamente por conta do trabalho como músico. Além de ser regente da Orquestra Del Chiaro e presidente do Conselho Municipal de Cultura, ele também lidera a banda Paulo Maia quarteto, formada pelo baixista Fernando Lima, o baterista Rael Silva e o saxofonista Matheus Maia, seu filho.
Tocou com músicos de expressão nacional, como Itiberê Zwarg, Arismar do Espírito Santo, Danilo Caymmi e o próprio Hermeto. E, em 2021, foi considerado um dos dez maiores pianistas do Estado. Da amizade com Hermeto, aliás, nasceu o álbum "Inéditas Hermeto", que reúne dez de 53 composições inéditas que o ídolo lhe deu de presente. Agora, Maia sairá em turnê com apresentações em São Paulo, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e Bauru. Este último show ocorrerá em 16 de agosto, quando será gravado um web DVD e aberta a programação do 1.º Bauru Jazz Festival.
Casado com Cristiane e pai de Matheus, Murilo e Miguel, o pianista conta, nesta entrevista, sobre sua trajetória, iniciada com o 'empurrãozinho' do pai, e toda a dedicação que empenhou até alcançar esta posição de destaque na música. Leia os principais trechos.
JC - Você vem de uma família musical?
Paulo - Meu pai era músico de bares. Meu irmão se tornou músico e, depois, foi a minha vez. Meu pai ouvia muita moda sertaneja raiz e também era cover do Raul Seixas, em Araraquara. Vim de uma família humilde. Quando tinha uns seis anos, meus pais se separaram e ele ficou com nossa guarda. Ele fazia reforma de estofados em casa e tocava nos bares à noite. E, ainda criança, eu o acompanhava. Minha história com o acordeon começou porque ele queria que a gente o acompanhasse na música sertaneja. Meu irmão já tocava guitarra e bateria e meu pai comprou um teclado, porque era o que faltava para montar a banda. Fiquei com ele até meus 17 anos, quando comecei a tocar, junto com meu irmão, em uma banda de baile chamada Falso Brilhante. Toquei teclado por nove anos lá.
JC - E como foi a transição para o piano?
Paulo - Um dia, meu irmão trouxe uma fita cassete: um lado era o show da Elis Regina no Festival de Montreux, em 1979, e o outro era o show do Hermeto Pascoal no mesmo evento. Foi o primeiro contato que tive com a música dele e fiquei muito comovido. Eu tinha 17 anos e percebi que precisava estudar para entendê-la. E, na banda de baile, o contrabaixista já estudava no Conservatório de Tatuí. Ele me indicou para um professor de piano em Araraquara, que me preparou para eu entrar no conservatório, em 2003. Na época, a música do Hermeto fervia lá, porque o baterista, o saxofonista e o pianista dele, André Marques, era professor. Estudei até 2007, quando terminei o curso como aluno deste pianista.
JC - Você acabou se tornando amigo do Hermeto. Como foi esta aproximação?
Paulo - Como fã, eu sempre ia na fila do camarim dele. E, tendo aulas com o André, tentei me aproximar da banda. Em 2000, o Hermeto lançou um livro, o Calendário do Som, com 366 partituras inéditas. E gravei tantas destas músicas, que ele ficou sabendo. Até que, em 2014, fui gravar um álbum e decidi mandar uma mensagem pedindo para ele gravar uma composição minha comigo. Ele respondeu e acabamos gravando juntos naquele mesmo ano. Desde então, sempre mantivemos contato e, em todas as turnês de aniversário dele, em junho, sou um dos convidados.
JC - Ele, inclusive, presenteou você com composições dele.
Paulo - Em toda semana de aniversário dele, ele presenteia alguns amigos. E, no ano passado, ele me mandou 53 partituras, todas manuscritas e inéditas. Fui contemplado com um financiamento do Proac (Programa de Ação Cultural) e gravei, em janeiro agora, um álbum com dez destas músicas, que serão liberadas nas plataformas digitais no dia 6 de março. Nossa intenção foi unir gerações: o Hermeto como compositor, o filho dele, Fábio Pascoal, eu e meu filho, Matheus, que também estuda no Conservatório de Tatuí, além da multi-instrumentista Carol Panesi.
JC - Por que veio morar em Bauru?
Paulo - Eu trabalhava em Ribeirão Preto, na Orquestra Del Chiaro, que é de uma empresa de eventos de São Paulo. Em 2011, o dono me convidou para montar e reger a orquestra de Bauru. Vim com esperança de que iria dar certo e deu. Com o Paulo Maia quarteto, participo de vários festivais pelo Brasil. Além disso, tenho o projeto Camjazz na rua, que surgiu no meio do caos da pandemia. Fazemos shows a cada 15 dias no Parque Vitória Régia, aos domingos. Em um Dia das Crianças, levamos o projeto ao Ferradura Mirim e percebi que 99% da garotada nunca tinha visto um instrumento musical de perto. Com isso, articulei com algumas Emeis e, a cada dois ou três meses, vou lá, voluntariamente, tocar piano digital e acordeon para os alunos.
JC - O que sentiu quando foi premiado como um dos dez melhores pianistas do Estado?
Paulo - Em 2021, recebi o prêmio Guiomar Novaes, um dos grandes prêmios de piano, concorrendo com meus ídolos. Em 2022, fiquei em 11.º lugar, o que também foi uma honra. Pensando de onde saí e onde cheguei, é muito gratificante. Fico feliz com a trajetória, em conseguir ser contemplado com o financiamento do Proac, que é um dos mais difíceis, mas me inspiro muito na humildade do Hermeto, que é imensa, mesmo ele sendo considerado um dos maiores músicos vivos do mundo.




