COLUNISTA

A Justiça Superior se chama Misericórdia

Por Dom Caetano Ferrari Bispo Emérito de Bauru | 11/02/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Do Evangelho da Missa de hoje, Sexto Domingo do Tempo Comum, Ano A, - Mt 5,17-37 - que é muito rico e apresenta muitos ditos (lógion, lógia, em grego) pronunciados por Jesus em diversas circunstâncias, vou destacar apenas o ensinamento de Jesus propondo uma justiça superior à dos fariseus, a Caridade, o Amor. Assim Ele explica: "Porque Eu vos digo, se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus" (v.20). No começo da leitura, Jesus afirma que não veio abolir a lei e os profetas, nem um "jota" nem uma "vírgula" serão tirados sem que tudo seja cumprido (v.18). E diz mais ainda que a essas leis antigas Ele veio dar-lhes "pleno cumprimento", ou seja, não as ab-roga, mas as supera pela proposta da lei do amor. Em outras palavras, como deduz o Apóstolo, com a justiça nova operada por Cristo no alto da cruz "A Caridade é a plenitude da Lei" (Rm 13,10). Então, a lei do amor é maior do que a lei da justiça legal, da letra sem espírito, é o que ensina Jesus. De fato, o que deseja é que o amor seja sem fim, sempre mais e maior. Para exemplificar, Jesus toma o mandamento "não matarás". Não se mata alguém só com uma arma, mas também com ofensas e calúnias, como quem chama seu irmão de "raca, patife, idiota", esse terá igual condenação à daquele que tirou a vida do outro com qualquer arma. Jesus dá outro exemplo. No caso do divórcio, a traição também acontece quando o homem olha para uma mulher com o desejo de possuí-la, pois já cometeu adultério no seu coração. Essa é a justiça nova, que vai além da letra da lei, a que Jesus anuncia. Uma justiça que considera prioritariamente as intenções interiores presentes no coração das pessoas. Como Deus sabe tudo e conhece o mais profundo do homem, não adianta nada alguém querer salvar-se pelo seu exterior. A Sagrada Escritura também diz que enquanto os homens julgam pelas aparências, Deus sonda "os rins e o coração". Portanto, repetindo o que Jesus disse aos discípulos, se a vossa justiça não for maior do que a dos que julgam pelas aparências, pela letra fria ou pela forma pura da lei, não entrareis no Reino dos Céus. Com este ensinamento, Jesus não pretende acabar com as leis, mas deseja tão somente combater o legalismo, o fundamentalismo, o farisaísmo. Pois, como disse em outra oportunidade, a "letra mata, o espírito é que vivifica".

O Papa Francisco na Exortação Apostólica "Amoris Laetitia" (A Alegria do Amor) convida a Igreja a ter presente exatamente essa justiça superior proposta por Jesus ao considerar notadamente a situação de crise das famílias no mundo atual e ao responder às supervenientes questões doutrinais, morais, espirituais e pastorais que essa realidade apresenta. Convém lembrar que para o Papa Francisco a justiça superior se chama "misericórdia", termo que tem significado especial no contexto do Ano da Misericórdia por ele proposto, recentemente. Naquela oportunidade o Papa nos convidou a viver o Ano Santo da Misericórdia à luz da Palavra de Deus: "Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso" (Lc 6,36), enfatizando que a Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus e de vivê-la.

Diante dos numerosos sinais de crise no matrimônio, o Papa Francisco afirma que a Igreja não ignora, ao contrário, "está consciente também da fragilidade de muitos dos seus filhos". Os filhos mais frágeis da Igreja vivem em diversas situações irregulares: união livre, matrimônio apenas civil, segunda ou mais união. Por isso, o Papa diz que a Igreja deve acompanhar, com atenção e solicitude, os seus filhos mais frágeis para dar-lhes de novo confiança e esperança. Ele diz: "Não esqueçamos que, muitas vezes, o trabalho da Igreja é semelhante ao de um hospital de campanha".

Concluindo, repito o que o Papa Francisco afirma: "A misericórdia é a plenitude da justiça e a manifestação mais luminosa da verdade de Deus". Bem em sintonia com o ensinamento de Jesus.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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