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UM GOVERNO VOLTADO PARA AS ELITES

(*) Rafael Moia Filho
| Tempo de leitura: 3 min

Foi fechada na calada da noite de 30.10.2001, uma negociação que se arrastava por muito tempo nos bastidores da Esplanada dos Ministérios em Brasília. Trata-se da renegociação da dívida de R$ 29,7 bilhões do setor rural. O prazo inédito e generoso de 25 anos para pagar uma dívida de R$ 10,7 bilhões que já havia sido securitizada (o que significa que seria paga em sete anos) em 1995, é mais uma demonstração clara de que o ministro Pedro Malan e o governo FHC tem dois pesos e duas medidas para tratar setores importantes de nossa sociedade.

Em primeiro lugar pairam dúvidas quanto à abrangência dos ruralistas envolvidos nessa grande negociação, uma vez que não conhecemos pequenos produtores que tenha tido acesso a essa ação fraternal de nosso governo. Em segundo lugar salta aos olhos o tratamento que o mesmo Pedro Malan e sua Equipe Econômica deram aos trabalhadores assalariados (únicos que pagam I.R. no País), quando das infindáveis discussões para pagamento dos direitos aos expurgos do FGTS ocorridos nos planos Verão e Collor. Enquanto os ruralistas esticam o prazo para pagar suas dívidas, os trabalhadores terão que aguardar de junho/2002 (para valores até $ 1.000,00) até janeiro/2007 para valores acima de $ 8.000,00). Nota-se que pelo prazo e pelo agravante de que haverá um deságio de até 15% para os maiores valores, de que os trabalhadores foram logrados em mais um acordo espúrio em que o governo entra com a faca e os trabalhadores entram com o pescoço.

A diferença de tratamento é motivada em parte pelo fato de que, os ruralistas possuem uma bancada de deputados federais e senadores, na sua maioria grande latifundiários, além de vários lobistas atuando em favor do segmento 24 horas por dia. Enquanto a classe trabalhadora possui três grandes centrais sindicais que não se entendem ideologicamente e raramente conseguem se unir para buscar vitórias maiores que o seu próprio ego político. A luta ideológica está sempre acima dos interesses dos trabalhadores, o que divide e facilita ainda mais o trabalho de um governo que tem verdadeira ojeriza pelos assalariados. Além de fragilizar a luta dos trabalhadores pela conquista de novos benefícios, bem como a manutenção das vitórias alcançadas nas últimas décadas.

Quantos trabalhadores, hoje aposentados, passando privações de assistência médica, medicamentos, moradia, alimentação, entre outras necessidades básicas, não terão oportunidade de receber o seu dinheiro do FGTS, que o Governo Federal deixou de corrigir, portanto não cumprindo à Lei, de um fato ocorrido à 12 anos, pois contam com idade avançada e poderão não estar entre nós nos próximos 7 anos.

Enquanto os grandes devedores ruralistas estão comemorando com champanha francês a benevolência de Malan, os assalariados estão sem saber até o presente momento, o valor exato que o Fernando Collor deixou para Fernando Cardoso e que ele vai empurrar para o seu sucessor pagar. O primeiro Fernando caçava marajás durante o dia e entregava o ouro para PC à noite. O segundo Fernando faz discursos em vários idiomas no exterior mas não consegue entender a linguagem de seu próprio povo.

(*) Rafael Moia Filho - RG 6.711.407-6

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