Boitatá? O que é isto? Questinados sobre um dos primeiros mitos folclóricos do Brasil, crianças e adultos se confundem. Com a intenção de resgatar o mito do Boitatá e em comemoração ao mês do folclore, a Secretaria Municipal de Cultura promoveu em agosto oficinas nas bibliotecas ramais dos bairros da cidade e levou muita diversão e curiosidade à garotada.
Orientadas por uma bruxinha muito especial, as crianças conheceram o mundo mágico da fantasia. Bruxelda é uma personagem diferente. Moradora da Biblioteca Infantil "Ivan Engler", a aprendiz vive sempre feliz. Ela só tem medo das bruxas más. "Se descobrirem que sou boazinha, elas podem me expusar da associação das bruxas", diz. Bruxelda é quase uma criança. Vive fazendo trapalhadas.
Pensadas no mito folclórico, as oficinas foram baseadas em três princípios básicos: contar, construir e brincar com o Boitatá. Tudo começou na Biblioteca Ramal do Núcleo Geisel, onde as crianças tiveram o primeiro contato com o conto. Partindo do imaginário, todos construíram um grande boneco que contém a fantasia coletiva do Boitatá. Munida do boneco, Bruxelda passou a visitar as outras bibliotecas ramais. Tomada pela descontração, a bruxinha despertou a criatividade e a espontaneidade em cada criança. "É muito legal. Há várias coisas divertidas para fazer", afirma Érica Franco Pereira, de 11 anos, moradora do bairro Alto Paraíso, e que participou do projeto pela primeira vez. "Gostei muito porque é educativo. Pretendo voltar", completa Rafaela Luiz, de 10 anos, moradora da Vila Industrial.
O mito O Boitatá (também conhecido como Baitatá, Biatatá, Batatá, Batatal, Bitatá, ou Batatão, dependendo da região) é fruto da fusão, em tupi, de mbói, que significa cobra, e tata, que significa fogo. Foi um dos primeiros mitos registrados no Brasil. O Padre José de Anchieta já escrevia em uma carta, no ano de 1560: "Há também outros fantasmas, máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios e são chamados de Boitatá, que quer dizer coisa de fogo. Não se vê outra coisa senão um facho cintilante correndo para ali".
A cobra-de-fogo protege os campos contra os incêndios. Às vezes, transforma-se em um grosso tronco em brasa para queimar as pessoas que colocam fogo inutelmente nas matas. É conhecido como cobra por possuir um comprido pescoço. Dizem que quando surgia, por toda a parte apareciam-se luzes loucas, assombradas e velozes. Tudo muito assustador. No Brasil, várias são as explicações para o fenômeno. Entre elas, está a afirmação de que o bicho é uma alma penada que surge de casamentos incestuosos. Dizem também que o Boitatá nada mais é que o fogo-fátuo (inflamação espontânea de gases que saem de sepulturas e pântanos) que se transforma em lenda nas crenças populares. Entre a fantasia e a realidade, resta a dúvida. O certo é que o mito existe e continua viajando pelo imaginário popular.
Conta a lenda, que após espiarem o Boitatá com curiosidade, os homens choravam desatinados pelo perigo, já que seus olhos e suas lágrimas guardavam luzes cobiçadas pelo bicho. No inverno, não aparece. Talvez, permaneça dormindo entocada. No verão, após a quentura dos mormaços, recomeça sua trajetória. Quando alguém encontra o bicho, pode até ficar cego. Para escapar, basta ficar parado, muito quieto, com os olhos fechados, apertados, e sem respirar.
No mundo da brincadeira, encontra-se a fantasia. A garotada não deve perder tempo. Todos devem procurar a Bruxelda, todas as quartas-feiras, às 15h30, na Biblioteca Infantil "Ivan Engler". Novos mitos e novas histórias ainda vão se passar. Na Hora do Conto, tudo pode acontecer.
Serviço:
Hora do Conto com a Bruxelda, com a instrutora Pitanga, todas as quartas-feiras, às 15h30, na Biblioteca Infantil "Ivan Engler", que fica no Centro Cultural, na Avenida Nações Unidas, 8-9. Telefone (14) 235-1072