Presidente da Associação Paulista de Jornais acredita que emenda possibilitará melhorias no setor tecnológco.
A aprovação do Projeto de Emenda Constitucional (PEC), que prevê a entrada de capital estrangeiro nas empresas de comunicações do País é defendida pelas entidades representativas do setor. Entre elas, está a Associação Paulista de Jornais (APJ), que reúne os jornais de alcance regional do Estado. Seu presidente, Fernando Mauro Salerno, acredita que esta é uma solução para a crise financeira que muitos veículos vêm enfrentando, possibilitando melhorias no setor tecnológico e também na qualificação de seus profissionais. Ele cita também o fato de outras mídias não contarem com esta restrição como um fator importante para as modificações, e acredita que não haverá interferências na linha editorial. Eu não acredito que isto vá acontecer, no momento em que a lei determina um limite de participação estrangeira, que é de 30%.
Salerno é favorável também à permissão de controle total de pessoas jurídicas. Na última semana, Salerno concedeu entrevista antes de reunião com integrantes da associação para discutir estes e outros assuntos. Leia os principais trechos da entrevista.
Pergunta - De que forma a permissão para investimentos estrangeiros nas empresas de comunicação pode beneficiar a Imprensa brasileira?Fernando Salerno - Os jornais hoje em dia enfrentam problemas de captação de recursos. Eles estão com alto grau de endividamento e em más condições financeiras. No momento em que você permite o financiamento através do capital estrangeiro, você melhora as condições econômicas dos jornais. Por consegüinte você consegue brigar melhor com os outros veículos que não possuem esta restrição, como a TV a cabo, a TV por satélite, que são competidores que os jornais enfrentam. Eles não enfrentam esta política discriminatória.
Pergunta - E existem outros meio de comunicação, como a Internet e as agências de publicidade, que também não possuem esta restrição.Salerno - Eles não sofrem. E não sofrendo, têm uma vantagem em relação aos meios tradicionais, as televisões, os jornais e as revistas.
Pergunta - Esta emenda constitucional não poderá gerar interferências, não só na linha editorial do jornal como também características históricas de determinados veículos? Salerno - Eu, particularmente, não acredito que isto possa acontecer. Não acredito, no momento em que a lei determina um limite de participação, que é de 30%. Eu seria absolutamente contra qualquer interferência de grupos estrangeiros na linha editorial de um jornal. Mas este limite dá uma tranquilidade para as empresas de comunicação.
Pergunta - O interesse em grandes jornais deve surgir, mas até que ponto as empresas internacionais estariam interessadas em investir nos jornais regionais, que inclusive possuem uma postura quase comunitária?Salerno - Os jornais vão atrair qualquer interesse neste sentido, serão das empresas de comunicação, que vêem no Brasil um potencial muito grande. O número de exemplares para cada 1000 habitantes é muito pequeno. É metade do índice registrado na Argentina, por exemplo. Então existe um potencial de crescimento extraordinário. E acredito que eles investirão não somente na estrutura dos jornais, mas analisando um pouco o potencial de mercado.
Pergunta - E como a APJ vê a possibilidade - aberta pela emenda - de pessoas jurídicas controlarem 100% das empresas de comunicação? O que isto pode trazer de positivo?Salerno - Não só a APJ, mas também a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio) e a Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas) não vêem restrições nenhuma neste sentido, muito pelo contrário. Temos uma visão sempre positiva. As empresas, fazendo parte da corporação, só têm a agregar. Você facilita a captação de recursos para as empresas de comunicação. A gente tem que considerar como qualidade técnica e ética. Acho que quando você fala Eu vou captar recursos, você vai investir na melhoria do seu parque tecnológico, na sua capacidade de cobertura e qualidade de informações. Acho que só traz vantagens. Não dá para fazer nenhuma análise ruim, pois é algo que todos os países desenvolvidos têm. Inglaterra, França, Estados Unidos, todos permitem entrada de capital estrangeiro, permitem a participação total de pessoas jurídicas em empresas de comunicação. Apenas dois países possuem uma legislação discriminatória como a do Brasil, que são o Líbano e o Uruguai.
Pergunta - E a situação da Imprensa nestes países é semelhante ao Brasil, por conta desta legislação, ou nós temos uma situação particular? Salerno - Em relação a estes dois países, eu tenho poucas informações, mas acho que o Brasil tem uma Imprensa exemplar. Tanto na parte tecnológica, parque gráfico, quanto na qualidade de informação, em relação a estes países. Eu acho que o Brasil dá um show.
Pergunta - Após a aprovação destas leis, qual seria o próximo passo para o aperfeiçoamento da Imprensa feita no país? Salerno - Acho que não tem um próximo passo. Tem o seguinte: é sempre bom contratar melhores profissionais. Você poder aumentar o leque de cobertura destes veículos. E isto você só consegue fazer tendo recursos. O lucro destas empresas seria um dever ético. Com o capital você amplia a cobertura e qualifica a mão-de-obra. Então não acho que exista um próximo passo. É o desdobramento natural de um princípio que já está incorporado às empresas de comunicação.
Pergunta - Este aperfeiçoamento promovido com a entrada das empresas pode incluir também o aumento no número de vagas, já que temos uma grande demanda de profissionais que não é atendida?Salerno - Sem dúvida. No momento em que você quer abrir o seu leque de atuação, a zona de abrangência, ou mesmo ampliar a sua penetração no mercado, tem que aumentar o número de funcionários e qualificar cada vez mais a sua mão de obra. É sempre interessante ter um bom produto para brigar em pé de igualdade com outros meios. As empresas estão conscientes que os recursos humanos são a peça-chave da comunicação.
Pergunta - E como está a divisão de facções entre os órgãos de Imprensa dentro desta discussão, que envolve também partidos políticos e empresários? Salerno - Eu acho que, para concluir esta conversa, podemos dizer que a abertura ao capital externo estimula a transmissão de estilos de informação. E isto é muito importante para a História da Imprensa brasileira.