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Psicologia no esporte é fundamental

Fabiana Teófilo
| Tempo de leitura: 5 min

A psicologia do esporte pode dar ao atleta ou à equipe melhores condições de obter os resultados desejados

A psicologia do esporte é uma especialidade relativamente nova em todo o mundo. Teve início no Brasil na década de 50. Como disciplina científica, a psicologia investiga as causas e os efeitos dos processos psíquicos que acontecem com o ser humano antes, durante e depois de uma atividade esportiva ou de lazer.

De acordo com a psicóloga Maria Lúcia Contreras, um atleta, para competir, depende de sua preparação física, técnica, tática e psicológica. Esses quatro fatores devem ser encarados com a mesma importância e, juntos, podem dar ao atleta ou à equipe melhores condições de obter resultados desejados, disse.

Ela explicou que cabe ao psicólogo do esporte intervir no sentido de colaborar com a saúde e equilíbrio emocional do atleta, técnico, comissão técnica e família, atuando sempre em conjunto com os profissionais envolvidos para que não se perca de vista os objetivos traçados. Possivelmente nestas condições enfrentarão de forma equilibrada todas as situações reais de treinamento e competição, afirmou.

A psicologia aplicada ao esporte destaca algumas variáveis que interferem no desempenho de atletas: atenção, concentração, motivação, emoções, como ansiedade, tensão e coesão de grupo. Maria Lúcia disse que pesquisadores da área têm como principal objetivo o estudo dessas variáveis e o desenvolvimento de estratégias que contribuam para otimização do desempenho dos mesmos.

Competição X vida

O doutor em Psicologia pela Universidade de Barcelona e presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte, Benno Becker Júnior, disse que uma análise do desporto mundial mostra que a evolução da preparação física, técnica, tática e da tecnologia aplicada cresceu de uma maneira vertiginosa nestes últimos anos. Quase tudo é oportunizado ao atleta para que no momento da competição ele possa apresentar o seu desempenho máximo. Mesmo assim, muitos atletas têm falhado na hora da verdade, pois o fator psicológico, tão importante como os demais fatores associados ao rendimento humano, tem sido descuidado ou não levado em consideração, explicou.

Na área do exercício, de acordo com Becker Júnior, nunca o corpo humano esteve submetido a tamanha pressão por treinamentos e diversas técnicas corporais buscando a modificação de suas formas de acordo com as fantasias individuais ou com o tipo apontado pela moda atual.

Lesões

A lesão é um fator negativo que pode ocorrer a qualquer momento para o atleta que pratica qualquer modalidade desportiva. Alguns esportes, que por sua regulamentação permitem jogadas mais ríspidas e violentas, apresentam maior risco de lesões do que outros desportos cuja dinâmica é mais suave.

A habilidade que um atleta tem de resistir às lesões e de recuperar-se bem quando elas ocorrem é, segundo Becker Júnior, fundamental para a sua longevidade no esporte e para a realização plena do seu potencial. Um dos aspectos que tem causado preocupação à equipe médica que atua no esporte é o crescimento atual do número de lesões entre os atletas. De acordo Becker Júnior, anualmente, ocorrem cerca de 17 milhões de lesões entre atletas americanos.

Pelo efeito devastador que pode ter uma lesão na vida do atleta, é importante melhorar o conhecimento da variáveis psicológicas que interferem na lesão e as alternativas que a psicologia oferece para auxiliar na prevenção e reabilitação das mesmas.

O atleta e a lesão crônica

Uma lesão grave pode determinar o término da carreira de um atleta e, neste caso, haverá uma grande publicidade sobre o acidente. Outras lesões de menor importância, entretanto, não atraem a atenção mas sistematicamente vão minando, silenciosamente, a saúde do atleta pela deterioração dos ossos, cartilagens, ligamentos e nervos.

O abandono do esporte, causado por uma lesão permanente, leva o atleta a apresentar atitudes e condutas das mais diversas na tentativa de achar um caminho para o seu ajustamento. Estas reações estão associadas às habilidades que ele adquiriu no seu passado e na sua evolução humana. O estado psicológico do atleta antes de sua lesão, tem grande influência sobre como ele vai reagir nesse período crucial.

Na cabeça do atleta passam pensamentos sem solução imediata como o abandono definitivo do esporte e as implicações financeiras e sociais que isso acarretará. Para muitos, a identificação como um atleta é importante para os seus sentimentos de valorização pessoal e necessidades interpessoais. O reconhecimento de suas qualidades como atleta por toda uma sociedade reforça sua motivação para seguir sua vida esportiva.

Para realizar uma transição suave e saudável da situação de atleta para a de não atleta, é fundamental a auto-estima do indivíduo. Muitos dos atletas, mesmo os olímpicos, não têm altos níveis de valorização pessoal e, dessa forma deverão ter muito mais reforços das pessoas significativas para eles durante este período difícil. Por outro lado, os atletas que acreditam que eles são pessoas boas e importantes, mesmo sem a presença do esporte, terão mais facilidade de ajustar-se do que outros que entendem que ser atleta é tudo que eles têm.

Reabilitação

A reabilitação deverá envolver, além da equipe médica, a família, amigos, colegas, treinadores e o psicólogo esportivo. Se for necessária uma cirurgia, o psicólogo deverá abordar esse tema de um modo objetivo, dando informações sobre a situação presente e as possibilidades futuras. Essas informações devem ser baseadas no diagnóstico e prognóstico do médico especialista ou da equipe que o está atendendo.

O medo da cirurgia poderá ser manejado através de técnicas cognitivas como a visualização, monólogo interno, hipnose e etc. No período pós-operatório o psicólogo poderá seguir com as técnicas cognitivas, além de trabalhar a percepção, pensamento e memória do ex-atleta, no sentido de reforçar que ele continue sendo um sujeito importante e produtivo para sua família e sociedade, não necessitando ter a figura de herói esportivo.

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