Material será inventariado, catalogado por museólogos e historiadores e ficará exposto no Museu Municipal.
Jaú - Depois de mais de quatro horas de escavações e muita expectativa foi encontrado ontem, por volta das 12 horas, um conjunto de documentos e objetos que estavam enterrado no obelisco da Praça da Matriz. Quase dez mil pessoas compareceram à praça para acompanhar os trabalhos que tiveram início logo de manhã. Por alguns momentos, pensou-se e até chegou a ser divulgado que as relíquias não existiam no interior do obelisco.
Mas, exatamente ao meio dia, homens que escavavam o obelisco de cerca de três metros de altura, erigido na passagem do ano de 1900 para 1901, encontraram as relíquias do passado do Município.
O que se imaginava fosse uma caixa era, na verdade, uma abertura no interior do monumento centenário onde foram depositados exemplares de jornais do Século XIX, um livro, uma peça de metal, documentos pessoais em nome de José Dávila e de Sebastião Teixeira, cartões de visita, moedas do Século XIX, uma passagem de uma romaria de Jaú, e pacotes e envelopes de conteúdo desconhecido.
O material se encontra em razoável estado de conservação. Assim que foi encontrado, foi cuidadosamente retirado, colocado em uma bandeja de prata e levado pelo prefeito João Sanzovo Neto (PDT) até uma urna de vidro, ainda na Praça Siqueira Campos.
O material ficou exposto à visitação dos populares que acompanharam as escavações. Na mesma Praça, durante toda a manhã ocorreu a solenidade em comemoração aos 148 anos do Município de Jaú.
Depois da visitação dos populares na Praça Siqueira Campos, a urna foi conduzida por uma viatura do Corpo de Bombeiros até o Museu Municipal onde poderá ser visitada e onde será objeto de pesquisa por parte de museólogos e historiadores. O obelisco que foi destruído para que se achassem as relíquias do Século XIX terá uma réplica erguida nas dependências do mesmo Museu Municipal.
Demora gerou expectativa
Enquanto vários homens trabalhavam na escavação do obelisco ontem de manhã, um clima de ansiedade e até impaciência tomava conta de muitos dos ali presentes. É um absurdo, conseguiram destruir um monumento de cem anos em um dia, afirmou o corretor de imóveis Sílvio Gabriel.
Vários idosos acompanharam com interesse a escavação. De acordo com José Luiz Pires de Campos, 70 anos, os funcionários da Prefeitura estavam procurando a caixa no lugar errado. Sua tia-avó teria dito para ele que a caixa estava sob o monumento. A mesma opinião teve Luiz de Moraes Navarro Filho, 68 anos.
Durante as buscas, que demoraram quase cinco horas, a secretária de Cultura, Lucy Monari procurava minimizar a ansiedade, lembrando que tão importante quanto a velha caixa era a nova capsula que estava prestes a ser enterrada. A nossa história está sendo feita agora com a nossa memória sendo perpetuada para as futuras gerações, comentou.
Novo obelisco
Na mesma praça onde foram encontradas as relíquias centenárias, foi inaugurado um monumento com documentos e objetos com instruções para que seja aberto daqui a cem anos.
A secretária de Cultura, Lucy Monari explicou que na cápsula que foi depositada no novo obelisco, estão uma série de documentos, cartas, fitas de vídeos, CDs, livros, uma relação de dez acontecimentos que marcaram a história de Jaú no século XX e uma homenagem a dez personalidades da cidade, que foram levantadas por alunos de toda a rede de ensino da cidade. As personalidades que já morreram foram representadas por parentes. Entre os homenageados ainda vivos, o mais aplaudido foi o ex-jogador de futebol Jonas Eduardo Américo, o Edu. Ser lembrado em vida é muito gratificante, disse. Ele foi recebido com entusiasmo pelas crianças. O curioso é que elas nunca me viram jogar. Ser ovacionado desta forma é maravilhoso. Fico até sem palavras, afirmou.
Várias autoridades de Jaú e região estiveram presentes na festa. O secretário estadual de Cultura, Marcos Mendonça, foi representado pelo delegado-regional de Cultura, Cássio Cardozo de Mello Filho.
O prefeito João Sanzovo Neto (PDT) escreveu uma carta para as futuras gerações para ser enterrada na cápsula. Na solenidade, ele leu a carta. Em tom informal, o prefeito desejou qualidade de vida no próximo século. Temos os olhos voltados para o futuro, o desenvolvimento, mas não queremos sacrificar a qualidade de vida, disse.
Ele comentou na carta as primeiras notícias de clonagem humana. Só vocês (da geração futura) vão poder nos responder se estas notícias são boas ou não, escreveu Sanzovo Neto na carta carta intitulada Jauenses do século XXI. (Leia carta abaixo) No final do documento, ele desejou que daqui a cem anos, as pessoas ainda se sentem em cadeiras na calçada. Uma marca da tranqüilidade da cidade.
Jauenses do século XXII
Não sabemos como Jaú será no dia em que esta carta for lida. Mas hoje é uma cidade boa de se viver. Tem problemas sim, como todas as cidades terão sempre. Mas temos muita coisa boa também. Temos clima bom com muitos dias de sol e calor. Temos boa água, e em abundância. Nossa terra é roxa. De ótima qualidade. Tudo o que plantamos dá. Temos uma indústria que caminha para a prosperidade. E bons empregos também.
Mas nossa maior riqueza é o nosso povo. Tanto que esta administração tem como prioridade a valorização do ser humano. Nossa gente é muito boa. Temos mais de 100 mil habitantes, e grande parte dos jauenses mantêm hábitos de uma grande família. Ainda é possível, nos fins de tarde, encontrar pessoas conversando em cadeiras na calçada. É assim o nosso povo. Alegre, amistoso, pacífico e trabalhador.
Temos os olhos voltados para o futuro, para o desenvolvimento, mas não queremos sacrificar nossa qualidade de vida. Jaú ainda é razoavelmente segura. Assim é a cidade que deixamos para vocês.
Há, no obelisco onde esta carta foi deixada, uma placa com os dizeres: Natureza, Justiça, Paz. Elas refletem o que pedimos a Deus para Jaú, no desenrolar do Século XXI: Precisamos respeitar a natureza. Nossa geração acordou tarde para o perigo que o meio ambiente estava correndo. E para o fato de que sua preservação é uma necessidade para nossa sobrevivência. Mas, esperamos, todo tempo é tempo. Confiamos em sua recuperação e que ela nos perdoe pelo tratamento que lhe demos.
Também desejamos para Jaú justiça social. Queremos que todos tenham condições de viver dignamente do fruto de seu trabalho. E, o mais importante: que durante todo o século, a paz esteja nas almas das pessoas, na nossa cidade, no Brasil e no mundo.
Pedimos a Deus que essa paz tenha vindo: da Ciência, que tenha possibilitado aos homens cura para males que nos afligem hoje; da Educação, que tenha ensinado aos homens o verdadeiro sentido de cidadania; da Sabedoria, através da qual os homens tenham encontrado a forma para se relacionarem como irmãos.
Hoje comentamos as primeiras notícias sobre estudos para clonar o ser humano. Se essas serão boas ou más novas só vocês saberão dizer. O que poderemos fazer é pedir a Deus para que o caminho escolhido seja o certo. E tenha levado o século XXI ao encontro da felicidade.
Para terminar: amem muito. Amem seus filhos, seus maridos e suas esposas. Amem seus familiares e seus amigos. Não deixem passar um só dia sem dizer e sem demonstrar isso a eles. Amem o Brasil. Amem São Paulo. Mas principalmente amem nossa Jaú. Temos cuidado dela com carinho e dado o melhor do nosso trabalho para que fique cada vez mais bonita, agradável, humana. Porque foi esta a cidade que escolhemos para viver e criar nossos filhos. Deixar crescer nossas raízes e derrubar nossas sementes... Que elas possam dar bons frutos é tudo o que queremos. Garantimos: foram plantadas com muito, muito amor.
Deus queira que haja ainda, no tempo de vocês, pessoas que se sentem em cadeiras na calçada. Um forte abraço dos jauenses de 2001.