O primeiro sucesso operístico de Verdi só veio em 1842, depois que perdeu a esposa e dois filhos
O ano de 1840 foi trágico para o jovem músico: Giusep-pe Verdi perde, simultâneamente, a esposa e dois filhos. Arrasado mas disposto, estréia novo trabalho, Un Giorno di Regno, que é apresentado em Milão. Mas, somente em 1842 surge o primeiro sucesso operístico com Nabuco. Rompe relações com Merelli, amigo, empresário e, então, sócio. Ainda abatido pela perda da família, vai para Busseto, cerca de 50 km de Roncole. No entanto, Verdi não resiste ao apelo cultural da cidade grande, retorna à Milão e aceita, após muita insistência, o libreto de Nabucodonosor, que Merelli enfiara no bolso de seu capote.
À noite, em casa, ao despir o abrigo, jogando-o descuidadamente sobre uma cadeira, o libreto abriu-se no Coro dos Escravos Hebreus... Vá pensiero, sullale dorate (Voa pensamento sobre asas de ouro)...
Levada a cena no Scala de Milão, na noite de 9 de março de 1842, Nabuco foi o seu primeiro triunfo. Nessa época une-se à soprano Giuseppina Streppone, cantora do Teatro Scala. Atuou em Nabuco (soprano). Ela vai ser sua fiel companheira e animadora por muitos anos. Com quase 30 óperas, o lugar de Verdi na história da música está assegurado. Ele não foi apenas o maior de todos os compositores italianos de óperas, mas, um dos maiores de qualquer país, merecendo ser colocado entre Mozart e Wagner. Verdi foi a última grande figura da cena lírico-dramática da música italiana e com ele finda a linhagem iniciada por Monteverdi, escreveu Paul Lang.
Por razões mais que óbvias não abordaremos, neste comentário, todos os seus trabalhos para o palco. No entanto, forçoso é analisar as obras principais, mais divulgadas e aplaudidas. No ano de 1847 surge Machbeth inspirada em Shakespeare, com libreto de Francisco Maria Piave, apresentada em Florença. Em 1865, revisada, foi encenada em Paris.
É uma injustiça não haver esta obra sido valorizada, apesar de sua elevadíssima qualidade e, sim, outras, o que outorgou a fama definitiva do autor. É possível que a linguagem do século XIX não tenha facilitado a expressão da profundidade abismal da natureza humana, como a que mostra o texto shakesperiano, informa Kurt Pahlen. As exigências do papel de Lady Macbeth são enormes; as que emanam do canto somam-se as já tremendas do original dramático. Isto explica, com certeza, as poucas apresentações desta obra prima.
Trabalhando sobre o texto de Francesco Maria Piave, inspirado no romance de Vitor Hugo, Le Roi SAmuse, Rigoleto foi estreada em Mantua, no ano de 1851, causando novo sucesso do compositor. Interessante ressaltar que o escritor francês não tinha o mínimo prazer de ouvir ópera. Porém, bastou o tenor interpretar a conhecida ária La Donna è mobile para que o teatro La Fenice, em Veneza, viesse abaixo. Vitor Hugo considerou-se inteiramente derrotado.
Rigoleto é um maravilhoso conjunto de primores melódicos. Repare-se na romanza da soprano Gilda, Caro Nome. O monólogo do baixo Pare Siamo - Lei con L Spada e Io, con la Lingua (Somos iguais - você com a espada e eu com a língua). Imprecação terrível, plena de grande dramaticidade, completada integralmente no final: Gilda, mia... Gilda, ah! Maledizione (Gilda, minha Gilda, a! Maldição!). Esta frase adquire mais força depois de ouvida a picaresca e brilhante tarantela: Questa o quella... (Esta ou Aquela...), na qual critica a vulgaridade da mulher, (tenor e soprano).
Dois anos depois é a vez de Il Trovatore (O Trovador). Texto de Salvatore Cammarano, apresentada no Teatro Apolo, em Roma, em janeiro de 1853. O texto de Cammarano é baseado no dramalhão do espanhol Antonio Garcia Gutierrez, de exagerada e vazia eloqüência para os dias atuais. Não obstante O Trovador é autêntica colcha de retalhos saborosa. Exemplos: são: Miserere, Stride la vampa (Brada e chama) ária de Azusena (meio soprano) cigana condenada à fogueira; os coros dos Ferreiros e dos Soldados e no final do 4º ato a bela ária Il Ballo Del Suo Sorriso (bailar do eu sorriso) cantada pelo Conde de Luna (barítono).
Foi mal recebida na estréia, pelos críticos e parte da assistência, sob a alegação de pobreza lírica. Verdade que a época do belcanto passou, mas em apresentações sucessivas, o público mostrou-se mais perspicaz do que os expert pois, enfrentando a enchente do Rio Tibre, chafurdou-se na lama para entrar no teatro, onde mais prevaleceu o aplauso geral, prodigalizando ao compositor calorosas ovações. Antes de duas récitas, foi ouvida em Nova York, Paris e Londres.
A torrente criadora do grande mestre não se exauriu. Entretanto, não é possível negar que o primeiro sucesso de Verdi foi a ópera Nabuco. Ainda no mesmo ano (1853) é apresentada La Traviata (A Transviada) no Teatro La Fenice, Veneza, calcada no romance A Dama das Camélias de Alexandre Dumas. Recebida como obra de ruptura, não repetia as representações históricas. No palco os atores usaram a mesma indumentária que o público da platéia e sentiu-se decepcionado com os trajes dos cantores. E mais, La Traviata abordava tema algo escandaloso: a vida de uma mulher de conduta irregular, uma cortesã de Paris.
Amargurado, Verdi escreveu ao amigo e secretário Emmanuele Nuzio: O erro foi meu ou dos atores?. O tempo dirá. O problema, no entanto, residia na soprano Fany Salvini Donatella, de bons dotes vocais mas gordíssima, e que contrariava a personagem Violeta, pequena, frágil e tuberculosa. Apesar do momento trágico que se dá no final, quando o médico dá a sentença fatal. Não restam mais que poucas horas para a bela dama. A platéia explodiu em risos.
Nas representações seguintes, entretanto, a ópera mostrava as suas qualidades musicais e conseguiu consolidar seu amplo êxito. Verdi já havia escrito 18 óperas. No ano de 1871, vemos surgir um dos maiores triunfos de Giuseppe Verdi: Aida. Absolutamente consagradora. Aida tem quatro atos, com libreto de Antonio Ghislanzoni, aproveitado de Camille Du Locle e Mariette Bey. Foi escrita a pedido de Quediva Ismael Pachá e montada para o Teatro Lírico Italiano do Cairo, que comemorava, também, as festividades de abertura do Canal de Suez, obra sugerida pela egiptóloga Mariette Bey e realizada pelo arquiteto francês Ferdinand Lesseps.
Seria preciso reiterar ainda que foi por meio de Va Pensiero Nabuco, que o célebre músico soube expressar os anseios nacionalistas de independência e liberdade. Nenhum italiano que ouvisse aquele coro-hino Va Pensiero, deixaria de se identificar com os rebeldes e logo se tornaria uma das melodias mais populares da época. O povo, arrebatado pelo entusiasmo da causa, adotou o empolgante coral como palavra de ordem, verdadeiro grito de guerra: Viva Verdi. Isto significava: V.E.R.D.I. (Vittorio Emmanuele Re DItalia).