Geral

História de pescador: Viagem pra Canarana

Lázaro Carneiro
| Tempo de leitura: 3 min

Engraxe bem as canelas,

passa sebo e parafina,

Vamos terminar a rota

no lugar que as cobras grossas,

Engole as cobras mais finas.

Descemos Tietê abaixo,

onde o progresso floresce,

Não vou falar de São Paulo

porque todos já conhecem.

Cheguei no rio Paraná

para a balsa atravessar,

É ai que a perna amolece,

Quando o vapor apitou,

a balsa desencostou,

Comecei fazer uma prece.

Eu disse pro co-piloto:

Não agüento mais um assopro,

Você leva a caminhonete.

No Mato Grosso do Sul

a gente ia avançando,

No retrovisor eu via

a fronteira se distanciando.

A nossa caminhonete

parecia um aeroplano.

Um dos companheiros disse:

Tá bonito, estou gostando.

Eu disse: É só o começo,

pelo pouco que conheço

a estrada está começando.

Era quase meio dia

quando entramos em Goiás,

Falo muito desse estado,

porque o trem é bom de mais,

Estradas cheias de curvas,

seus rios de águas turvas

e os verdes buritizais.

Porém o que ainda me inflama,

é a beleza das goianas,

isso eu não esqueço mais.

Eram seis horas da tarde

quando eu vi o Mato Grossão,

De longe eu vi o Araguaia

palpitou meu coração.

Comentei com os companheiros:

Valeu gastar esse dinheiro,

pra sentir essa emoção.

De longe meus olhos viam

terras que conheciam,

Só pela televisão.

Dormimos num hotelzinho

naquelas beiras de rio,

No outro dia bem cedo,

a viagem prosseguiu.

Entre serras e cerrados,

Invernadas campo e gado,

Tamanduá, tatu e bugio

Aves grandes e pequenas,

beija-flor, gavião e ema,

Até onça a gente viu.

Na estrada pra Canarana,

caminhão de boi e banana

Não parava de passar.

O amigo do meu lado,

perguntou com o ar cansado:

_ Falta muito pra chegar?

Eu lhe disse: Não reclamas,

você só chega em Canarana,

Quando essa estrada acabar.

Parei pra almoçar num posto

E ter o carro abastecido

O frentista contou com gosto

O que por ele foi vivido

Prestem atenção neste causo

Diz ele que foi verídico

Certa vez um caminhoneiro

Passou naquela hospedagem

Comprou uma lata de óleo

Pra botar nas engrenagens

Pagou-lhe tudo na nota

Diz que só faria a troca

Com maior quilometragem

Depois de rodar bastante

Já era quase noite escura

Parou pra trocar o óleo

E por ter pouca cultura

Ele fez a operação

Numa linda região

Nas margens dó rio tingura

Depois de trocar o óleo

Jogou o recipiente

Por falta de consciência

Agiu como um delinqüente

De cima da ponte ele viu

A lata sumir no rio

Levada pela corrente

O frentista foi pescar

Já depois de muito tempo

Nas margens do rio tingura

Montou seu acampamento

Jogou o anzol na água

E permaneceu atento

Sentiu algo ser fisgado

Achou que tinha enroscado

Por falta de movimento

Ele recolheu a linha

Lentamente com cuidado

Percebeu que no anzol

Tinha um treco pendurado

Depois que tirou da água

Viu que uma lata enferrujada

Era o que tinha pescado

Resolveu abrir a lata

Pra fazer uma inspeção

Lá dento tinha um pintado

Vejam só que judiação

Cresceu nadando ali dentro

Sempre a mesma posição

Por ter crescido enlatado

Cabeça encontrou com o rabo

Causou-lhe admiração

Lázaro Carneiro é pescador e contador de histórias

Comentários

Comentários