Presidente do Departamento de Água e Esgoto de Bauru, o engenheiro Marcos Saraiva trata como algo praticamente utópico a ideia de que toda residência de Bauru recebe água de maneira ininterrupta 24 horas por dia.
"Não temos água para isso", afirma, sinalizando que a distribuição contínua do líquido em Bauru não é possível. "Estamos chegando no limite de perfuração de poços", prossegue. Em grandes metrópoles como São Paulo, diz Saraiva, essa situação já é um consenso.
"A tendência mundial é que tenhamos falta de água ao longo do tempo. A Europa já sofre com isso, não há fornecimento ininterrupto de água. As grandes cidades brasileiras, também. Por isso há a necessidade de que cada residência tenha um reservatório", aponta o presidente da autarquia. O ideal, diz Saraiva, são mil litros de estoque de água a cada quatro pessoas.
A falta de água em determinados pontos costuma ser mais perceptível, admite Saraiva, quando alguma bomba de captação de água queima e precisa ser substituída - processo que muitas vezes demora. Há também situações em que a própria bomba diminui sua capacidade de produção.
"Apesar dos problemas, Bauru vai muito bem quando o assunto é distribuição de água", diz o presidente da autarquia.
O engenheiro está à frente do DAE desde 2021. Assinou decisões impopulares, como os intermináveis meses de racionamento no ano em que assumiu, e outras que merecem elogios - a exemplo da compra de 22 bombas reservas para deixar em estoque caso sejam necessárias. "Antes o DAE comprava uma ou duas, no máximo", conta.
Duramente criticado pela oposição - sobretudo na Câmara, onde os discursos repercutem mais -, Saraiva mantém uma postura neutra aos ataques. Pelo menos publicamente: claro que o presidente comenta sobre eventuais ataques em conversas mais reservadas.
Quando entra no assunto, porém, não parte para a contraofensiva. Costuma dizer que os problemas são muito mais complexos e que as críticas caminham "pelo lado fácil". "É cômodo dizer que a solução para o DAE é privatizá-lo", disse Saraiva durante a entrevista ao JC, concedida no espaço Café com Política, na quarta-feira (1).
Barata na comparação com outras concessionárias de distribuição hídrica, a tarifa do DAE "poderia ser melhor", diz o presidente. Segundo ele, os sucessivos anos sem reajuste da conta prejudicou a autarquia. "Já fizemos uma conta que aponta para uma perda financeira de 36% em média pela defasagem da tarifa", explica. Mas o reajuste dos últimos dois anos deve oferecer alívio. "Não é o ideal, mas nos dá o mínimo de capacidade de investimento", aponta.