As reuniões da Associação dos Países Produtores de Café (APPC) e da Organização Internacional do Café (OIC), realizadas em Londres, na Inglaterra, na semana passada, foram negativas para o Brasil, maior produtor mundial, que perdeu o controle das duas entidades para representantes da Colômbia, segundo produtor mundial. Jorge Cardenas, presidente da Federação dos Cafeicultores da Colômbia, assumiu a APPC, enquanto Nestor Osório passará a ser o secretário geral da OIC, a partir de dezembro. Maurício Lima Verde Guimarães, presidente do Sindicato Rural de Bauru (SRB) e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), que participou da reunião como representante da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), disse que a derrota política do Brasil foi provocada pelo próprio governo do País, que adotou atitudes surpreendentes durante a reunião.
Lima Verde disse que a perda brasileira é resultado de uma má gestão diplomática de muito anos. Ele destaca que o Brasil sempre foi o primeiro em descumprir os acordos realizados na APPC. Porém, agora, com a retenção, que seria uma forma de tirar café do mercado para forçar uma alta de preços, somente Brasil e Colômbia cumpriram, como havia previsto Lima Verde em maio.
A APPC, cartel criado há sete anos, por 15 países que representam 80% da produção mundial de café os outros 20% são produzidos por 35 outros países , para regular o mercado do produto, num acordo entre os produtores, sempre foi presidida pelo embaixador brasileiro em Londres. Porém, com a volta ao Brasil de Sérgio Amaral, que assumiu o Ministério do Desenvolvimento, deveria haver a substituição e o candidato natural era o embaixador Waldemar Carneiro Leão, que liderava a delegação brasileira no encontro. Porém, este não aceitou.
A Colômbia ofereceu o nome do presidente da Federação dos Cafeicultores da Colômbia, Jorge Cardenas, que assumiu o cargo, pelo menos, até dezembro.
Em relação à Organização Internacional do Café, a questão, segundo Lima Verde, foi mais séria, com a não-confirmação da indicação pelo governo brasileiro de Oswaldo Aranha Neto para o cargo de secretário-geral. Há cinco anos, o cargo era ocupado por um brasileiro, Celsus Loder, o que era considerado muito importante para o Brasil, que é o maior produtor mundial e segundo maior consumidor.
Há seis meses, o esquema político vinha sendo aprontado para que Aranha Neto assumisse. Ele viajou mais de 50 países, com aval do governo, para negociar a aceitação de seu nome pelos outros membros. O governo brasileiro chegou a fazer um documento para todas as delegações indicando Aranha Neto. Porém, no último instante, Leão chamou os integrantes da delegação e comunicou que recebera ordens do Palácio do Planalto para retirar o nome do então indicado, que era candidato único. Lima Verde criticou a atitude do governo, que fez o movimento sem dar explicações. Então, o Palácio determinou sem dar qualquer tipo de explicação. Isso pegou muito mal internacionalmente. Muito mais do que os acordos que o Brasil prometeu que iria cumprir e não o fez, afirmou.
O vice-presidente da Faesp disse que a atitude mostra a não-afinidade do Palácio do Planalto com o corpo diplomático e com o setor econômico, pois a indicação de Aranha Neto era assinada pelo ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, além de outros componentes do Ministério da Fazenda. O que decepciona mais é justamente isso: a gente saber o que pode estar acontecendo mediante uma máscara. Porque, o Palácio é o Fernando Henrique (Cardoso)? Não sei! A explicação é: o Palácio mandou, lamentou.
Assim, o novo secretário geral da OIC, a partir de dezembro, se não houver mudanças, será o colombiano Nestor Osório, ligado ao presidente da Colômbia, Andrés Pastrana. Com todo esse quadro, os colombianos é que vão definir os destinos da cafeicultura mundial. Eles ganharam o comando da APPC, que agrega 80% da produção mundial e da OIC, que tem 80 países produtores e consumidores.
Lima Verde disse que, economicamente, a situação criada não terá muitos reflexos, pois se o Brasil se sentir prejudicado pode sair da APPC. Porém, afirma que foi uma derrota política terrível.