Anodontia Parcial: não se formam alguns dentes

Por Alberto Consolaro |
| Tempo de leitura: 3 min
Professor Titular pela USP e Colunista de Ciências do JC
Reprodução
Anodontia parcial bilateral em incisivos laterais superiores e suas consequências estéticas e funcionais.
Anodontia parcial bilateral em incisivos laterais superiores e suas consequências estéticas e funcionais.

Nos dentes se chama anodontia parcial, que os europeus preferem chamar de hipodontia. A não formação de dentes pode ser uma alteração genética hereditária em quase todos os casos. Só não é congênita porque não está presente na hora do nascimento; congênita significa “nascido com”. O termo agenesia é genérico para ausência de formação de qualquer órgão como rim, baço e outros.

A anodontia parcial envolve um ou vários dentes e, raramente, todos os dentes estão ausentes quando se chama anodontia total, fazendo parte da síndrome Displasia Ectodérmica Hereditária.

Em duas situações, um fator externo pode eliminar os germes dentários nas crianças. Germes são dentes ainda em formação na fase intraóssea. Uma situação é a radioterapia nos maxilares de crianças com neoplasias malignas, o que impede o germe se desenvolver. A outra situação pode ocorrer nas cirurgias para a remoção de tumores benignos ou malignos e que pode remover alguns germes.

FREQUÊNCIA

A anodontia parcial ocorre em até 35% de algumas populações. Nos dentes do siso ou terceiros molares ela nem é considerada nos levantamentos pela sua elevada frequência. Ela pode afetar de um até os quatro sisos, o que só é determinado em radiografias, pois muitos estão intraósseos.

Nos europeus, os dentes mais envolvidos são os pré-molares inferiores e superiores. Nos estadunidenses, são os incisivos laterais superiores, enquanto nos orientais, especialmente nos japoneses, são os incisivos centrais inferiores. Nos brasileiros, pela miscigenação, cada região pode ter um ou outro dente mais afetado, dependendo da origem da população.

CONSEQUÊNCIAS E TRATAMENTOS

A anodontia parcial dos incisivos laterais superiores atinge a estética do sorriso com os dentes espaçados, atrapalhando a fonação e oclusão dos dentes. O incisivo lateral superior decíduo está presente e com isto, se descobre tardiamente a anodontia parcial do permanente.

Na anodontia parcial de pré-molares, a oclusão alterada se descobre tardiamente e os dentes vizinhos se deslocam indevidamente. A persistência do dente decíduo dura pouco, pois ocorre infra oclusão, anquilose e reabsorção por substituição, inevitavelmente.

O tratamento da anodontia parcial varia de caso para caso e os profissionais envolvidos devem trabalhar harmoniosamente no momento do diagnóstico, que deve ser o mais precoce possível e na cronologia do plano de tratamento. Estão envolvidos o odontopediatra, ortodontista, implantodontista e esteticista, entre outros.

A anodontia parcial pode ser uni ou bilateral e envolver vários dentes, devendo-se avaliar os familiares para diagnósticos precoces, tratamentos e orientação. O profissional da odontologia está preparado para acolher os casos e promover o tratamento harmonioso no contexto de uma equipe de especialistas. Os pais devem consultar os odontopediatras para checar, com imagens, se os filhos têm anodontia parcial e se houver, que se faça o diagnóstico preciso e um plano de tratamento de acordo com a cronologia da erupção dentária.

REFLEXÃO FINAL

Os dados de análises dos crânios mais antigos dos nossos ancestrais, não nos permitem dizer que o número dentes humanos está se reduzindo, pois isto é apenas opinativo. Forma e número de dentes no homem moderno são semelhantes aos ancestrais. Para explicar a causa da anodontia parcial, especialmente aos pacientes e famílias, justifique-a como uma das variações fenotípicas da raça humana transmitida de forma hereditária, via modificações genéticas e sem relação com qualquer fator externo. Mais do que isso, cairemos no campo das especulações!

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