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Barreirinho: impasse na recuperação

Redação
| Tempo de leitura: 4 min

Ocupação da área por barracos agrava problemas ambientais e impede o início da recuperação do córrego, outrora limpo

Erosão, esgoto, acúmulo de lixo e ocupação irregular de área de preservação ambiental permanente estão poluindo o córrego Barreirinho e destruindo gradativamente uma das poucas áreas de vegetação nativa de Bauru. A retirada das pessoas que moram em barracos no local representa um impasse para a viabilização da recuperação já que a Prefeitura Municipal não tem planos de realocar essa população.

O primeiro passo para colocar em prática os projetos de recuperação ambiental da área seria a desocupação por parte dos moradores que instalaram-se às margens do córrego. Hoje, há cerca de 30 barracos cujos moradores alegam não ter onde morar caso sejam obrigados a sair do local. O problema ambiental reflete também, portanto, um problema social de Bauru.

Em 1996, o córrego Barreirinho ganhou o título de primeiro córrego de Bauru totalmente despoluído, já que contava com uma rede de interceptores de esgoto. O problema da erosão e da poluição do córrego por esgoto teve início com a implantação do Núcleo Bauru 2000.

Devido a um erro de dimensões das galerias para águas pluviais do novo bairro, a água de chuva do Bauru 2000 provocou uma erosão no fundo de vale do Jardim Flórida, às margens do córrego Barreirinho. Ela destruiu a rede de interceptores de esgoto instalada no local e o esgoto passou a correr a céu aberto, poluindo o córrego.

De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente, Luiz Pires, a construtora foi acionada para sanar os danos causados pelo empreendimento e assinou um termo de ajuste de conduta. Ela estaria providenciando novas galerias para o Bauru 2000, para posteriormente recuperar o emissário de esgoto.

Lixo

O lixo depositado às margens do córrego é mais um agravante para o problema ambiental do córrego do Barreirinho. Muitos dos moradores dos barracos instalados no local sobrevivem trabalhando como catadores de lixo reciclável.

O lixo recolhido é levado para a área de preservação permanente, onde é separado. As sobras do material recolhido para reciclagem ficam às margens do córrego causando problema de poluição ambiental e de saúde pública para a população local.

De acordo com o vereador Rodrigo Agostinho, o Código Florestal de 1965 determina que os terrenos compreendidos entre os 30 metros de margem dos córregos, em ambos os lados, não podem ser ocupados. São áreas de preservação permanente que, entre outras coisas, evitam erosões e conseqüências desastrosas em caso de inundação.

Os moradores, no entanto, depositam lixo doméstico nos espaços vazios entre os barracos instalados na área de preservação. Eles alegam não ter orientação sobre onde colocá-lo. Luiz Pires afirma que a coleta domiciliar de lixo atende 100% da área urbana de Bauru. A comunidade deve, portanto, ensacar o lixo produzido nas casas, atravessar o córrego e levá-lo a uma das ruas do Jardim Flórida, onde será coletado pelos caminhões da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb).

Jogamos em qualquer lugar porque não têm onde jogar, afirma Marilaine Gomes de Almeida, uma das moradoras mais antigas do local. Ela conta que muitas crianças da comunidade ficam doentes em virtude das condições inadequadas.

Projetos

A Secretaria Municipal de Planejamento (Seplan) tem planos de urbanizar a área do córrego do Barreirinho. De acordo com Maria Helena Rigitano, titular da pasta, a intenção é transformá-la num parque - o Parque do Barreirinho.

A iniciativa da Seplan faz parte do Projeto de Parques Lineares de Fundos de Vale.

Maria Helena explica que, através da Secretaria Municipal de Negócios Jurídicos, está sendo movida uma ação de reintegração de posse da área, já que as notificações de desocupação enviadas aos moradores dos barracos não surtiram efeito.

O Instituto Ambiental Vidágua também tem planos para a recuperação da área. O projeto, elaborado em 1999, foi aprovado em 2000 pela Secretaria Estadual de Recursos Hídricos.

O contrato para liberação da verba de R$ 40 mil deverá ser assinado em breve. O secretário executivo da entidade, Ivan Ferrazoli de Marche, espera que em março ou abril os recursos sejam liberados e o projeto possa ser colocado em prática.

O Vidágua quer recuperar uma área de 15 hectares que tem início na nascente do córrego. O primeiro passo consiste na retirada dos moradores do local para que o cercamento possa ser realizado. A recuperação compreende estudos sobre a erosão e a vegetação da mata ciliar.

A viabilização depende não apenas da desocupação da área, mas da recuperação dos interceptores de esgoto por parte da empreiteira responsável pelo Núcleo Bauru 2000.

Ferrazoli espera firmar parcerias para solucionar os problemas, visto que envolve diversos setores da sociedade e que a verba proporcionada pelo Estado é insuficiente. Não depende só da gente, frisa.

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