
Discrição talvez seja a palavra que mais facilmente defina o médico Orlando Costa Dias. Ele admite ser tímido, particularmente, mas o cargo de vice-prefeito o tem tornado cada vez mais maleável. "É diferente quando você é reconhecido na rua pela função que ocupa", afirma.
Especializado em ortopedia, Orlando diz que a política sempre esteve em sua vida - ainda que em segundo plano. Mas ingressar no setor e lidar com tudo o que envolve a máquina pública tem sido um período desafiador.
Vice-prefeito atuante, ele já foi secretário de Saúde no auge da pandemia e presidiu a Fundação Estatal Regional de Saúde de Bauru (Fersb). Mas adotou uma postura diferente depois das eleições de 2022, quando se candidatou a deputado federal e acabou não sendo eleito: a discrição.
Há quem nem o veja na prefeitura, mas ele garante que vai ao Palácio das Cerejeiras praticamente todos os dias. "Atendo em vários dias da semana das 9h até o horário de almoço", explica.
Quando há decisões importantes a serem tomadas, revela o vice, ele e a prefeita se reúnem nas Cerejeiras ou na residência de um dos dois para discutir o assunto. "Não me distanciei do serviço público", garante.
Orlando presidiu a Fersb durante cerca de seis meses. Acredita ter feito um bom trabalho. O mesmo vale ao período enquanto secretário de Saúde. "Sou especializado em ortopedia, mas naquela época me debrucei sobre infectologia", lembra. "Devo ter envelhecido uns cinco anos em um".
Críticas à parte, ninguém pode negar a relação de lealdade que o vice mantém com a prefeita Suéllen. Ele chegou a dizer que renunciaria ao cargo caso a mandatária acabasse cassada pela Comissão Processante (CP) que tentou responsabilizá-la pela compra dos imóveis para a Secretaria de Educação - medida que acabou rejeitada pela maioria dos vereadores.
Hoje, afirma Orlando, sua postura seria exatamente a mesma. "Entramos juntos e, se preciso, sairemos juntos". O mesmo não ocorre com uma eventual candidatura à reeleição como vice-prefeito. "Tenho que pensar", resume, em tom de mistério.
O vice acredita que a disputa à reeleição, sobre a qual Suéllen evita falar, seja o caminho natural para a prefeita.
Mas talvez não para ele. "Preciso conversar com minha família. O cargo exige muita participação e talvez eu esteja numa idade em que queira passar mais tempo com minha esposa, meus filhos", aponta.
Orlando também diz que o cenário em 2024 talvez não abrigue uma "chapa pura" na disputa à prefeitura, como aconteceu quando ele e Suéllen foram eleitos. "Pode ser que a prefeita prefira uma composição partidária maior", sinaliza.
Há também a questão profissional. Ele se afastou do consultório médico quando foi titular da Saúde de Bauru e percebeu uma queda no número de pacientes. Agora, que é apenas vice-prefeito, consegue se dedicar mais ao ofício.
DESGASTE?
Orlando admite que a política pode causar desgaste em relações pessoais. Sua família, porém, o surpreendeu. "Todos me apoiam. E um dos meus filhos sempre me sugere projetos para implementarmos em Bauru", conta.
Claro que nem tudo são mil maravilhas. Mas decepções não parecem ter feito parte da rotina do médico desde que assumiu a vice-prefeitura.
Ele revela, por exemplo, ter sido traído uma única vez. Sem dar nome a ninguém, Orlando se limita a dizer que a situação aconteceu na Comissão Processante e envolveu "uma pessoa que se comprometeu com a gente e mudou no último momento".
Foi um recado velado ao vereador Pastor Bira (Podemos), até então integrante da base do governo e cujo voto foi decisivo para permitir a abertura da CP que quase cassou o mandato de Suéllen.
Mas houve momentos difíceis. Especialmente na pandemia, quando leitos de UTI não davam conta da quantidade de pacientes precisando de atendimento de tratamento intensivo.
Na época, para piorar, Bauru sofria um desgaste no governo estadual diante de atritos públicos entre Suéllen e o então governador João Doria (PSDB). "O governador poderia ter agido diferente. A prefeita chegou a ir até São Paulo e não foi recebida. Um absurdo".
Ele refuta as críticas, vindas especialmente da oposição, de que a prefeita se utiliza do gerúndio - como "estamos analisando", por exemplo - sempre que não há uma resposta prática a determinado problema.
"Veja bem. A nova via aberta na Praça Portugal era algo que precisava ser feito. E nós fizemos. A [avenida] Afonso Aiello foi duplicada. A Getúlio Vargas está bem melhor. E a falta de água que tivemos no ano passado, por exemplo, foi mínima. Nós estamos fazendo. E muito", aponta.
O vice admite, no entanto, que a Suéllen de hoje é bem diferente da que assumiu a prefeitura em 2021. "É um processo de amadurecimento", explica. Orlando acredita que ajudou neste crescimento - "uma via de mão dupla" nas palavras dele, até porque ele admite ter aprendido muito com a prefeita. "Não só com ela, como também com a família dela", afirma.