Brincadeiras durante a infância no mar, em rios, lagos, lagoas ou cachoeiras têm impacto positivo no bem-estar e na saúde mental na fase adulta. É o que conclui estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Exeter, na Inglaterra, após análise de dados coletados em 18 países, segundo reportagem da Agência Einstein. Os resultados do trabalho foram publicados no Journal of Environmental Psychology.
Os potenciais benefícios para a saúde por meio do contato com espaços verdes (como parques, bosques e jardins) já são conhecidos há alguns anos pela ciência, mas esse é um dos primeiros estudos a investigar o impacto de ambientes com água e demonstrar a importância desse contato desde a infância. A primeira publicação a chamar a atenção sobre os benefícios da natureza é de 1984. A pesquisa analisou pacientes que estavam internados e comparou a recuperação entre aqueles que tinham vista para áreas verdes com a de quem não tinha. O trabalho demonstrou que os que podiam observar a paisagem requisitavam menos analgésicos e ficaram menos tempo internados em comparação com os demais.
Nos últimos cinco anos, foram publicados outros estudos sobre o assunto. Entre as hipóteses para explicar os benefícios do contato com espaços naturais com água na infância está a criação de uma experiência positiva e de uma memória afetiva, que possivelmente fará a pessoa frequentar esses lugares mais vezes ao longo da vida.
"Isso acaba reforçando o bem-estar percebido na infância e isso por si só favorece a saúde mental porque aumenta a satisfação com a vida", explicou Eliseth Leão, líder do grupo de Estudos Interdisciplinares sobre a Conexão com a Natureza, Saúde e Bem-Estar do Centro de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein.
Segundo ela, ambientes naturais auxiliam na regulação das emoções e no gerenciamento dos processos de estresse, além de favorecer o desenvolvimento cognitivo infantil, com consequente aumento de massa cinzenta no córtex pré-frontal. "Esse é um fator protetor de depressão, uma vez que estudos demonstram que essa área cerebral está relacionada com essa condição", disse.
Os autores do estudo inglês apontam que esses espaços naturais têm qualidades sensoriais únicas - como o reflexo da luz na água, o movimento das ondas do mar e os sons produzidos - , além de permitirem atividades como pesca, natação e outros esportes. De acordo com Eliseth, seja mar, lago ou cachoeira, todos desencadeiam emoções positivas que aumentam a sensação de bem-estar.
"Tivemos oportunidade de observar isso com um estudo com banco de imagens fotográficas, que validamos para potencial uso em ambientes clínicos e pesquisas sobre o tema. Percebemos que cada elemento da natureza tem o potencial de trazer uma emoção diferente para as pessoas", destacou.
E NOS ADULTOS?
Nos adultos, a sensação de paz é resultado de alterações moleculares no corpo. De acordo com pesquisas, as ondas do oceano produzem íons negativos que aceleram a capacidade do corpo de absorver oxigênio e equilibram os níveis de serotonina, proporcionando sensação de bem-estar e auxiliando contra depressão e ansiedade.
Por outro lado, o barulho do mar traz memórias profundas, sentimentos de relaxamento e de segurança, funcionando como um calmante para pessoas que sofrem de estresse.