35 meninos de rua já passaram pela Gilgal
Texto: Ieda Rodrigues
Mais da metade dos meninos que vivem nas ruas de Bauru, incluindo autores de pequenos delitos e dependentes de entorpecentes, já passou pela Gilgal - Centro de Recuperação e Reintegração de Menores. Os menores estão sendo abrigados na entidade, para recuperação, graças a um convênio firmado entre o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescentes, Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes) e Gilgal.
Desde o início do programa de recuperação, no final do último mês de julho, 35 menores já passaram pela Gilgal. O convênio é para atender 20 meninos simultaneamente até que estejam recuperados, período que pode chegar a nove meses. Nenhum dos abrigados já recebeu alta, mas como têm sido registradas várias fugas, outros meninos têm ocupado a vaga daqueles que fogem da entidade.
As fugas têm sido o maior problema do programa, segundo a presidente do Conselho Tutelar de Bauru, Débora Cristina Fonseca. No entanto, ela explicou que, numa avaliação geral, os resultados têm sido bons e que já era esperado esse comportamento apresentado por parte dos menores, principalmente daqueles que são dependentes de algum tipo de entorpecente.
Nos primeiros dias de abstinência da droga, a tendência
é os menores tentarem fugir, apesar de estarem em ambiente fechado - a Gilgal tem muros altos e os abrigados não têm liberdade para sair da entidade. A maioria dos meninos abrigados têm dependência de drogas, de acordo com o Conselho Tutelar.
No último final de semana, segundo Débora, foram abrigados oito meninos enquanto quatro fugiram. Ela disse, porém, que já houve casos de meninos que fugiram da Gilgal procurarem o Conselho Tutelar e pedir para retornar à entidade. A presidente do Conselho explicou que passados 15 ou 20 dias na entidade a probabilidade do menino tentar fugir vai caindo.
Maria Moreno Perroni, presidente do Conselho da Criança e do Adolescente, também acha que o programa de recuperação dos meninos de rua de Bauru está dando certo. Na festa
"Domingo Sapeca", promovida pelo órgão, no último domingo no Recinto Mello Moraes, quatro abrigados participaram das atividades e não causaram nenhum problema.
Pelo contrário, eles ajudaram na festa, acordo com Maria Perroni. Os resultados, de fato, só serão conhecidos daqui a alguns meses. A previsão é que o menino dependente de droga precise de seis a nove meses de internação para ser recuperado.
Quando estiverem recuperados, os meninos devem ser devolvidos
às suas famílias. Por isso, enquanto estiverem em tratamento, a Gilgal deve fazer contato com as famílias e prepará-las para receber os meninos de volta, segundo explicou Débora Cristina Fonseca. No período de internação, o menor, acompanhado por monitores da Gilgal, visita sua família quinzenalmente.
Pesquisa
A prioridade para o abrigo foi dada para os menores que moram nas ruas, que não têm ligação com suas família. Em seguida, havendo vagas, são abrigados os meninos que têm contato com suas famílias, mas ficam nas ruas e freqüentemente estão envolvidos em delitos e drogas.
Pesquisa feita pela Faculdade de Serviço Social da Instituição Toledo de Ensino (ITE) no início deste ano revelou que Bauru tem 67 menores de rua, sendo 12 que moram nas ruas. A presidente do Conselho Tutelar disse que todos meninos que moram na rua, pelo menos uma vez, já passaram pela Gilgal.
Convênio
Pelo convênio assinado entre o Conselho dos Direitos da Criança e Adolescente, Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes) e Gilgal, 20 meninos de rua podem ser abrigados simultaneamente na entidade, em regime de internato. O tratamento
é pago pelo Conselho da Criança, que desembolsa R$ 10,00 por dia por menor abrigado.
A Sebes, por sua vez, emprega R$ 7 mil por mês para pagar funcionários e, assim, aumentar o quadro de profissionais da Gilgal. A entidade, localizada no Jardim Cruzeiro do Sul, atua na recuperação de dependentes químicos há muitos anos e oferece um leque grande de atividades aos abrigados.
(IR)
Tratamento dos meninos de rua depende da campanha do Imposto de Renda
Avaliando como positivo o programa para os meninos de rua, a presidente do Conselho da Criança e Adolescente, Maria Moreno Perroni, está preocupada com a probabilidade do órgão não ter dinheiro para continuar pagando o tratamento dos menores. Ele ressaltou que cada menor abrigado custa R$ 10,00 por dia.
Com uma média de 20 internados, no final do mês, o Conselho da Criança deve à Gilgal R$ 6 mil. A conta é paga com a verba do Fundo Municipal da Criança e Adolescente, proveniente da destinação do Imposto de Renda - 1% do imposto por parte das empresas e 6% por parte das pessoas físicas.
Por isso, Maria Perroni apela à população para que participe da Campanha do Imposto de Renda. "A população pode e deve ajudar. Não é doação.
É uma contribuição que é deduzida do Imposto de Renda. Todo mundo tem direito a fazer essa dedução desde que tenha imposto a pagar', explicou.
A festa "Domingo Sapeca", promovida pelo Conselho da Criança no último domingo, não deu o retorno financeiro esperado. Foram arrecadados R$ 8,5 mil e as despesas, apesar dos patrocínios e doações de várias entidades e empresas, ficaram em torno de R$ 3,5 mil, segundo Maria Perroni. Um dos objetivos da festa era arrecadar fundos para instalar um programa para atender as meninas de rua de Bauru.
No entanto, segundo a presidente do Conselho, ressaltou que o outro objetivo da festa, o de promover a cidadania, foi amplamente alcançado. "Foi um dia de cidadania para crianças, com tudo aquilo a que elas têm direito: brincadeiras, alimentação, contato com suas famílias, atendimento odontológica e oftalmológica, documentos, etc,", disse.
Verba do Estado é esperada para programas para meninas
Os meninos de rua e envolvidos em delitos de Bauru são abrigados na Gilgal, mas não há entidade credenciada para receber as meninas nessas mesmas situações. A presidente do Conselho da Criança e Adolescente de Bauru, Maria Perroni, que também é diretora da Secretaria Estadual de Assistência Social, disse que está aguardando uma verba do Estado para firmar um convênio para atender as meninas semelhante ao da Gilgal.
A festa "Domingo Sapeca" foi realizada para formar um fundo para implantar um programa de atendimento às meninas de rua. Atualmente, em caso de extrema necessidade, o Conselho da Criança envia essas meninas para entidades da região, mas paga muito caro pelo atendimento. Maria Perroni espera que, já no próximo mês, consiga firmar convênio com uma entidade de Bauru para o atendimento em regime de internato dessas meninas.
Para mostrar a necessidade de um programa para as meninas de rua, Maria Perroni relatou um caso ocorrido anteontem. Duas meninas e três meninos de rua, que estavam em uma casa abandonada, foram encaminhados ao Conselho Tutelar por ordem judicial para serem abrigadas. Os meninos foram abrigados na Gilgal, mas as meninas, na falta de uma entidade que as recebessem, foram encaminhadas para pernoite no Albergue Noturno.
Ontem, elas deveriam ser abrigadas em uma entidade da região,
às custas do Conselho da Criança. No entanto, as meninas, de 16 e 17 anos, fugiram do albergue na mesma noite.