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Lanchódromo

Redação
| Tempo de leitura: 5 min

Proprietários revindicam ação do poder público no Lanchódromo

Proprietários reivindicam ação do poder público

Abandono. Essa é a palavra que resume o sentimento dos trabalhadores da economia informal que atuam no Lanchódromo. Os entrevistados mostraram-se dispostos a cumprir qualquer tipo de obrigação junto à Prefeitura, mesmo o pagamento de taxas, desde que tenham, como contrapartida, uma atenção maior com relação à infra-estrutura e à segurança, além de condições dignas de higiene. "Isso aqui parece uma favela", disse uma das entrevistadas, que preferiu não se identificar.

Quanto à limpeza, as pessoas ouvidas pela reportagem do JC confessaram estar cansadas de fazer dedetizações para afastar roedores e baratas, principalmente. "Não adianta fazer numa barraca só. Isso tinha que ser exigido pela Prefeitura. O jeito é ficar limpando o tempo inteiro".

Outra questão complicada para os barraqueiros é conseguir cooperação mútua. Isso porque o entra-e-sai é muito grande, ou seja, barracas são vendidas e arrendadas todo o tempo. Vera Lúcia Binato, que vem realizando uma série de melhorias em sua barraca, encara o empreendimento como uma espécie de microempresa.

"O problema do Lanchódromo é de todos, mas cada um se vira como pode. A gente sabe que uma hora ou outra o prefeito pode chegar aqui e falar 'eu vou mudar para outro lugar'. Mas esperamos que não, que ele dê condições para que as pessoas continuem aqui. Enquanto isso, como o cartão de visita é aparência, a gente vai investindo", afirmou.

Mesmo com pouca união, as raras benfeitorias que conseguiram foram todas por conta própria, como o banheiro, a instalação de água e esgoto, de acordo com os entrevistados. Para transmitir um pouco mais de segurança aos clientes, chegaram a contratar um segurança, por pouco tempo, porque nem todos concordaram em pagar pelo serviço.

Aliás, com relação à segurança, a opinião dos barraqueiros coincide com a da polícia: violência há, mas como em qualquer outro lugar. O problema, segundo eles, é que não se faz uma distinção do local em que ocorrem os fatos. "É sempre o Lanchódromo, nunca é especificado o lugar exato do fato. O assassinato

(ocorrido no ano passado), por exemplo, foi fruto de uma briga em outro lugar que acabou sendo resolvida aqui".

Embora esteja difícil conseguir clientes novos, é sempre possível contar com os estudantes, famílias, profissionais liberais, sempre fiéis a suas barracas preferidas. O pessoal garante a qualidade. "Você chega aqui e tem várias opções. Quando dá uma olhada em volta logo percebe o tipo de público e o perfil do barraqueiro.

É só saber diferenciar e parar onde se sentir melhor", aconselhou Vera.

Ação emergencial

O Lanchódromo começou a ser formado em 1990, na primeira administração de Izzo Filho. A área ocupada por ele foi desapropriada para a construção de um viaduto que iria cruzar a avenida Nações Unidas, passando a ser propriedade da Prefeitura. Essa obra nunca foi levada a cabo.

A Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru

(Emdurb), por sua vez, solicitou ao Poder Público a desocupação da Praça do Líbano (localizada na avenida Nações Unidas, quase divisa com Rodrigues Alves), para utilizá-la como parada de ônibus. Como no local existiam algumas barracas de lanches, foi determinado à Seplan que montasse um projeto de modo que os ambulantes que ali trabalhavam passassem a ter um ponto fixo onde atualmente está o Lanchódromo. Também algumas outras barracas espalhadas pela cidade foram encaminhadas para lá.

No projeto constava uma padronização dos pontos de venda, que seriam feitos de fibra, com espaço determinado entre eles, ponto de água, de esgoto, energia elétrica, banheiros, playground, lavatórios, dentre outras benfeitorias que não existiam nas instalações anteriores. O problema é que o projeto original nunca chegou a ser executado e a Praça do Lanche, como ficou conhecida a princípio, foi instalada apenas sobre asfalto. Detalhe: esse projeto era de caráter temporário, não permanente.

O arquiteto da Seplan, Luciano Martinez Sciuri, que trabalhou no projeto, afirmou não ter existido um planejamento de atividades por parte da Prefeitura, embora o projeto existisse.

"Foi uma solução emergencial para desocupação da praça, o que acabou atrapalhando", explicou.

A secretária do Planejamento, Maria Helena Rigitano, segue a mesma linha de raciocínio. "Na hora de implantar tudo o que havia sido combinado com os ambulantes e com o Sindicato dos Hotéis, Restaurantes e Similares, ao qual eles eram vinculados, a Prefeitura não fez a parte dela. Quando digo Prefeitura quero dizer o Gabinete. A Secretaria de Obras, talvez por falta de tempo, não cumpriu com a infra-estrutura necessária. Então, eles mudaram apenas com asfalto e iluminação".

Seplan considera Lanchódromo prioridade

Texto: Adriana Rota

Comerciantes e poder público mostram-se propensos a eliminar a imagem negativa do lugar

A organização do Lanchódromo é uma prioridade para a Secretaria Municipal do Planejamento (Seplan), segundo a titular da pasta, Maria Helena Rigitano. O local, que acabou ficando com uma imagem negativa perante os bauruenses devido a alguns crimes registrados por lá e por problemas de higiene, já começou sua história de modo equivocado.

Hoje, os proprietários lutam para conquistar novos clientes e a Prefeitura mostra-se inclinada a estudar o caso com mais profundidade. De acordo com a secretária, antes do Lanchódromo entrar em funcionamento, foi feita uma permissão de uso para cada barraca, que não poderia ser negociada.

Mas não foi possível manter o controle e a Prefeitura acabou não interferindo mais. "Na época, por questões políticas, talvez, determinou-se que não era mais para continuar interferindo. Hoje, eu sei dizer que nós perdemos o controle. Não sabemos mais quem está instalado lá".

Ela disse, ainda, que existe um plano mais ou menos elaborado de regulamentação, mas considera essa questão polêmica demais para conseguir colocá-lo em prática de uma vez. "Quando você vai fechar por falta de higiene, tirar alguém porque está inadequado, sempre mexe com questões políticas: alguém que conhece um vereador, por exemplo, e interfere de alguma forma politicamente".

Maria Helena salienta ser esta uma das questões que mais preocupam e, por isso, uma das prioridades da Seplan. "Num primeiro momento, a idéia é nos reunirmos com o pessoal da Secretaria do Bem-Estar Social (Sebes), da Saúde, do Departamento Jurídico da Prefeitura, da Receita Federal, com vereadores e com os trabalhadores da economia informal. Não vamos fazer uma coisa técnica sem ouvi-los".

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