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Unesp forma 1ª turma de curso pioneiro

Sabrina Magalhães
| Tempo de leitura: 6 min

A Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho acaba de formar 17 alunos da primeira turma do Brasil do curso de Bacharelado em Sistemas de Informação (BSI). O curso, cuja grade curricular foi totalmente montada em Bauru, foi classificado pela Revista Info Exame como o melhor curso de Análise de Sistemas de Informação do País, com 8,32 pontos (out/2000). O pioneirismo garantiu que todos os alunos saíssem da faculdade já empregados.

De acordo com o coordenador do curso, professor-doutor João Perea Martins, a idéia do Bacharelado em Sistemas de Informação (BSI) surgiu em meados da década de 90, quando o Ministério da Educação (MEC) iniciou uma discussão sobre a padronização dos cursos de Informática e Computação no Brasil. Prevendo os resultados dessas discussões, professores do Departamento de Computação da Unesp-Bauru anteciparam-se à oficialização das diretrizes federais e desenvolveram uma nova grade curricular, determinando conteúdo programático e ementas disciplinares sem qualquer referencial. O novo curso foi lançado em janeiro de 1997 e a padronização tornaria-se oficial somente no ano seguinte.

Por conta desta antecipação, a Universidade é a primeira a formar uma turma de Análise da Informação. A qualidade do pioneirismo garantiu à Unesp-Bauru o primeiro lugar no ranking da Revista Info Exame (out/2000). A revista fez uma análise e classificou os melhores cursos de informática do País, avaliando itens como a titulação dos professores, quantidade e qualidade de equipamentos disponíveis aos alunos, estrutura do curso e interação com o mercado de trabalho.

No quesito Melhores Cursos de Análise de Sistemas de Informação, a Unesp-Bauru ficou com o primeiro lugar, totalizando 8,32 pontos. A Pontifícia Universidade Católica (PUC/Campinas) ficou em segundo lugar, com 7,74 pontos, seguida pelas Faculdades Associadas de São Paulo (Fasp - 6,74 pontos), Universidade Metodista de São Paulo (Unimep - 6,51 pontos) e PUC-Rio de Janeiro, com 6,40 pontos.

Emprego garantido

Segundo Martins, os 17 alunos que se formaram na primeira turma do BSI já saíram da faculdade empregados. Muitos, inclusive, receberam mais de duas ofertas de trabalho, todas em empresas de médio e grande porte, nas mais variadas áreas, como programação, consultoria, auditoria, análise financeira e telecomunicações.

O coordenador do curso explica que o mercado está carente de profissionais nestas áreas e que, em contrapartida, a Unesp preza por só colocar no mercado aquele que realmente estiver apto para desenvolver um bom trabalho. Afinal, o aluno é nosso cartão de visitas, então todos os professores estão empenhados em formar um pessoal de altíssimo nível, exigindo e cobrando o máximo do aluno.

Martins explica que, por isso, dos 30 alunos que iniciaram o curso, apenas 17 se formaram. Cinco desistiram e os outros continuam cursando. No final de 2000, o curso tinha 135 alunos matriculados e 13 cancelamentos - uma evasão de 8,5%, que nós consideramos baixa, apesar da ridigez do curso. Ao contrário, a concorrência hoje é de 18 vestibulandos por vaga.

Parcerias

De acordo com Martins, a principal filosofia do curso é manter o aluno antenado ao que o mercado quer. Por isso, não há espaço para o desenvolvimento de projetos teóricos. O aluno é orientado a trabalhar em pesquisas que tenham aplicações práticas, de modo que ele já seja colocado em contato direto com as empresas (que podem empregá-lo mais tarde).

Para isso, todos estão sempre atentos às linhas de atuação e necessidades das empresas. A partir daí, são feitas propostas e contatos, que resultam em parcerias. Como os alunos precisam de equipamentos para desenvolver os projetos, as empresas contribuem com doações, explica o coordenador do Laboratório Didático de Computação (LDC), Eduardo Martins Morgado.

Segundo ele, só nos últimos dois a três anos, o Departamento recebeu cerca de US$ 200 mil em hardware e softwares doados. As empresas oferecem a estrutura e os alunos desenvolvem os projetos. É o modelo adotado nos Estados Unidos. As empresas de tecnologia equipam as universidades e isso é devolvido não só na pesquisa desenvolvida, mas na própria mão-de-obra, porque quando o aluno vai para o mercado, ele leva toda esta experiência prática que, talvez, ele não adquirisse de outra forma.

Laboratório

De acordo com o coordenador do curso, João Perea Martins, o BSI se destaca pela ênfase prática das disciplinas. Podemos dizer, sem medo, que este é um dos melhores laboratórios de computação do Brasil em nível didático, com equipamentos de rede de primeira linha, entre os mais modernos.

Segundo Martins, o laboratório funciona cerca de 14 horas por dia e tem apenas um funcionário. O aluno é totalmente responsável pelo local, desde abrir e fechar portas, acender e apagar as luzes, ligar e desligar o ar condicionado, cuidar da limpeza do ambiente, até o gerenciamento de redes. E eles tomam conta disso tudo como se fosse deles. A nossa filosofia é trabalhar sempre em grupo, tanto entre os professores - somos 19 professores -, como entre os alunos, garante o professor.

Ele afirma que a Unesp está tentando despertar no aluno o espírito empreendedor, com o objetivo de exportar o produto nacional. O Brasil tem bons profissionais e equipamentos. O problema é que poucos se arriscam a abrir uma empresa, enfrentar a concorrência, disputar o mercado par exportação. Estamos incentivando isso, ensinando o aluno a pesquisar sozinho, porque tudo nesta área fica ultrapassado em pouquíssimo tempo. Ele tem que estar sempre atualizado, trabalhar para diferentes segmentos, ter iniciativa e concretizar. Tem que ser um empreendedor.

Biblioteca

Martins destaca que paralelamente aos investimentos em parceria, o Departamento está investindo na biblioteca. Na Unesp, existe uma biblioteca central que é utilizada por todos os alunos. O espaço já passou por duas reformas de ampliação, mas já está pequeno.

No último ano, foi feito um processo de compra de cerca de 200 livros novos, específicos para a área de Informática, além de centenas de outros livros em áreas afins, como matemática, economia e administração, e de periódicos nacionais e internacionais. Muitos estão amontoados por falta de espaço, conta.

Aluno está empregado desde o 2.º ano

O programador Erich Queiroz da Silva, 21 anos, um dos 17 alunos formados na primeira turma de Bacharelado em Análises de Informação (BSI), contou ao Infonews que está empregado desde o segundo ano de faculdade. Existe uma grande demanda por profissionais na área de Informática como um todo. Então, todo mundo acaba sendo empregado antes de formado, disse.

Na opinião dele, o curso foi excelente em todos os aspectos, desde a competência dos professores até a estrutura dos laboratórios. Fomos cobaias e nesse tempo, o curso vem melhorando a cada ano. Eles adaptam as matérias para a realidade de mercado, vêem o que as empresas estão precisando e procurando. Acho que a tendência do curso é melhorar cada vez mais.

Silva acredita que boa parte dos elogios sejam devidos às parcerias com empresas, que mantêm os laboratórios atualizados. Porque o material fica obsoleto muito rápido e a Universidade não dispõe de verba suficiente para repor tudo isso. A biblioteca, por exemplo, é muito precária. Então, acho que o que pode melhorar é aumentar essas parcerias. É aí que o curso da Unesp tem levado vantagem, conclui.

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