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Exumação

Fábio Grellet
| Tempo de leitura: 5 min

Corpo do cantor João Paulo é exumado

Corpo do cantor João Paulo é exumado

Texto: Fábio Grellet

Ossos e dentes do cantor foram recolhidos, para teste de paternidade exigido judicialmente por modelo de Goiânia, que diz ter um filho dele

Brotas - O corpo do cantor sertanejo José Henrique dos Reis, o João Paulo, parceiro de Daniel e morto durante um acidente de carro, em setembro de 1997, foi exumado (retirado do túmulo) ontem, para que fossem colhidos fragmentos, como ossos e dentes, suficientes para se fazer exame de DNA e determinar a composição genética do cantor. João Paulo está enterrado no Cemitério de Brotas. A exumação foi autorizada pelo juiz de direito Ettore Geraldo Avólio, que atua na comarca de Brotas, em decorrência de uma ação de reconhecimento de paternidade movida pela modelo Renata Cristina Mendes do Nascimento, 25 anos, que mora em Goiânia e afirma que João Paulo

é o pai de seu filho Daniel Henrique Ribeiro Mendes, nascido há um ano e três meses. O resultado final dos exames deve ser divulgado em aproximadamente três meses. Se for confirmada a paternidade, além de poder incluir o sobrenome do pai em seu próprio nome, no registro de nascimento, Daniel terá direito a 25% dos bens deixados por João Paulo. Metade do que ele tinha cabe à viúva, Roseni Barbosa dos Santos Reis, e os 25% restantes são de Jéssica Renata dos Reis, que é filha do cantor com Roseni e tem oito anos.

O perito oficial (indicado pelo Poder Judiciário), responsável por recolher o material e realizar o exame, é Eduardo Darugi, que trabalha na Faculdade de Odontologia mantida pela Unicamp

(Universidade de Campinas) na cidade de Piracicaba. Além dele, as partes envolvidas na ação (a modelo goiana, como autora, e a viúva, como representante do espólio, isto é, do conjunto de bens deixados como herança) também contrataram peritos assistentes, que acompanharam a exumação, receberam parte do material recolhido e vão examiná-lo, realizando seus próprios testes. A princípio, porém, apenas um laudo, produzido pelo perito oficial, será divulgado. Caso alguma das partes, com base nos próprios exames, discorde do resultado alcançado pelo perito oficial, formula e apresenta seu próprio laudo, cujas diferenças em relação ao documento feito pelo perito oficial serão discutidas. Os professores da Unicamp Badan Palhares e Wálter Pinto Júnior são os peritos contratados pela modelo goiana.

Transcorrer da exumação

Os peritos chegaram a Brotas por volta de 11h30, quando se reuniram com o juiz Éttore Avólio, no Fórum da cidade. Por volta de 12h25, encerraram a reunião e seguiram para o Cemitério, que estava cercado por aproximadamente 50 policiais. Às 12h40, eles entraram no cemitério, que permaneceu fechado ao público e mesmo à imprensa. Além dos peritos, advogados das partes e familiares acompanharam a exumação. Pelo menos 20 alunos do curso de Odontologia da Unicamp em Piracicaba também tiveram acesso ao túmulo. Por volta de 13h15, o caixão foi retirado da cova e levado para uma sala do cemitério, previamente preparada para a atividade. Lá, ele foi aberto e os ossos e dentes, recolhidos. Toda a ação foi fotografada, filmada e descrita, por escrito, pelos profissionais e estudantes presentes. À sala onde houve a abertura do caixão, porém, só tiveram acesso oito pessoas, segundo informou um funcionário do cemitério.

Após a retirada dos ossos, que foram guardados em caixas de isopor, o caixão foi fechado e recolocado no túmulo. Eram 14h20 quando o coveiro começou a cimentar o túmulo, fechando-o. Foram usados 280 tijolos e o serviço demorou pouco mais de meia hora. O material recolhido foi dividido. Uma parte dele seria levado para Piracicaba, onde vai ser avaliado pelo perito oficial. Outra parcela vai ser examinada em Campinas, onde fica o laboratório dos peritos contratados pela autora da ação, e a última vai para São Paulo, onde trabalha o perito que presta serviços à viúva.

Conforme o perito oficial, a exumação poderia ter sido evitada se os familiares de João Paulo concordassem em doar sangue, para exames com base nos quais poderiam ser definidas suas composições genéticas, para comparação com a constituição genética da autora da ação e de seu filho. Darugi explicou, porém, que, no dia 22 de julho, a mãe de João Paulo, a viúva dele e sua filha Jéssica foram convidadas, mediante ofício judicial, a doar sangue para os exames, mas se recusaram. Diante dessa negativa e da necessidade de se obter uma prova objetiva sobre a suposta paternidade, o juiz Avólio determinou a exumação, que não foi acompanhada pela viúva nem pela autora da ação. O parceiro de João Paulo, Daniel, cuja família mora em Brotas, também não foi ao cemitério. Entre os familiares do cantor falecido, três de seus quatro irmãos (Francisco, Rubens, Saturnino e Roque) acompanharam a exumação.

Uma das principais fontes de material genético a serem usadas no caso são os dentes de João Paulo. Mas também foram recolhidos vários ossos: os dois úmeros

(osso que liga o cotovelo ao ombro), as duas clavículas, os fêmures e o osso sacral. Esse material sofrerá um tratamento e, a partir dele, vai ser determinada a composição genética do cantor. Também a constituição dos genes da modelo vai ser formulada, e combinada com a de João Paulo. A paternidade será comprovada se a composição genética do suposto filho for compatível com qualquer das possíveis combinações entre os genes de João Paulo e de Renata Nascimento. O teste é plenamente confiável, conforme os peritos.

Segundo Darugi, o fato de João Paulo ter morrido queimado poderia prejudicar o exame, caso fosse pequena a quantia de material não afetado pelo fogo e, por isso, em condições de ser utilizado. Mas os ossos e dentes estavam em plenas condições de serem examinados e conduzir a um resultado confiável, conforme ele.

No próximo dia 25, a modelo goiana e seu filho vão comparecer à Unicamp, em Piracicaba, para retirar o sangue que será usado nos exames.

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