Sábado. 15 de outubro. Londres. 20.000 pessoas segundo a polícia e 50.000 para os organizadores, concentram-se no Trafalgar Square. 20.000 manifestantes ocupam o centro de Berlim. 10.000 pessoas protestam em Bern numa das maiores mobilizações dos últimos anos. 10.000 em Atenas sacodem as ruas da Grécia. Em Paris, 5.000 dizem não à guerra. Protestos na Espanha, Itália, Holanda, Polônia, Suécia, Irlanda. O ministro de defesa francês Alain Richardenvia anuncia que forças especiais e de inteligência atuam em socorro ao Estados unidos e ao governo britânico; Rudolf Scharping, da Alemanha envia 32 aviões com sistema de alerta e controle militar ao Afeganistão; na Itália, o primeiro ministro Silvio Berlusconi oferece apoio incondicional e disponibiliza portos e aeroportos para suporte das forças norte-americanas; o governo espanhol,, através de Pio Cabanillas, declara estar em marcha duas fragatas ao leste do Mediterrâneo e a liberação de suas bases militares na rota de Moron de la frontera. Esta contradição é a tônica em toda a Europa. Os governos do bloco da UE ao mesmo tempo que se unificam em torno da guerra, enfrentam manifestações dentro de seus próprios países. Em mais uma noite de bombardeios, a forca aérea norte americana destrói, entre outras coisas, depósitos de alimentos.
Durante o dia, os noticiários publicam uma frente humanitária que distribui alimentos para os refugiados em mais uma campanha humanitária de combate a fome. Nos pacotes vem impresso dois logotipos: USA e BANCO MUNDIAL Num país miserável como o Afeganistão onde a principal guerra é pela sobrevivência, ataques como este representam milhares de mortes. Em pronunciamento na manisfestação aqui na Inglaterra, um ativista mostra alguns números: Estados Unidos Unidos é o primeiro em frota de porta-aviões e submarinos, campeão na produção de mísseis e armas nucleares, recordista mundial de investimentos em gastos militares. No Afeganistão a mortalidade infantil está em 87ª em escala internacional, 91ª em analfabetismo e nas últimas posições na produção de alimentos.
A todo instante as declarações oficiais, e a mídia tentam passar a imagem da guerra entre os civilizados contra os loucos terroristas. Em um debate no parlamento britânico, Tony Blair declarou: Não é possível conviver com governos que subjulgam as mulheres, separam as crianças e só alfabetizam os do sexo masculino e usam da crença para viver no atraso. Indagado por um deputado qual a diferença com o país aliado, o Paquistão, o primeiro-ministro tervegisou. Ao mesmo tempo que anuncia a liberação de bilhões com gastos militares, o governo britânico, através do ministro do transporte declara que as vias férreas da Inglaterra estão em colapso. Que serão necessários aplicar 30 bilhões para a sua recuperação. Por falta de recursos, o processo será garantido com investimentos privados através da privatização do setor. Esta é a real moral dos ataques. Os países centrais, que atravessam uma recessão econômica, vão fazer da guerra o pano de fundo para atravessar este ciclo de crise. Uma das formas é prolongar a ação militar por um grande prazo e atacar as conquistas sociais dos trabalhadores. Vão fazer da luta contra o terror a saída para implementar seus planos econômicos, mesmo que para isso tenham de destruir outros países e matar os seus próprios jovens. (Laércio Pereira - Inglaterra)