O leitor Argemiro M. de Campos, na A Tribuna do Leitor, de 30/9/01, página 28, comenta meu artigo sobre o sanduíche bauru, intitulado Solução seria declarar a Guerra do Sanduíche, de 14/9/01, que redigi procurando dar um estilo chegado ao jocoso. Embora esse leitor não tenha questionado este fato, julgo oportuno esclarecer que citei as pessoas que constam do texto (prefeito Nilson Costa, Zé do Skinão, vereador Ávila, Rufino, dr. Antonio Lázaro Valeriani Marques) porque são grandes amigos e tenho certeza que deles tenho a permissão para escrever como escrevi. Além do que, como bauruenses da linha de frente, estão permanentemente a postos na defesa das coisas de Bauru. E o sanduíche bauru é uma delas.
No sábado, dia 29, o prefeito, o vereador Ávila e Zé do Skinão descerraram placa no estabelecimento deste último relativa ao famoso lanche. Ávila também já pediu que os editores do Dicionário Houaiss corrijam a relação de ingredientes do bauru, publicada errada, inclusive incluindo ovo. Existe uma tentativa de se patentear a fórmula, parece que esbarrando na legislação que não patenteia receita culinária. O dr. Lázaro sugere a criação de um selo que seria afixado nos estabelecimentos que servem o legítimo bauru. São idéias de pessoas preocupadas com a defesa desta nossa tradição e que merecem ser colocadas em prática.
Já (com todo respeito) permito-me discordar de Argemiro Campos quando diz que o bauru pode ser feito com os mais variados ingredientes e continuar recebendo esse nome. Casemiro Pinto Neto, ao que consta, desenvolveu o bauru no Ponto Chic, em São Paulo, fazendo-o com pão sem miolo, rosbife, queijo derretido, rodelas de tomate, pepino em conserva, orégano e pitadas de sal. Qualquer variação, por deliciosa que seja, a gosto de cada um, pode ser válida, porém o lanche deixa de ser o legítimo bauru e, em conseqüência, perde este nome.
Exceção à parte com relação ao aperfeiçoamento que ocorre dia-a-dia nos setores tecnológicos, na química, na farmacologia, em outras áreas como na literatura, na pintura, nas artes em geral que envolvam criatividade e direito autoral (e aqui poderemos incluir o feito de Casemiro Pinto Neto) não é de uso realizar modificações. O único que tem esse direito é o próprio autor. Quem discordar de como foi feito, que faça o seu ou admire outros autores com os quais tenha mais afinidade. Seguindo o seu raciocínio, poderíamos discordar e modificar a história de D. Quixote de La Mancha, desrespeitando aquilo que foi concebido por Miguel de Cervantes Saavedra, e até achar que Vincent van Gogh usava muito amarelo, preferindo substituir esse matiz por outro. Não é assim. O Zé do Skinão e o dr. Lázaro têm razão: bauru só existe um. Quem poderia modificá-lo não está mais entre nós. (B. Requena, da Academia Bauruense de Letras)