O dia 11 de setembro terá grande impacto para a história mundial, ainda que, neste momento, não seja possível avaliar todos seus desdobramentos. Dezenas de milhares de cidadãos dos Estados Unidos, na sua imensa maioria trabalhadores assalariados, foram vítimas, inocentes, dos atentados terroristas que se abateram sobre Nova York e Washington.
São vítimas que vêm se somar a uma longa lista já existente: um milhão e meio de crianças do Iraque mortas nos últimos dez anos por causa do embargo decretado pelas grandes potências, lideradas pelos EUA; os milhões de palestinos que tiveram suas casas destruídas e seu direito a viver em sua própria terra pisoteado; as milhões de vítimas das guerras dos Balcãs e dos bombardeios da Otan; as milhões de vítimas em países da África, em guerras étnicas manipuladas, os milhões mortos de subnutrição, de fome e pelas epidemias, em todos os continentes, como resultado dos planos de ajuste estrutural do FMI e das imposições da globalização capitalista.
Quantos mais ainda serão vítimas de uma nova ordem mundial que há dez anos foi anunciada como de democracia e paz? Não é evidente que esta ordem se mostra cada dia mais portadora de guerras, de desolação e de sofrimentos para todos os povos?
Esta tragédia tem como pano de fundo o caos político, econômico e social em que o mundo foi mergulhado pela política imperialista que tudo desregulamenta, que destrói direitos e conquistas da classe trabalhadora, que esmaga e liquida a soberania das nações, que oprime e lança na guerra e na desagregação povos inteiros. É a política imperialista de Planos de Ajuste Estrutural do FMI. É a vontade das multinacionais de rebaixar o custo do trabalho a qualquer custo que mergulha o planeta na barbárie.
Nenhum ato exemplar de terrorismo pode substituir a luta de massas. O resultado deste atentado terrorista nos EUA só pode servir aos objetivos de George Bush e seus cúmplices de redobrar a opressão e a exploração dos povos. A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores.
Aqui no Brasil, quem pode duvidar que o governo FHC vai tentar utilizar esta tragédia de alcance mundial para fazer a mesma coisa? Em seu discurso sobre os atentados nos EUA, Fernando Henrique fala que todos os brasileiros serão sensíveis à necessidade de trabalhar convergentemente para que o Brasil possa continuar na sua caminhada de paz e de progresso. Que convergência pode existir entre este governo de destruição da nação e os interesses do povo brasileiro? Ora, é este governo FHC que é o responsável no Brasil pela situação de caos e violência social que se generaliza, a qual esteve na base do recente assassinato do nosso companheiro Toninho, prefeito petista de Campinas, que exige imediata apuração dos responsáveis e sua punição.
Quaisquer que sejam as circunstâncias, os trabalhadores não podem renunciar a se defender e a se organizar no seu próprio terreno independente, como hoje fazem os servidores federais em greve nos quatro cantos do País, como fazem os trabalhadores sem terra na luta pela Reforma Agrária, os estudantes que se mobilizam contra a destruição do ensino. Assim é mais atual do que nunca a luta contra as privatizações, contra a implantação da Alca, em defesa de todos direitos sociais e trabalhistas ameaçados. Estas lutas, esta ação prática da classe trabalhadora, constituem a via concreta para a paz e a democracia.
Para impedir a catástrofe, para abrir caminho para o futuro é preciso reafirmar a defesa das organizações de luta de massa da classe trabalhadora e a sua independência política, único meio de defender as conquistas da civilização, indissociáveis da democracia e da paz. (Roque José Ferreira - roque.ferreira@uol.com.br)