Candidato à Presidência da República, o governador do Rio, Anthony Garotinho, quer mudar o eixo econômico do País.
O governador do Estado do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PSB), iniciou uma série de visitas pelo Interior de São Paulo para divulgar sua candidatura à Presidência da República. Eloqüente e desembaraçado, passou o dia em Bauru, ontem, percorrendo emissoras de rádio e de televisão. Acompanhado dos dois vereadores do PSB, Luiz Carlos Valle e José Clemente Rezende, além de dirigentes do partido, ele concedeu a seguinte entrevista ao Jornal da Cidade:
Jornal da Cidade - Essa não é a primeira vez que o senhor vem a Bauru. Qual é a sua relação com a cidade?Governador Anthony Garotinho - Na verdade, eu tenho três momentos diferentes com Bauru. O primeiro foi por volta de 1975, ano em que meu pai faleceu, e nós viemos passar um período aqui na cidade. Meus tios moram aqui. Meu tio é médico na cidade. É o doutor Maurício Matheus. E minha tia é a dona Vera. Depois, já como prefeito de Campos, em 1991, retornei a Bauru com uma equipe para visitar o Centrinho da USP e copiar o modelo para nosso Município. E o terceiro é que eu fui locutor esportivo. Estive em Bauru transmitindo o Americano de Campos contra o Noroeste.
JC - O senhor foi prefeito de Campos por duas vezes e é o atual governador do Estado do Rio. Por que o senhor quer ser presidente do Brasil? Qual é o projeto do senhor para o País?Garotinho - Para que a população de Bauru possa me conhecer mais, eu tenho 41 anos, fui deputado estadual aos 25 anos, prefeito de Campos, pela primeira vez, aos 27, secretário de Estado da Agricultura aos 32, depois novamente prefeito de Campos aos 36 anos e aos 38 governador do Estado do Rio de Janeiro. Eu quero ser uma alternativa para a sociedade brasileira. O povo brasileiro quer mudança, mas mudança que não seja radical, que não traga ódio junto, uma mudança que seja segura. Portanto, eu não vou trazer medo para as pessoas porque já administrei, não sou inexperiente. A minha principal proposta é mudar o eixo da economia do Brasil. A política macroeconômica foi toda direcionada para o setor financeiro. Os bancos ganharam muito dinheiro. E minha proposta é redirecionar a economia brasileira para o setor produtivo. Nós precisamos que os recursos da economia sejam direcionados para a agricultura, para a indústria, para o comércio, para o serviço. É inadmissível que um setor só da economia, o financeiro, tenha tido o lucro que teve durante essa era do governo Fernando Henrique. Isso parou o País e deixou um rastro de desesperança, de desemprego, de empresas quebrando, de agricultores falidos. É preciso reconstruir o País. E para isso eu proponho um choque de crédito, reduzindo as taxas de juros e fazendo com que o País mantenha a estabilidade, porém, com crescimento econômico.
Imprensa - Qual é a recepção da candidatura do senhor à Presidência da República no eleitorado de São Paulo?Garotinho - Estou muito feliz. Tenho tido uma receptividade muito grande do povo de São Paulo. Última pesquisa do Ibope me deu 12% para presidente no Estado de São Paulo. É um número bastante expressivo. A minha impressão é que o Estado de São Paulo é esse motor que move o Brasil. O Interior, embora esteja passando por dificuldades em função da política econômica, ainda é muito forte. Nós já estivemos em diversas cidades do Interior, como Araçatuba, Catanduva, entre outras. Podemos ver que é impressionante a resistência do homem do Interior do Brasil que, mesmo com essa política econômica predatória, conseguiu caminhar e chegar até aqui.
JC - Para disputar a Presidência da República, o senhor terá que renunciar ao cargo de governador. O senhor está mesmo disposto a entregar o governo a sua vice, Benedita da Silva, que é do PT?Garotinho - É até uma oportunidade para o PT administrar. Nós vamos entregar o governo numa situação muito melhor do que nós herdamos. Eu herdei um Estado falido. O governador que me antecedeu deixou uma dívida de R$ 26 milhões com o Governo Federal e não pagava. Hoje eu pago rigorosamente em dia. Deixou dívida de R$ 430 milhões com fornecedores, que eu zerei. Dívida de R$ 400 milhões com empreiteiras, que eu paguei. Ela (Benedita da Silva) vai receber um Estado com R$ 1, 9 bilhão em obras, seis hospitais novos, obra do Metrô em Copacabana, obras de duplicação de adutoras de água nos principais municípios do Estado, projeto sociais importantes como o Restaurante Popular, como clínica a para dependentes químicos. Ela vai receber o governo com R$ 1 bilhão em caixa. É a grande oportunidade do PT mostrar que, além de falar, sabe fazer também.
Imprensa - Como o senhor está avaliando o quadro sucessório para a Presidência da República? Qual é o seu maior adversário?Garotinho - Meu maior adversário é que as pessoas ainda não me conhecem muito. É o desconhecimento. Toda vez que as pessoas conhecem o Garotinho, conhece o trabalho que nós estamos fazendo no Rio, as nossas propostas para o Brasil, eu subo nas pesquisas. Eu sou pré-candidato há dois meses e já estou com 11%. Tem candidato que já foi candidato há cinco anos. Eu acredito que vou ganhar a eleição. Estou convencido que a população brasileira quer mudar.
JC - O PSB está um pouco isolado politicamente no cenário nacional. Quais são as forças políticas que o senhor pretende aglutinar para apoiar a sua candidatura?Garotinho - Essa é uma outra visão que eu tenho que difere um pouco da política tradicional. A política tradicional afirma, sem base científica, que o candidato, para ganhar uma eleição, precisa de muito tempo na televisão. Em 94, por exemplo, o candidato que tinha mais tempo de televisão, Orestes Quércia, não teve votos. Em 89, o candidato que tinha mais tempo de televisão, Ulysses Guimarães, também não teve votos.
JC - Qual o tempo de televisão que o PSB terá para propaganda política?Garotinho - Dois minutos e quarenta segundos, se mantidos os cinco candidatos. Dois minutos e quarenta por bloco.
JC - Na avaliação do senhor é um bom tempo?Garotinho - É um tempo excelente. Se uma empresa consegue fazer um anúncio e vender tanto em trinta segundos, eu, com dois minutos e quarenta e com uma boa proposta para o País, sou capaz de promover uma transformação fenomenal.
JC - O senhor teve uma relação tumultuada com o ex-governador Leonel Brizola. O senhor acha que o brizolismo acabou?Garotinho - Eu não tive uma relação tumultuada com o Brizola. A pergunta que você me deveria ter feito é quem não teve? O processo de minha saída do PDT, no final, contou com a saída da Emília Fernandes, no Rio Grande do Sul, Jaime Lerner, no Paraná, Dante de Oliveira, o próprio César Maia, e, por último, saiu o próprio filho do Brizola. Os partidos não podem ter esse grau de centralização, de decisão de cima para baixo, que o Brizola impõe no PDT. Mesmo sendo uma pessoa tolerante, democrática, chega um momento que não dá para suportar determinadas posições que o Brizola vinha adotando, ultimamente. Tanto que dos 19 deputados estaduais que o partido tinha no Estado, saíram 17. Dos 42 prefeitos que o partido tinha no Estado, saíram 40. Eu não diria que o Brizolismo acabou, mas diria que está numa maré baixa.
JC - Há um movimento segmentado na Câmara dos Deputados que pretende criar o Partido dos Evangélicos. Como o senhor avalia?Garotinho - Eu acho que não há necessidade de ter partido de evangélicos. Nós vivemos numa sociedade onde o Estado não deve ter religião, mas as pessoas devem ter e devem respeitar as outras pessoas. Da mesma forma que eu sou presbiteriano, tenho secretários que são católicos, tenho um secretário que é ateu, outros que são evangélicos. Nós entendemos que a posição individual de cada um deve ser respeitada. O que estranho muito é que as pessoas me cobram sobre esse assunto, mas não cobram dos outros. Isso fica parecendo uma discriminação contra os evangélicos. Quando vou fazer uma obra importante num município eu não pergunto se ali mora um presbiteriano, um católico, um adventista. População é população.