Férias coletivas e paradas técnicas. Esses têm sido procedimentos comuns entre as montadoras para tentar superar a crise de vendas que atualmente atinge o setor automobilístico no Brasil e no mundo.
Recentemente, a Fiat dispensou por uma semana cerca de 60% do total de empregados, deixando de produzir 7,5 mil unidades. A desaceleração das vendas também foi o motivo alegado pela Volkswagen do Brasil a anunciar férias coletivas aos trabalhadores da sua unidade da via Anchieta em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, em outubro.
A General Motors do Brasil também decidiu conceder férias coletivas na área de produção de veículos em suas unidades de São José dos Campos e São Caetano do Sul.
Desencadeada por um conjunto de fatores, entre eles a situação da economia argentina, a disparada do dólar e dos juros e até mesmo os atentados terroristas nos Estados Unidos, a queda nas vendas nos últimos meses de automóveis novos e usados fez inchar o pátio de concessionárias e lojas de revendedores autônomos de todas as marcas.
Mas para alguns integrantes de concessionárias, como Renato Amantini, diretor da Amantini Veículos/General Motors, as explicações para a eclosão da crise vão muito além da conjuntura econômica argentina e brasileira. Para ele, atitudes como a adoção das férias coletivas e das paradas técnicas fazem parte de um processo de ajuste das montadoras à realidade da demanda do mercado. O maior vilão da crise automobilística nacional consiste no fato da capacidade instalada das fábricas ser muito maior que a demanda, afirma ele.
Renato acrescenta que as montadoras imaginaram existir um mercado consumidor irreal. As fábricas estão se adaptando ao verdadeiro mercado, pois imaginaram possuir uma demanda muito maior que a realidade. Já prevíamos que isso ia acontecer e agora parece que as fábricas estão entendendo, diz o diretor da concessionária.
Para ele, o ajuste deve durar entre dois e três anos. É uma seleção natural que gostaríamos que se realizasse de uma forma menos dolorosa e, por isso, não queria que demorasse mais um dia sequer. Mas em um mundo globalizado como o nosso sempre haverá essa disputa sobre as vendas e creio que daqui uns dois ou três anos começaremos a ver novos horizontes, enfatiza Renato.
Alta nos preços
Jorge Simão Neto, da diretoria da Simão Veículos/Ford, destaca que a saída encontrada pelas montadoras para encarar a situação foi a única que podiam tomar no momento. O problema é que houve uma previsão de demanda acima da realidade de mercado e ela não correspondeu por causa de uma somatória de fatores internos e externos. Entretanto, se as vendas não se reaquecerem certamente as demissões irão se iniciar, acredita ele.
Segundo o diretor, as concessionárias não sofrem tanto os efeitos da crise. Prova disso, conforme Jorge, seria o desempenho das vendas da marca. Enquanto outras tiveram uma queda de até 30%, a redução na Ford foi de apenas 2% nas vendas a varejo. À medida em que as vendas caem, os serviços com oficinas aumentam, pois as pessoas, em vez de adquirir um novo carro, preferem efetuar a manutenção de seus automóveis, afirma.
Jorge ressalta que, atualmente, o carro brasileiro é o mais barato do mundo, situação que não deve perdurar por muito tempo. Ele cita como exemplo o fato de um carro popular custar hoje pouco mais de US$ 4,6 mil, aproximadamente R$ 13 mil. As indústrias não reajustaram os preços dos veículos porque estão com grandes estoques. Enquanto estes não se equalizarem, os valores dos carros continuarão abaixo dos padrões mundiais praticados pelas montadoras. Tão logo isso aconteça, uma alta nos preços é praticamente certa, prevê o diretor da Simão.
Bom momento
Atingidas em cheio pela retração do mercado, as montadoras lançam mão de todos os recursos de marketing, descontos, promoções e bônus possíveis para tentar reverter a situação.
Por essa razão, segundo o gerente-geral da Meta Veículos/Fiat em Bauru, Francisco Kotzent, esse é um dos melhores momentos para se comprar um carro. Depois de termos ficado praticamente um mês com as vendas estacionadas, agora é um ótimo momento para se adquirir um automóvel, pois, tentando conquistar mais clientes, as montadoras e concessionárias estão oferecendo bons descontos e taxas de financiamento, considera ele.
Para Francisco, o mercado, especialmente o bauruense, já está dando sinais de reação à crise. A exemplo de Renato e Jorge, ele atribui o mau momento do setor à insegurança da população gerada pelos atentados nos EUA, pela alta do dólar e pelo colapso na economia argentina. Tudo começou com a crise da energia e se agravou com os ataques terroristas. Mas o mercado tem um limite de tolerância, pois há muito tempo o automóvel deixou de ser um mero bem de passeio e lazer para se tornar uma ferramenta de trabalho. Estamos apostando no reaquecimento das vendas em até 30%, tanto de veículos usados como novos, acredita ele.