Vários fatores, como as tendências da moda, são levados em conta pelas montadoras na hora de escolher as cores e acabamentos dos veículos.
Qual a relação que poderia haver entre as passarelas da moda e os automóveis ? À primeira vista, nada. Mas, investigando a fundo os critérios usados pelas montadoras para a escolha das cores e acabamentos dos veículos, chega-se à conclusão de que a moda e os carros caminham juntos.
Ao contrário do que muitos podem pensar, definir as cores e acabamentos de um automóvel exige mais trabalho do que parece. Os fabricantes, como a Volkswagen, começam a selecionar as cores dois anos antes de um veículo ser lançado.
Nessa hora todo cuidado é pouco. Uma cor ou um revestimento inadequado ao estilo do carro e, principalmente, do cliente pode custar às montadoras um fracasso antecipado de vendas. Quem, por exemplo, seria tentado a adquirir um Gol laranja ? Além disso, o dono de tal carro certamente teria muitos problemas quando pretendesse revendê-lo, em virtude da baixa aceitação do mercado pela cor.
O início de todo o processo, segundo o assessor de comunicação da Volkswagen, Sérgio Ayarroio, dá-se com as pesquisas efetuadas pelos designers e fornecedores da montadora. Elas iniciam-se pelo menos dois anos antes do carro chegar ao mercado. Os designers e fornecedores estão sempre buscando novas tendências, baseando-se princialmente na moda, para poder direcionar a escolha, explica ele.
Ayarroio revela que, a exemplo dos nomes que irão batizar o veículo (objeto de reportagem recente do AutoMercado & Cia), as cores e acabamentos variam conforme o estilo do carro e o perfil dos clientes. Na Alemanha, país cujo povo apresenta características mais frias, há BMWs amarelas. Já o brasileiro ainda é cliente tradicional de três cores básicas, preto, prata e branco, e suas variações, afirma o assessor.
Diante disso, cores fortes e mais chamativas, como o vermelho, tendem a aparecer em carros cujo apelo esportivo é o principal. Já as mais sóbrias (azul escuro e preto, por exemplo) costumam pintar em veículos como Santana e Omega, geralmente voltados a um público mais conservador.
Espírito
A Fiat também segue princípios semelhantes para definir as cores e acabamentos de seus carros. Em julho de 1995, quase um ano antes de lançar o Palio no país, a montadora já efetuava as clínicas (pesquisas feitas geralmente junto a consumidores, concessionárias e funcionários da própria empresa) para bater o martelo sobre as opções de cores a serem oferecidas para o Palio.
Segundo Carlos Henrique Ferreira, da assessoria de imprensa da Fiat, as cores devem obedecer o espírito do produto. Elas devem ser coerentes para o segmento principal que o carro será destinado. Para isso, levam em conta as cores e tendências da moda no Brasil e no mundo, pois, com a globalização, as montadoras concentram suas vendas em vários mercados, ressalta ele.
Na Fiat, assim como na Volkswagen, a primeira etapa do processo de seleção das cores começa pelas pesquisas. Juntamente com os fornecedores, nosso departamento de estilo e tendências apresenta as propostas de cores - cerca de 150 - que se encaixam à proposta do veículo. Na seqüência, o mesmo departamento realiza mais uma pré-seleção, reduzindo pela metade o número de opções, revela Ferreira.
Após a exclusão de metade do leque de opções, iniciam-se os testes com as peças de veículos, geralmente os paralamas, pintadas com as cores restantes da primeira etapa de seleção. Eles são expostos ao ar livre para se verificar como se comportam sob o sol, oportunidade em que se analisa o impacto visual e o reflexo. Nessa hora são ouvidos consumidores, concessionárias e empregados dos setores responsáveis da fábrica para ajudar em mais essa seleção, detalha o assessor da Fiat.
Concluída essa etapa, onde também são eliminadas mais da metade das cores, resta apenas decidir entre as variedades que sobreviveram ao crivo dos testes e pesquisas. Nesse caso, a palavra final caberá sempre ao departamento de marketing e à própria diretoria das montadoras.
Já no mercado, as cores seguem, assim como a moda, uma renovação constante. O objetivo é claro: não cansar o consumidor pela repetição e falta de opções. Na Fiat, segundo o assessor de imprensa, as matizes são renovadas anualmente.
Definir os nomes exige inspiração e criatividade
Criatividade é o que não pode faltar para os integrantes dos departamentos de marketing e de estilo das fábricas, que além de auxiliar na seleção das várias matizes, ainda têm de inventar um nome para elas.
Para isso, cada um busca inspiração onde pode. Uns seguem a matriz (preto magic), outros pensam na natureza (branco geada). Vale quase tudo, pois a repetição é uma palavra terminantemente proibida. A Fiat, por exemplo, já viajou pelas cidades do mundo (vermelho córdoba, azul búzios), enquanto a Volks buscou a ajuda dos astros (amarelo solar, vermelho marte).
Para os acabamentos, o processo é o mesmo
Em relação aos bancos e revestimentos, o processo é o mesmo aplicado para a seleção das cores. As únicas diferenças residem no menor número de opções para se escolher, o que torna a tarefa um pouco mais fácil. Assim como com as cores, o tipo de material dos assentos e o seu grafismo irá variar com o estilo do veículo e o perfil do cliente. O veludo normalmente é usado em versões top, exemplifica Ferreira.
A Volkswagen, por suas próprias origens. segue a tendência alemã na hora de definir o acabamento de um carro. Apesar de nos basearmos nela, é a área de design que irá decidir quais cores e tecidos irão ser usados nos carros, enfatiza Ayarroio.