Geral

Tempo de incertezas

(*) Antonio Delfim Netto
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O que se pode afirmar, nestes dias que se seguiram aos trágicos acontecimentos de 11 de setembro, nos Estados Unidos, é que aumentou terrivelmente a insegurança das pessoas e dos negócios, em escala mundial. Foi um ato terrorista bárbaro, que nos faz pensar que os homens ainda podem agir como trogloditas, ignorando qualquer sentimento de humanidade. Um grupo fanático descobre uma nova arma e a utiliza estupidamente para destruir a vida de milhares de pessoas inocentes.

É evidente que essa insegurança vai nos acompanhar por um bom período e isso obviamente terá conseqüências no comportamento da economia e também produzirá seus desdobramentos em nosso quadro político, influindo inclusive no processo eleitoral do ano que vem. A dimensão desses efeitos não comporta sequer adivinhação, pois nem mesmo o governo americano sabe o alcance da reação que vai desencadear com o objetivo de destruir os focos de terrorismo organizados em meia-dúzia de países.

A economia é sensível às expectativas. Diante do clima de insegurança em que estamos vivendo, a maioria dos analistas tende a acreditar no pior cenário, que é o do desencadeamento de um processo recessivo na economia mundial. Num primeiro momento isso parece a avaliação correta, porque aumentam os riscos no comércio mundial e os mercados financeiros reagem com nervosismo, temendo a queda nos lucros das empresas. Não penso porém que a recessão seja inevitável, como não creio que a retaliação americana degenere numa guerra entre nações. As ações diplomáticas dos EUA mostram que eles pretendem atingir alvos selecionados, se possível com o consentimento dos governos daqueles países que abrigam os terroristas. Mesmo que isso não aconteça e o conflito se aprofunde, não é o caso de apostar na recessão. Até pelo contrário, o esforço de guerra leva ao crescimento das despesas dos governos, ampliando a demanda global.

Nessas circunstâncias, acredito que a economia brasileira não terá que enfrentar maiores dificuldades do que as que já temos. Os problemas que impedem o mais rápido crescimento de nosso comércio exterior são de outra natureza. Quando o mercado mundial estava em grande expansão, na década passada, deixamos de aproveitar as oportunidades de crescer com ele. O ritmo de crescimento das maiores economias mundiais está em queda e com ele o comércio. Ficou mais difícil exportar.

No campo político, o estado de insegurança mundial vai exigir um pouco mais de reflexão dos candidatos e pré-candidatos, quando expuserem seus programas de governo com vistas às eleições do ano que vem. São mínimos os graus de liberdade para o exercício da política econômica. Eles já estão determinados pelos erros da atual política. Na minha opinião, perderão espaço os candidatos mais afoitos, aqueles que apresentarem propostas de mudanças que possam gerar desconfiança ou aumentem as incertezas sobre o quadro econômico. Vai ser preciso interpretar corretamente a realidade brasileira e convencer o eleitor de que é capaz de administrar essa realidade, plena de pepinos.

(*) Antonio Delfim Netto é deputado federal pelo PPB-SP, professor emérito da USP. E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br

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