Ao contrário do que previa o consumidor, a queda nas vendas após o racionamento de energia não reduziu preços.
Consumidores que planejaram aproveitar o racionamento de energia para comprar os tão sonhados eletrodomésticos devem estar frustrados. Mesmo com a queda nas vendas, que chegou a 60% em algumas lojas, os fabricantes mantiveram os preços. Ao invés de mexer no bolso, as empresas optaram por mudar a tecnologia empregada nos aparelhos, buscando alternativas para torná-los mais econômicos - mas, só no quesito consumo de energia.
A afirmação é incontestável: o plano de racionamento do Governo foi um balde de água fria ao comércio desses produtos. As vendas caíram entre 40% e 60%, conforme a loja e o produto. Atualmente, lojistas de Bauru ainda amargam uma queda de aproximadamente 20% nas vendas dos eletrodomésticos, em comparação com o período que antecedeu a crise de energia.
Agora, o consumidor sabe quanta energia pode gastar em casa. Então, as pessoas já não estão mais tão reticentes. O problema, neste momento, é o fluxo de compradores, que caiu muito. O dinheiro está curto, mesmo, comentou o gerente de vendas de uma loja especializada José Carlos da Silva.
Outro gerente, Angelo Manoel Prieto, ressaltou que a loja em que trabalha sofreu uma redução de 40% nas vendas no início do racionamento. Mas, o consumidor não abre mão do conforto. O que faltava era conscientização, lâmpadas acesas à-toa, desperdício mesmo. Agora, as pessoas aprenderam a dar valor à energia e estão sabendo usar. Desta forma, não vão ultrapassar a cota, salientou.
Já o gerente Sandro Sodré Nogueira de Lima comentou que, ao contrário do que se esperava, sua loja registrou aumento de 25% nas vendas de refrigeradores. As pessoas que tinham um refrigerador antigo acabaram trocando, porque os modelos novos consomem muito menos energia, disse. Porém, ele lembrou que, no início do plano de racionamento, houve uma redução de 50% na venda de aparelhos de ar condicionado e televisores, chegando a uma queda de 60% nas negociações de aparelhos portáteis, como ferros de passar roupas, batedeiras, liqüidificadores e aparelhos de som.
Lima ainda deu uma notícia desanimadora. Ele acredita que os preços destes aparelhos deve subir, principalmente os equipamentos de áudio e vídeo, cujos componentes são importados e estão em falta no mercado.
Questionados a respeito da conduta dos fabricantes de eletrodomésticos diante da crise de energia, os gerentes explicaram que os equipamentos que já estavam no mercado não sofreram qualquer alteração. Algumas lojas chegaram a fazer promoções de alguns lotes parados, mas não por iniciativa dos fabricantes, comentou José Carlos da Silva.
Para virar o jogo, as empresas promoveram alterações na tecnologia de seus aparelhos, de modo que o funcionamento deles exige o mínimo possível de energia elétrica. Agora, se você observar, vai ver que todos os produtos vêm com etiquetas que informam o consumo de energia, algumas até comparando com o gasto de lâmpadas, televisores ou outros aparelhos, completou Angelo Prieto.
Natal sem luz
De acordo com o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Bauru, Sérgio Evandro do Amaral Motta, além da repercussão negativa nas vendas, o racionamento de energia elétrica obrigou os comerciantes a reduzir a iluminação em suas lojas. É a luz que dá vida às vitrines. Apagá-la deixa as vitrines feias e tristes, comentou.
Motta salientou que a preocupação dos lojistas, agora, é com os feriados que se aproximam, como o Dia da Criança, em 12 de outubro. Nos anos anteriores, o comércio abriu suas portas até as 22 horas na véspera do feriado. Este ano, eles temem ultrapassar a meta de consumo de energia se repetirem esta estratégia.
Outra preocupação nossa é com o Natal. Nós costumamos fazer uma decoração bem iluminada, que é justamente para atrair o consumidor. Natal tem que ter luz. Sem luz, ele fica triste. Estamos estudando dois projetos para a decoração deste ano e vamos apresentá-los à CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), para ver se há alguma alternativa para decorarmos o Calçadão, sem ultrapassarmos nossas metas de consumo de energia elétrica, completou.