Geral

Sistema solar tem data para acabar

Gustavo Cândido
| Tempo de leitura: 4 min

De tempos em tempos, principalmente em datas marcantes, como viradas de décadas e século, surgem profetas e religiões afirmando que o mundo vai acabar. Se essas pessoas tivessem conhecimento astronômico poderiam fazer a afirmação com mais certeza baseadas em estudos científicos porque, realmente, a Terra e todos os planetas do sistema tem uma data para deixar de existir. A decepção seria o dia desse fim, previsto para daqui a 5,5 ou 6 bilhões de anos, um período de tempo inimaginável para a espécie humana, que não vive por pouco mais de um século, quando consegue.

O fim do sistema solar aconteceria pela morte do sol, que é responsável direto pela existência dos outros planetas. O físico e astrônomo gaúcho Roberto DellAglio Dias da Costa, professor do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP) e especialista na observação do espaço, afirma que as estrelas como o sol possuem um tempo de duração, determinado pela quantidade de energia que geram e gastam. Quanto mais intenso o brilho da estrela, mas rápido ela vai queimar o seu combustível e acabar.

O astrônomo explica que no núcleo do Sol acontece uma reação de fusão nuclear como se fosse uma grande bomba de hidrogênio, ou seja, lá existem átomos de hidrogênio se fundindo e gerando átomos de hélio, o que dá a energia do Sol. Quando todo esse combustível se esgotar, o Sol vai se extinguir e se tornar o tipo de estrela que chamamos de anã branca, muito pequena e sem luz. Quer dizer, primeiro ele incha, se tornando uma gigante vermelha, para depois diminuir e virar uma anã, diz. Esse processo é rápido do ponto de vista astronômico, aponta o especialista, demora menos de 1 bilhão de anos. O Sol chegaria a um tamanho que ocuparia a órbita de Marte, ou seja, a Terra seria engolida pelo Sol. Dai a camada externa dele seria ejetada e o que sobraria seria a anã branca.

O universo tem, aproximadamente, de 13 a 15 bilhões de anos, explica Costa. O Sol tem, segundo dados geológicos, em torno de 4,5 bilhões de anos e teria mais 5,5 ou 6 bilhões de anos até que todo o seu combustível se extinguisse, já que o seu tempo de vida é de 11 bilhões de anos dado a sua massa e o seu atual consumo de energia.

Supernovas

Grandes estrelas, com a massa quinze vezes superior a do Sol, podem ter um fim diferente. Por uma questão de desequilíbrio da sua estrutura, que é extremamente raro, elas podem explodir, consumindo de uma só vez todo o combustível que iriam consumir ao longo de sua vida. São as chamadas supernovas, cuja taxa de ocorrência é de uma por galáxia por século. O último registro visível na Via Láctea aconteceu em 1604 e foi testemunhado pelo astrônomo alemão Kepler.

A raridade da ocorrência de supernovas inviabiliza a crença popular de que as estrelas que se vê no céu podem não estar mais lá, que o brilho visível da Terra seria resultado de uma explosão ocorrida há muito anos. Para Costa, não há o mínimo sentido nessa explicação. O que vemos no céu são estrelas que estão há centenas e milhares de anos-luz daqui. Mas centenas de anos não é nada dentro do ciclo evolutivo de uma estrela que se mede em bilhões de ano. Não há sentido em dizer que a luz que a gente está vendo já se apagou na sua origem. É muito improvável que um dessas estrelas que vemos tenha sofrido um colapso e sumido, afirma com convicção.

Humanos fora da Terra

Na opinião de Roberto Dias da Costa, o fato de saber que a Terra vai ser destruída pelo aumento de tamanho do Sol não altera em nada a pesquisa do sistema solar e do universo em geral. Muito menos o desenvolvimento tecnológico espacial visa a criação de colônias de humanos no espaço como mostram os filmes de ficção científica. A Terra tem 6 bilhões de habitantes, é irreal pensar em transferir a população da Terra para qualquer lugar, diz.

O primeiro objetivo da pesquisa espacial, segundo o astrônomo, é a obtenção de conhecimento, ou seja, saber como o sistema solar funciona. Além disso esse processo de busca gera uma quantidade imensa de subprodutos tecnológicos como sistemas de controle, de automação, comunicações e computadores que mais tarde são transferidos para o dia a dia das pessoas.

De acordo com Costa, não faz sentido as pessoas se preocuparem com o fim da Terra daqui há 5,5 bilhões de anos e tentar se mudar para outro planeta como afirmou recentemente o físico inglês Stephen Hawking, para quem a população do planeta não vai ser viável no ano 3000. O tempo que vai levar para que a Terra acabe é muito grande, muito maior do que o tempo de evolução das espécies, afirma. O astrônomo explica que nenhuma espécie na Terra dura 1 bilhão de anos, mas, no máximo algumas centenas de milhões. As baratas são muito mais antigas do que o homem e têm centenas de milhões de anos apenas. Se alguém vai ter que deixar a Terra quando ela mudar suas características ou estiver próxima de acabar não vão ser seres humanos, vão ser outra espécie, conclui.

Comentários

Comentários