Sou parado na rua por pessoas que lêem o que escrevo nesta Tribuna. Acabam me sugerindo um texto. Coincide com o que já tinham intenção de escrever. Sou um apaixonado pelo rádio, principalmente o AM. Não fico sem ouvir rádio, seja no carro, no trabalho, em casa e por aí vai. Porém, não está muito fácil de ouvir esse veículo durante a noite. Temos três estações AM na cidade, e elas, sem tirar nem por, umas mais, outras menos, se deixaram invadir pela programação evangélica. Programação é uma expressão inadequada, pois o horário é vendida para certas igrejas, que ocupam o espaço da forma que querem, trazendo locutores e expelindo aquilo tudo que nós já conhecemos.
Não me chamem de xenófobo ou qualquer coisa parecida. Sei que o mundo foi feito para todos, com igualdade de culto e de oportunidade, mas esculhambação tem limites. Nesse final de ano passado, ouvi numa daquelas noites, exatamente isso: “Irmãos, se vocês quiserem participar da Santa Ceia, não adianta apresentarem o recibo de novembro, pois ele não lhe dará o direito da comunhão benta. É necessária a apresentação do recibo de dezembro. Dessa forma, você será ungido e poderá desfrutar coletivamente...†E por aí vai. Haja estômago. Eu mudo logo de estação, mas na outra a ladainha é a mesma. Daí não tem mesmo jeito, sou obrigado a mudar de ondas em busca de algo mais sociável.
Tem rádio que consegue manter uma programação digna, mas tem uma que está descarada. Não tem mais quase nada local. Uma pouca vergonha. Se não me engano as emissoras de rádio neste País são uma concessão do governo, sendo obrigadas a manter uma programação mínima e uma vez, estando em desacordo nesse mínimo, teriam que devolver a concessão a quem de direito. Para continuar como está, tem uma delas aí que já passou dos limites do tolerável. Como os tais dos compradores de horários são exigentes, eles estão lá transmitindo em cadeia um jogo de futebol e se ele não terminar no exato momento que começa a ladainha, corta-se a transmissão pelo meio, numa falta de respeito ao telespectador. Deve ser muito mais fácil vender a programação toda para esse tipo de falação, do que suar a camisa e colocar algo digno no ar, tendo que ir em busca de anunciantes. A Auri-Verde resiste (mas também tem suas noites invadidas), a 710 tem a maioria de seu horário tomado e a Band está que é uma judiaria. Tenho saudades dos tempos do Tizoco e muita dó do último dos moicanos, o Tião Camargo, que resiste bravamente, enquanto ainda consegue. Minha gente, pouca vergonha tem limite e não são poucos os que se bandearam para emissoras distantes.
(*) Henrique Perazzi de Aquino - RG. 9.710.205-2