Bauru terá mais três escolas em período integral, a partir de 2023, conforme anunciou a Secretaria da Educação do Estado. O governo ressalta os benefícios do Programa Ensino Integral (PEI) e destaca que ele reduz a evasão escolar. O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), contudo, diz exatamente o contrário. Para a entidade, a alteração representa um prejuízo aos alunos e aumenta o índice de abandono das salas de aula.
Essas três unidades de Bauru fazem parte de um pacote divulgado neste mês que muda o atendimento de 261 escolas em todo Estado. Na cidade, serão transformadas em ensino integral as unidades Guia Lopes (Conjunto Habitacional Presidente Eurico Gaspar Dutra), Plínio Ferraz (Vila São Francisco) e Professora Vera Campagnani (Jardim Redentor).
Com isso, Bauru, que tem 16 escolas em ensino integral, passará a contar, segundo o Estado, com 19 neste modelo (veja a lista no quadro ao lado).
De acordo com a pasta, o número de vagas de ensino integral passou de 115 mil para mais de 1,2 milhão. E o PEI, complementa o governo, tem sido um aliado para a redução da evasão, já que, nas escolas estaduais de período integral, a taxa de evasão foi 10,6 % menor se comparada às unidades regulares.
A Apeoesp, no entanto, questiona os benefícios. De acordo com o coordenador da entidade em Bauru, o professor Marcos Chagas, o período integral tem justamente causado a evasão de alunos que, para poderem trabalhar e complementar a renda da família, estudam à noite. Assim, eles não teriam condições de ir às aulas por um período maior.
A situação, segundo Chagas, estaria obrigando estes alunos a estudarem em unidades distantes de casa ou mesmo abandonarem as aulas. "Escolas regulares, que atendiam 300 ou 400 alunos no ensino médio, atendem, hoje, 50 no integral. Grande parte dos alunos não pode ficar na escola, seja por trabalho ou para cuidar dos irmãos. Essa mudança faz com que eles tenham que se deslocar para locais mais longes e alguns, simplesmente, deixam de estudar", lamenta.
Como exemplo, Chagas cita as escolas Irmã Arminda Sbríssia e Tangarás. "Elas atendiam um público muito maior e, hoje, está bem menor. Parte deste público foi para outras escolas e parte sumiu da rede".
Outro exemplo da dificuldade que a mudança traz é de um aluno que frequenta a Escola Stela Machado, onde o coordenador local da Apeoesp dá aulas. Esse jovem, conta Chagas, tem percorrido cerca de 14 quilômetros na ida e na volta entre os bairros Ouro Verde, onde reside, e a Vila Pacífico, onde estuda. "Desde que o pai morreu no começo do ano, ele passou a trabalhar de dia e a estudar à noite. O problema é que as escolas mais próximas não oferecem curso noturno, e a família não tem recursos para pagar ônibus", conclui.