Geral

Trinta pessoas solicitam RG na delegacia móvel

Rita de C. Cornélio
| Tempo de leitura: 4 min

Delegacia móvel da Polícia Civil esteve no Ferradura Mirim ontem, um dos bairros mais carentes de Bauru.

O movimento na delegacia móvel da Polícia Civil, levada ao Ferradura Mirim, ontem, foi grande. Os moradores fizeram denúncias, tiraram dúvidas e solicitaram o Registro Geral (RG) na delegacia móvel e que contou com equipes da Delegacia da Defesa da Mulher (DDM), 4.º Distrito Policial e da Delegacia de Investigações Gerais/Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (DIG/Garra).

Delegados, investigadores e escrivães também mudaram a rotina e tiveram a oportunidade de atender a população do Ferradura, um dos bairros mais carentes de Bauru, no seu ambiente. Só ontem foram pedidos cerca de 30 RGs, ou seja 30 pessoas passaram a existir para o Estado. O serviço de cidadania contou com a colaboração do Jornal da Cidade, que ofereceu as fotos 3X4 para aqueles que não tinham recursos financeiros para pagar pela fotografia.

A iniciativa da Delegacia de Defesa da Mulher, segundo sua titular, a delegada Rejani Borro Tiritan, tem vários objetivos. Dentre eles está o de se aproximar da população que mais necessita de atendimento e que, por questões econômicas, muitas vezes não tem acesso aos serviços oferecidos pela Polícia Civil. Muitos não têm dinheiro para se deslocar até a sede da delegacia, disse.

O Setor de Identificação da Polícia Civil, que também funcionou na delegacia móvel, foi o mais requisitado. Ter um documento de identidade é importante, mas falta dinheiro para pagar as fotos, enfatizou a presidente da Associação de Moradores da Ferradura Mirim, Eva Matoso de Oliveira. Segundo ela, várias pessoas com mais de 50 anos estavam, pela primeira vez, requisitando o documento. A principal dificuldade para eles são as fotos. A maioria dos moradores daqui não tem renda fixa. Vive dos recursos da sucata (coleta de material reciclável) que mal dá para se alimentar, explicou.

O transporte do bairro até o centro da cidade é outra dificuldade enfrentada pelos moradores. Eles não têm dinheiro para pagar o circular, disse Eva. A presidente da associação aplaudiu a iniciativa da Polícia Civil. Eles deveriam vir mais vezes. A associação vai solicitar. A delegacia móvel facilita a vida da população mais carente.

Segundo a presidente da associação, o bairro tem atualmente cerca de quatro mil moradores, sendo que muitos adultos perderam o registro de nascimento e não possuem RG. O uso constante do registro de nascimento, de acordo com ela, faz com que o documento se rasgue. O registro é feito de papel e usado muitas vezes e, com o tempo, rasga. Algumas pessoas têm dificuldade para arrumar emprego por não possuir RG, disse.

A presença da delegacia no bairro, na opinião de Eva Oliveira, é também uma maneira de aproximar a polícia dos moradores. O bairro viveu momentos, no passado, de muita violência. Atualmente, os marginais se mudaram ou foram presos e nós vivemos uma fase de tranqüilidade, contou.

Pela primeira vez

O trabalhador rural João Luiz Cardoso, 56 anos, viveu boa parte de sua vida sem ter RG. Ontem, ele procurou a delegacia móvel para requisitar seu registro. Para mim o RG é muito importante. Estou ficando velho e sempre trabalhei na roça. Nunca tive a oportunidade de ter RG. Acho que a iniciativa é ótima, disse.

Claudina Inácio da Silva, 61 anos, esposa de Cardoso, mãe de 10 filhos, também passou boa parte de sua vida sem RG. Como dona de casa na área rural, não sentiu necessidade do documento, porém agora que mora no Ferradura acha que é importante poder se identificar.

Aos 24 anos, mãe de três filhos, Neide Aparecida Célio requisitou ontem, pela primeira vez, seu RG. Vim do Paraná e minha certidão de nascimento estava rasgada. Por isso não arrumo emprego. Com essa oportunidade, tirei outra certidão e vou fazer meu RG, disse.

Projeto itinerante

Parece impossível que uma pessoa exista e não tenha um documento que a identifique. Mas isso é uma realidade não muito distante. No Ferradura Mirim, bairro localizado na Zona Sudeste de Bauru, a estimativa é que dos quatro mil moradores aproximadamente 30% não possuem o RG, documento que identifica as pessoas. Portanto, existe um grande número de pessoas que, para o Estado, não existem.

A falta do documento, segundo Rejani Borro Tiritan, titular da Delegacia de Defesa da Mulher, dificulta a vida das pessoas, especialmente das mais carentes. Elas não conseguem arrumar emprego e quando ocorre um crime, há inúmeras dificuldades para identificar a pessoa que nunca teve o RG porque fica faltando as impressões digitais, ressaltou.

A visita ao Ferradura Mirim, segundo a delegada, é uma situação inusitada que deve se repetir. Estamos levando a DDM para os bairros mais carentes, onde as pessoas têm dificuldades de locomoção. Aqui trouxemos a psicóloga e toda a equipe para, inclusive, arrecadar armas que as pessoas queiram se dispor, contou. Segundo a delegada, outros bairros serão visitados pela delegacia móvel.

Comentários

Comentários