O prédio do antigo Hotel Central (localizado na quadra 5 da rua 1º de Agosto) começou a ser demolido ontem para dar lugar a uma moderna loja de eletrodomésticos. O imóvel foi adqüirido por uma grande rede do setor, a Lojas Cem. Os valores do negócio não foram revelados pela família Zucchi, ex-proprietária da área.
A demolição começou pela retirada do telhado, madeiramento, janelas e batentes de portas. O próximo passo será a derrubada das paredes e a retirada dos entulhos. Ainda na primeira quinzena de janeiro, a rede de lojas de eletrodomésticos pretende iniciar a construção do novo prédio para abrigar sua mais nova filial no Estado.
A família Zucchi encerrou as atividades do hotel no início de dezembro do ano passado, há pouco mais de um ano. Segundo informações prestadas pelo jornalista e historiador Luciano Dias Pires, coordenador do Instituto Histórico Antônio Eufrásio de Toledo, o Hotel Central foi construído e inaugurado no início da década de 20, provavelmente em 1921.
Seu idealizador, Fernando Zucchi, chegou ao Brasil procedente de Ferrara, Itália. Ele trouxe na bagagem o sonho de ser proprietário de um hotel. Seus irmãos, José e Jacob, já tinham negócios no setor, em Amparo. Os dois eram especialistas na direção de hotéis de primeira categoria e trataram de repassar a experiência para o irmão recém-chegado da Itália.
Lição rápida
Fernando Zucchi aprendeu rápido as lições de como dirigir um hotel. Com um olho no mapa e outro no futuro, Zucchi procurou uma cidade em fase de crescimento para instalar seu negócio. Descobriu Bauru, então fronteira do Sertão da Noroeste, famosa pelo entrocamento de ferrovias e pela oportunidade de empreendimentos.
Se a cidade recebia trens é porque embarcavam e desembarcavam viajantes. E viajantes precisam de pouso e comida. Zucchi partiu de Amparo decidido a montar um hotel em Bauru. E conseguiu. Para a época, a construção da quadra 5 da rua 1.º de Agosto empolgava os transeuntes: 60 quartos e 14 apartamentos.
Por mais de quatro décadas o Hotel Central foi um ponto de referência para os viajantes que passavam por Bauru. O local também era usado para reuniões sociais, realizadas no salão de jantar. Era uma fase de banquetes e glamour.
Um dos acontecimentos marcantes para a sociedade da época foi a realização da primeira reunião do Rotary Club de Bauru, fundado em 1936 pelo engenheiro Alfredo de Castilho, então diretor da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Zucchi morreu em 1949, aos 70 anos de idade. A família continuou tocando o negócio. Nos anos 60, com o surgimento de outros hotéis mais modernos, a procura por parte dos viajantes pelo Central começou a cair.
Fora da lista
O prédio não faz parte da lista de imóveis que foram tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Bauru (Codepac). Ao longo dos anos, o imóvel sofreu alterações em suas características primárias. A plastibanda - parede que encobre o telhado - foi alterada e sua ornamentação e revestimentos externos foram retirados.
O prédio do hotel tem características da arquitetura eclética, cujo auge pôde ser observado na Europa do século XIX e início do passado. O estilo é reconhecido por apresentar ornamentações rebuscadas, baseadas em períodos históricos, entre os quais o Barroco e o Neoclássico.