Professor diz que independência do Brasil não se deve buscar no passado, mas sim ser construída para o futuro.
Uma festa popular rodeada de orgulho nacional, colorida pelo verde e amarelo, festejada pelos quatro cantos do País. Assim deveria ser a comemoração de 7 de Setembro, data que, nas salas de aula, se aprende como sendo o Dia da Independência do Brasil. Mas na análise do professor de História Almir Ribeiro, a independência real do País ainda não está consolidada.
A história oficial da independência do Brasil começa com a chegada, em 1808, da família real portuguesa e termina com a abdicação de D. Pedro I ao trono, em 7 de abril de 1831. Para o professor, o período corresponde ao movimento de separação e emancipação do País de Portugal. A construção de um País, de uma nação, de uma identidade, de um orgulho nacional, não existiu. Em alguns momentos da história da independência até se buscou construir esse processo, que deveria ter sido feito com a soberania popular, mas os grupos que tentaram foram massacrados.
Ribeiro diz que afirmar que o processo de independência brasileiro foi pacífico é uma imensa falásia. Houve luta em dois fronts: de um lado contra os portugueses e internamente contra os radicais da independência, os republicanos, inclusive contra algumas províncias que buscaram, no processo, autonomia, que não queriam ficar vinculadas ao Rio de Janeiro.
Na sua avaliação, a independência era uma escolha que apontava entre Lisboa, Rio e algumas províncias que queriam autonomia. Essas províncias foram duramente reprimidas. A chamada unidade nacional, que muito historiador vincula como uma das coisas bonitas da nossa história, só foi mantida a bala.
O professor afirma que falta na independência do País o complemento da soberania popular. Ela não existe. Em alguns momentos temos até a impressão que vamos consegui-la, como no processo de Proclamação da República. A própria Revolução de 1930 apresenta, num determinado momento, uma esperança de renovação, que será liquidada por uma ditadura militar. E até mesmo no período do final da década de 50 e, em particular, no período do presidente João Goulart, há momentos de expectativa, mas consolida-se mais uma ditadura.
O professor analisa que no final da década de 80, mais especificamente em 1989, na eleição presidencial, o País chegou novamente à beira de conquistar a soberania popular. Na possibilidade de vitória do Lula (Luís Inácio Lula da Silva). E aqui eu não entro no mérito se a vitória do Lula significaria um País melhor ou pior. Mas a possibilidade de eleger o Lula em 89 abriria uma perspectiva nova para o Brasil. Mas o conchavo da elite impediu que isso ocorresse.
Ribeiro acredita que a independência do País ainda será um processo para o futuro. Ainda estamos construindo a nossa independência. E, possivelmente, vamos ter uma data para comemorar a nossa independência. E essa data, infelizmente, não é 7 de setembro.
Recolonização
O professor de História tem esperanças de ver e acompanhar o processo de transformação da sociedade brasileira. Tem um historiador brasileiro que diz que toda pessoa que sonha com uma transformação profunda, revolucionária da sociedade, sonha que essa transformação ocorra no período de sua própria vida. Porque se não se tornaria uma religião, algo que vai acontecer depois da morte. Ele sabe, no entanto, que a dinâmica da história, que é resultado da ação dos homens, é imprevisível. Olhando para o Brasil de hoje, vejo com muita força os caminhos que levam para uma verdadeira emancipação, uma verdadeira independência, uma verdadeira soberania, como aqueles caminhos que levam ao sentido contrário.
Ribeiro avalia que desde a gestão relâmpago do ex-presidente Fernando Collor, o País trilhou rapidamente para o que ele chama de recolonização. Isso resume-se no processo de endividamento, de entrega das estatais, de subordinação, sem nenhuma crítica, aos ditames do Fundo Monetário Internacional (FMI). Nesse último período, caminhamos muito no sentido da recolonização. O que chamam de globalização, eu avalio como sendo uma recolonização.
Mas na visão do professor, esse ataque do capitalismo não diminui a resistência por parte da sociedade. Na verdade todo esse processo incorpora experiências. Eu vejo isso com meus alunos. Há um ano, discutir com eles o processo de globalização, de privatização, era jogar com cartas marcadas. Mesmo que você buscasse chamá-los a uma crítica mínima do processo, isso era impossível. A privatização, para eles, era a panacéia que iria resolver todos os males do País. Hoje, ao citar a palavra, as críticas vem imediatamente.