Geral

O estupefato

(*) José Almodova
| Tempo de leitura: 3 min

Estupefato, é o que me senti passando por um choque cultural, segundo a recente publicação deste JC, na abertura da primeira página da seção Ser, em 26 deste mês. Uma linda e colorida foto (de técnica elogiável, diagramação e bom gosto), de Eder Azevedo, com texto de Gustavo Cândido, ilustrando a presença do grupo de 23 alunos americanos, sob a abertura de: Choque cultural - americanos vêem o Brasil. Num adendo gráfico, a impressão das bandeiras de ambos os países (na ordem: Estados Unidos, Brasil), que assoladas pelo vento, num desenho em forma de V, ganhou a interposição da seguinte frase: os estudantes americanos que estiveram visitando Bauru: boa comida, clima agradável e gente amiga. A abertura numa única página, com a presença fotográfica do grupo uníssono, que em estilo arredondado formou, deveras, um insinuante retrato cívico, formado totalmente por olhos azuis. Em alegre e festiva demonstração da oportuna presença dos jovens quando aqui reunidos em ruidosa comemoração, expandiram-se alegremente, não escondendo a felicidade de se haverem assomado a um grande país, o Brasil. Até então e infelizmente, desconhecido pela juventude e da maioria de americanos aqui visitantes em primeira mão. Geralmente não escondendo as ineficientes formações culturais (especificamente e pelo menos), quanto aos posicionamentos e desenvolvimento cultural na América do Sul, mais especificamente no chamado Cone Sul.

O aproveitamento da importante e citada reportagem que elogiamos, me conduz (sinceramente e em particular), a concluir que não posso deixar de mostrar no mínimo dois pensamentos, que embora contraditórios, possam representar o que talvez não satisfaça a alguns dos possíveis leitores, a saber: a) Pensamento positivo. Em primeiro lugar, não posso deixar de agradecer indiretamente à idéia de quem se propôs a trazer para nossa terra o grupo de jovens estudantes. Um grupo, cuja manifestação pessoal (pinçadas segundo a reportagem), chegaram a ser colocadas pela estudante americana Jessica Roof, de 14 anos, não poupa sinceridade: Achei que fosse ficar em alguma cabana no meio da floresta e que fosse ver cobras e aranhas em todo o lugar. No final, foi muito melhor do que eu esperava, me espantei com o tamanho de Bauru e ficamos num ótimo hotel. Além de outras tantas demonstrações de carinho, embora eivadas de relatos dos próprios pais e amigos deixados na sua pátria, preocupados na expectativa e apreensão, porém, ao final recebidos e envolvidos com salutar manifestação pela superação alegremente satisfatória do próprio grupo de jovens. Outras tantas declarações foram levantadas em relação às suas próprias origens, vivendo em regiões de fazendas e não de cidades, portanto, compreensivelmente. Mas, a forma de recepção que tiveram à chegada foi destaque sob o seguinte argumento verbal: Se estivéssemos nos Estados Unidos, muita gente ouviria o que a gente tem a dizer, veria nossa apresentação, mas não daria a mínima importância, faria isso por obrigação. Aqui somos até mimados, as pessoas não só nos ouvem, como querem se aproximar, conversar, fazer amizade. b) Pensamento negativo. Em segundo lugar tenho que entristecer-me (não para com as agradáveis manifestações) de Jessica Roof e outras como Amanda Yohannes, cuja certeza de que representaram satisfatoriamente o grupo. Mas, pelo fato de haver-me enganado recentemente, quando na coluna, em 23 de agosto, Argentina rende-se à humildade?!, referi-me à Argentina, comentando a antiga autoilusão que sempre viveram, a de possuírem a hegemonia do Cone Sul, e que assim também os americanos não mais pensavam que a capital do Brasil fosse Buenos Aires, isto é, haveriam aprendido geografia. Mas, por outro lado, espero que a aluna Jessica, Amanda e Glenn Horrigan, dentre outros, não hajam brincado de elogiar nosso País; comportamento usual quando se está fora do próprio país.

(*) José Almodova é professor universitário-Mestre em Projeto, Arte e Sociedade pela Unesp/Bauru. É jornalista e colaborador do JC. Escreve às quintas-feiras na coluna. E-mail: almodova@ig.com.br

Comentários

Comentários