Por que eles olham para trás?
Texto: Gustavo Cândido
É quase uma regra inconsciente: todo homem olha para trás quando uma mulher de corpo bonito passa por ele. O objetivo, "verificar melhor" as nádegas da escolhida. Talvez a frase seja um exagero e nem todos os homens façam isso (quem sabe, só 95%) mas em uma opinião todos concordam: o bumbum
é parte do corpo da mulher mais admirada pelos brasileiros.
"... Seu traseiro, ornado de diversas covinhas, era tão notável e abençoado que a jovem não podia movê-lo à vontade, visto que ele tremia por sua própria natureza, como coalhada na tigela de marmelo no meio da bandeja perfumada com benjoim." O texto é parte da "História Esplêndida do Príncipe Diamante", dos "Contos das Mil e Uma Noites", de origem árabe que possui mais de mil anos.
Desde que o mundo é mundo, o bumbum ativa os sonhos masculinos, mas no Brasil parece que ativa ainda mais. "Brasileiro que
é brasileiro não foge à regra", diz o vendedor Ricardo Silva, 22 anos. Segundo Silva, é "irresistível" não olhar para trás para checar se a mulher tem ou não um bumbum bonito de verdade. "É o ponto fraco, mesmo o homem sendo leal, ele tem que olhar. Homem que se preza, olha", define Silva. Mas apesar de adepto da tradicional
"olhadinha", ele não sabe explicar porque o brasileiro faz isso, "isso é inexplicável, acho que vem desde os primórdios", palpita.
"Não sei porque o homem olha, mas sei que mulher ser bunda é muito feio", sentencia o estudante Eduardo Lobo, 23 anos. Para ele a mulher perfeita tem que ter as formas harmoniosas, o que significa, no seu ponto de vista, ter seios fartos, mas não exagerados e um bumbum redondo e bonito, mas também sem ser "gigante". "Acho que se o quadril for um pouquinho mais largo do que o normal, como o das brasileiras, é o perfeito", diz.
A explicação do servente David Ap. da Cruz Santos
é a moda, "essas roupinhas de hoje deixam o corpo da mulher ainda mais deslumbrante... a gente tem que olhar porque tem umas bundinhas 'da hora'", afirma bem-humorado. Já o estoquista José Mário Alves Júnior é mais sincero: "acho que o homem olha porque é safado mesmo", decreta.
Mistura de raças
Mas afinal, qual a mística que faz dessa parte do corpo da mulher a rainha das fantasias eróticas dos brasileiros? Para o sexólogo Moacir Costa, autor de vários livros sobre a sexualidade brasileira, o gosto nacional pelo bumbum está ligado à nossa origem afro-portuguesa. Segundo ele, a mistura racial define o comportamento mais fogoso e as características corporais - cabelos, altura, cor de pele e o bumbum aperfeiçoado. Para o sexólogo as nádegas brasileiras, principalmente a das mulatas são as mais belas do mundo.
Potencial reprodutivo
Na opinião do professor do departamento de psicologia da Faculdade de Ciências do Câmpus da Unesp em Bauru, Sandro Caramaschi, é impossível afirmar com certeza que a preferência pelo bumbum no Brasil é bem maior do que a preferência por outras partes do corpo feminino. De acordo com o professor não existem pesquisas no Brasil que comprovem a preferência dos homens pelo bumbum. Ele diz que nos Estados Unidos, por sua vez, existe uma pesquisa que divide os homens em três grupos: os que gostam mais das pernas, os que gostam mais dos seios e os que gostam mais do bumbum. Caramaschi acredita que no Brasil os três tipos também devem existir, sem que um seja mais "importante" que o outro.
Essas três partes do corpo da mulher são mais admiradas pelos homens porque são caractéres sexuais secundários, são partes que diferem as mulheres dos homens e por isso são atraentes pois dão indicações sexuais. "A gente considera que as características físicas tidas como universais, que se repetem em todas as culturas são as que dão indicações de juventude, de saúde e de gênero", diz o professor. Uma outra pesquisa americana, segundo ele, apontou que, para a maioria das pessoas, a proporção ideal do tamanho da cintura feminina, é de 70% do tamanho do quadril, "isso reflete uma opção por um padrão que esbarra em características de gênero, de juventude e de saúde", diz Caramaschi. "Em última análise essa proporção estaria refletindo em um equilíbrio hormonal que estaria mostrando um potencial reprodutivo maior daquela mulher. Ou seja: por incrível que pareça, quando os homens estão vendo a Carla Perez rebolar, estão admirando em última análise o seu potencial reprodutivo, embora conscientemente eles não saibam disso. A preferência nacional talvez tenha a ver com isso", explica.
Elas não gostam
Para a garçonete Eliana *, 21 anos, é desagradável saber que alguém está o tempo todo olhando para o seu bumbum. Dona de um quadril que mede 90cm, ela reclama especialmente porque quando serve os clientes do restaurante onde trabalha fica
"na altura" perfeita para que eles olhem. "Como eles estão sentados, não precisam nem se esforçarem muito para ficar olhando... é só eu virar de costas para perceber que estão olhando minha bunda", confessa.
Apesar dos olhares, Eliana nunca chegou a sofrer com qualquer tentativa mais ousada por parte dos clientes do restaurante. Ao contrário da vendedora Márcia *, 22 anos, que tem o típico corpo "violão", com um bumbum moldado com muita malhação. Ela conta que uma vez um cliente pediu que ela o ajudasse com uma roupa. Prestativa, ela entrou no provador para ajudá-lo, ao se virar para sair, mesmo com a porta aberta, ele aproveitou para checar se o seu bumbum era verdadeiro mesmo, "ele passou as duas mãos", conta ainda constrangida. "Acho horrível essa fixação masculina que obriga o homem a olhar para todas as mulheres", diz.
Admiração recíproca
A professora de ginástica Mariana *, de 28 anos, porém, não acredita que as mulheres não gostem de ser admiradas pelas suas nádegas. "Elas colocam roupas coladas com que objetivo, então", questiona, e diz que acha bom quando percebe que um homem parou para observá-la. "O dia que eu passar e eles não olharem vou me achar muito feia, vou saber que estou mal mesmo", explica.
A estudante Aline Corrêa é da mesma opinião,
"acho que as mulheres gostam de serem admiradas pelo tamanho e formato do seu bumbum", afirma, "é normal, até porque a gente também olha e gosta de homens que tenham uma bunda bonita", revela. A diferença, para a estudante é que as mulheres são mais discretas quando fazem a observação.
* Algumas entrevistadas preferiram não ter seus nomes completos publicados
Atravessando os tempos
Embora seja admirado há muito tempo, como mostram as esculturas e obras de arte, das mais diferentes épocas - das greco-romanas
às pinturas do século XIX - o bumbum só conseguiu se revelar na totalidade de suas curvas para que todos pudessem ver nesse século.
Na década de 20, Coco Chanel subiu a bainha das saias justamente na mesma época em que surgiam na França (e até no Brasil), filmes com imagens de mulheres nuas vistas por trás. Em 50, a liberdade aumentou e Marylin Monroe abusava das curvas com seus vestidos colantes e seu andar de passinhos curtos que valorizavam cada movimento, popularizando o rebolado. Em 55, a francesa Brigitte Bardot exagerou e apareceu nua em "E Deus Criou a Mulher", entre outros filmes. Virou mito. No Brasil um nu no cinema só apareceria em 60, com Norma Bengell, em "Os Cafajestes".
Nessa mesma década o biquíni surgiria para liberar de vez. No Brasil ele ganhou uma versão menor ( o famoso abajour de bunda) e mais tarde a tanga, menor ainda. Apesar da ditadura, na década de 70, o cinema nacional e as praias eram os únicos lugares onde o bumbum podia aparecer desnudo
( ou quase), sem problemas. A liberdade veio um 85, com a invenção do fio-dental, que reduzia o biquíni a condição de tapa-sexo, com um fio que acaba praticamente sumindo e deixando tudo à mostra e também liberação na televisão de comerciais que mostravam bumbuns sem nada. Em 86, a novela "Dona Beija" exibiu o belo bumbum de Maitê Proença. Era um processo irreversível.
Hoje não há mais mistério, pelo contrário,
é a abundância que faz sucesso, como mostra a disparada meteórica de Carla Perez, Scheila Carvalho, Sheila Melo e Susana Alves, a "Tiazinha" rumo ao sucesso, só para citar alguns exemplos. Todas catapultadas a esse posto pelos seus traseiros fartos.