O prédio histórico, do Hospital Lauro de Souza Lima, que será recuperado, abrigava um complexo de lazer
Uma verba de cerca de R$ 100 mil, liberada pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) vai permitir que o Instituto Lauro de Souza Lima recupere o cassino da antiga cidade, localizada na Zona Sudeste de Bauru. Quem não conhece precisa conhecer a antiga cidade dos hansenianos. Árvores frondozas, prédios históricos, coretos, igreja, represas e jardins fazem parte dessa área, que foi tombada pelo patrimônio histórico há alguns anos.
Os prédios, embora deteriorados, ainda conservam a arquitetura e parte da arte das construções da década de 40. A igreja, inaugurada no início da década de 50, ainda espera por recursos para não tombar, literalmente.
Os jardins, com poucas flores e carecendo de grama, aguarda a chegada de algum empresário que queira recuperar um pouco da história da cidade, que nos anos 40 abrigou mais de mil portadores de hanseníase, doença também conhecida por lepra.
Os coretos, que na época acolheram bandas marciais e performances, estão precisando de artistas, não para alegrar, até porque não há público, mas para dar um carinho a um local recheado de emoções.
O diretor da divisão e pesquisa de ensino, Diltor Vladimir Opromolla, explica que as construções estão precárias e o Instituto tenta, junto a vários órgãos, conseguir verbas para recuperar a história. Nós tentamos constantemente conseguir recursos. Já recebemos ajuda da Fundação Paulista de Combate a Hanseníase de São Paulo. Agora estamos recebendo essa verba da Fapesp.
A verba, segundo o médico, será utilizada para reformar parte do prédio antigamente chamado de cassino. Não era uma casa de jogos. Era uma casa de lazer. Tinha o cinema, a biblioteca, a lanchonete, e também, jogos como snooker.
Cassino
O prédio que vai ser restaurado com a verba da Fapesp é algo que emociona desde o lado de fora. Portas de madeira maciça, vidros trabalhados, paredes com detalhes feito à mão pelos próprios hansenianos, fazem com que o visitante recorde uma parte da história do local.
A sala de cinema, com 500 lugares, totalmente deteriorada pelo tempo, será recuperada para alegria do senhor Nivaldo Mercúrio, um hanseniano que virou professor de história do próprio Instituto. Por ter morado por tanto tempo no local, ele faz questão de contar tudo o que se passou na década de 40, no antigo sanatório da Lepra.
Mercúrio lembra com saudade da rádio que havia no cassino. Tínhamos mais de 4 mil discos de vinil. Esses discos estão sendo catalogados, assim como as fotos. Um jornal de circulação limitada também chegou a ser produzido aqui.
Peças da fábrica de sorvetes, sabão e padaria ainda estão no local e devem ser recuperadas para serem mostrada no museu, segundo Opromolla. O cassino vai ser um museu. Futuramente este local será um ponto turístico, parte da história de Bauru.
Lei Rouanet
O médico dermatologista e diretor do Instituto espera obter através da Lei Rouanet os recursos para recuperar a área da antiga cidade. Esta lei permite que as empresas privadas descontem do Imposto de Renda aquilo que for gasto na recuperação dos prédios históricos e na cultura.
As empresas privadas podem cooperar conosco. Nós queremos recuperar este patrimônio para a população de Bauru e região. É a restauração da história, além de ser um lugar maravilhoso.
Opromolla lembra que as empresas não precisam recuperar tudo, mas poderiam, cada uma delas, recuperar uma parte. São coisas básicas. Precisamos, por exemplo, recuperar o gramado, as flores, as plantas. Reforçar as paredes da igreja, as lâmpadas do jardim e o coreto.
A idéia, segundo ele, é fazer com que o Instituto tenha um carro coletivo que pudesse transportar os visitantes da portaria até os prédios históricos, com um guia, fazendo com que os visitantes conhecessem cada uma das partes que compõem o patrimônio. Queremos criar condições para que as pessoas possam visitar e passar horas felizes aqui. A sala de cinema poderá ser utilizada para projeções de filmes e apresentações de peças teatrais.
Biblioteca modelo
A biblioteca do Instituto Lauro de Souza Lima recebeu, na semana que passou, a visita de técnicos do Hospital de Pesquisas e Reabilitação de Lesões Lábio Palatais. Eles foram conhecer o arquivo de slides da biblioteca, segundo o diretor Diltor Opromolla.
De acordo com ele, a biblioteca classificou cerca de 40 mil slides relacionado com a parte clínica e terapêutica. Todos os nossos casos são documentados. Esse material está em slides e foi classificado de uma maneira convencional. Agora, nós digitalizamos todos esses slides. Todos estão no computador e podemos passar para outros serviços, para a Internet e montar um banco de dados de fotografias clínicas do Instituto Lauro de Souza Lima.
O trabalho, de acordo com o dermatologista, está ligado aos projetos que foram encaminhados à Fapesp e foram aprovados. O Centrinho está muito interesado em realizar o mesmo trabalho na área de má-formações e (os representantes) vieram visitar para ver como o serviço foi realizado.