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Vicentinho alerta para risco Argentina

Gilmar Dias
| Tempo de leitura: 4 min

Ex-presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, afirma que o Brasil pode estar caminhando para o caos.

O ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, diz que o Brasil caminha para a mesma situação econômica da Argentina, que desde anteontem vive clima de convulsão social. Ontem, ele participou, em Bauru, da solenidade que criou a Federação dos Sindicatos da Construção e da Madeira do Estado de São Paulo. Candidato a deputado federal pelo PT nas eleições do ano que vem, Vicentinho está confiante na vitória do presidenciável Luís Inácio Lula da Silva. Eu tenho muita convicção disso, afirma. A seguir, a entrevista com o ex-presidente da CUT:

Jornal da Cidade - A Câmara dos Deputados aprovou a flexibilização da Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT. Os trabalhadores correm risco de perder direitos conquistados ao longo dos últimos 50 anos?Vicente Paulo da Silva (Vicentinho) - Isso é um prenúncio do que está acontecendo na Argentina hoje. Na verdade, a Argentina se antecipou às decisões e hoje enfrenta o caos. O termo correto não é nem flexibilizar direitos. O que aconteceu foi uma redução de direitos, legalizar o risco da escravidão. A CLT existe há 58 anos. Como é que hoje ela é culpada pela crise do País? O que fizeram foi seguir a mesma lógica da orientação que vem para o Governo brasileiro, que é fazer do Estado um Estado mínimo, deixando o povo abandonado. Foi assim na previdência, é assim na educação, na segurança, no Fundo de Garantia. Agora é assim na questão dos direitos dos trabalhadores. Há uma expectativa de que o Senado não aprove esse projeto. O Senado está mais alheio às questões e interesses imediatos de grupos. Temos que lembrar também que 2002 é um ano eleitoral. E com a posição da Associação dos Magistrados do Trabalho, da OAB, ficou muito evidente o que significa isso para nosso País. É um afronto aos nossos direitos e nós não podemos aceitar.

JC - O Brasil e a Argentina são países bem diferentes no que diz respeito a economia, estrutura monetária, PIB. Mesmo assim, o senhor acha que o Brasil corre o risco de chegar a uma situação crítica e insustentável como ocorre hoje na Argentina?Vicentinho - A Argentina acabou com a previdência, retirou direito dos trabalhadores, perdeu completamente sua soberania, ficou submetida aos interesses do grande capital internacional, ou seja, é o mesmo procedimento que o Brasil vem adotando. É claro que o Brasil é um País maior, é um gigante. Agora, já existe uma reação popular espontânea. Pena que essa reação não seja organizada. Nós vivemos no Brasil um grande risco de a situação se agravar por causa das políticas que prejudicam nosso povo. Qualquer país do mundo jamais estaria mal das pernas se o povo estivesse bem.

JC - A Força Sindical aprova as propostas de alterações na CLT e argumenta que elas não representam risco de desemprego. O senhor acha essa avaliação um equívoco?Vicentinho - A Força Sindical está completamente desvirtuada. Além de todos os juízes, o mundo legal ter optado pela reação a essas alterações, a Força Sindical conseguiu ser favorável a esse projeto, com duas gravidades. Sindicatos importantes ligados a Força Sindical foram contra. Alguns até estão envergonhados e já analisam a possibilidade de deixar a central. Outra coisa grave é que o Medeiros (deputado federal Luiz Antonio Medeiros - PL/SP) não cumpriu se quer a orientação do PL, que votou contra o projeto.

JC - A Central Única dos Trabalhadores, a CUT, organiza uma greve geral para março do ano que vem, que é um ano eleitoral. Como estão os preparativos para essa proposta de paralisação do País?Vicentinho - Há uma orientação da nossa central para que possamos reagir com muito afinco. Eu espero que a greve geral seja entendida, interpretada, assumida pelo povo como um movimento cívico em defesa da soberania, dos direitos dos trabalhadores, da dignidade. É bom sempre lembrar que as leis trabalhistas existem porque o poder do capital é draconiano.

JC - O senhor é candidato a deputado federal pelo PT. Mais uma vez, Luís Inácio Lula da Silva está bem nas pesquisas. Será que o Lula tem chances de subir a rampa do Palácio do Planalto como presidente?Vicentinho - Eu tenho muita convicção disso. Tenho representado o Lula em eventos pelo Brasil afora. A gente sente uma expectativa muito grande, sobretudo a reação de pessoas que se manifestam da seguinte forma: Eu nunca votei no Lula e vou votar pela primeira vez; eu sempre votei no governo e estou altamente decepcionado. Você percebe uma reação. E as pesquisas são homogêneas quando mostram o baixo índice de rejeição e um alto índice de aprovação. É verdade que a elite vai criar novos personagens, como está fazendo agora com a Roseana (Roseana Sarney (PFL), governadora do Estado do Maranhão).

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