O dólar está em queda, a bolsa tem reagido e a percepção internacional aponta para um descolamento do Brasil em relação à crise Argentina. São fatores que, analisados isoladamente, podem dar a falsa impressão de que saímos da turbulência, corrigimos o rumo e estamos a voar num céu de brigadeiro. É preciso cautela nas análises. A verdade é que a situação não era caótica e nem tornou-se tranqüila. O Brasil é um país dotado de uma economia mais sólida do que a Argentina, com infra-estrutura e empresas muito mais consistentes, mas está baseado num modelo econômico fiscalista e dependente de recursos externos. Por esta razão estamos sempre oscilando entre a tristeza profunda e a felicidade desmedida. Parece até que estamos sujeitos a alterações hormonais sem fim.
Para não perdermos a noção exata dos nossos problemas, um bom indicador é o nível de emprego e de salários que indiretamente acaba sendo uma referência de riqueza gerada. Pois bem, os dados mais recentes do IBGE apontam claramente um crescimento dos índices de desemprego e do nível salarial: queda de 5,3% no rendimento do trabalhador e alta de 6,9% no número de desempregados. Isso é muito grave para um país onde mais de 40 milhões de pessoas são consideradas excluídas do que se convencionou chamar de população economicamente ativa e outros tantos estão inseridos na economia informal. Considero que estamos diante de indicadores de uma economia atrofiada que expõe músculos aparentemente elegantes, graças a esteróides anabolizantes.
Essa substância dopante é representada pelo aperto fiscal sobre um número cada vez menor de contribuintes e por um capital externo especulativo e volátil. Faz-se necessário abrir os olhos para que a nossa situação não evolua para algo semelhante ao que ocorre na Argentina, país que assistiu passivamente ao sucateamento do seu parque industrial, à deterioração de sua infra-estrutura e à perda de competitividade de sua agricultura. Não se trata de fazer mágicas mas de seguir a receita do respeitado economista Allan Greenspan, secretário do Tesouro Americano. Na crise, sua receita tem sido a queda de juros para incentivar o consumo e reaquecer a produção das empresas.
Aqui, guardadas as proporções e enfrentadas as nossas peculiaridades, é preciso um esforço para retomar o crescimento de forma sustentada, reaquecer a economia, aumentar a massa de salários e gerar milhares de novos empregos como forma de, ao mesmo tempo, fortalecer o mercado consumidor e diminuir as desigualdades sociais e regionais. O resto é maquiagem e engenharia financeira que vai rolando a situação com a barriga e deixando o pepino para o sucessor de FHC.
(*) Arnaldo Jardim é deputado estadual.