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Brincando com a bola

Chico Dominguez
| Tempo de leitura: 3 min

Sou do tempo em que jogador de futebol corria atrás de dirigentes de clubes, pressionando para receber salários atrasados. Eu me lembro de um lateral muito alto, carioca e ex-Bangu, que saiu em disparada, o chinelo de dedo na mão direita, atrás do diretor de futebol do Paulista de Jundiaí (hoje Etti-Jundiaí), encostou o homem numa parede da avenida Vigário J.J. Rodrigues, até que ele enfiou a mão no bolso, tirou algum dinheiro e prometeu pagar o resto do salário atrasado no dia seguinte.

Isso já faz mais de 30 anos, mas de lá para cá, apesar da conquista de títulos mundiais, pela seleção e por clubes, o futebol brasileiro, de degrau em degrau, está quase chegando ao fundo do poço. Vejo a página de esportes dos jornais e lá estão profissionais como Luizão, Marcelinho Carioca, Maicon, Luiz Mário, e tantos outros na Justiça do Trabalho tentando receber dinheiro e o atestado liberatório. Clubes como o Santos, Portuguesa de Desportos, Fluminense, Botafogo (cariocas) e outros em crise financeira, atrasam os salários dos jogadores e funcionários. O atacante Oséas, do Santos, foi surpreendido dia desses distribuindo na surdina 40 cestas básicas a funcionários do clube. O Fluminense carioca corre o risco de perder sua sede nas Laranjeiras, na Justiça.

E para agravar mais ainda a situação, o futebol brasileiro é dirigido há anos por homens sem brilho, que costumam legislar em causa própria, como Eurico Miranda (do Vasco), Caixa D’Agua (presidente da Federação Carioca de Futebol), Eduardo José Farah (presidente da Federação Paulista de Futebol), Ricardo Teixeira (presidente da CBF) e outros que foram os principais colaboradores para que o Brasil caísse do 1.º para o 3.º lugar no ranking do futebol mundial, atrás da França e da arquiinimiga Argentina. Nem amistosos para a pobre seleção brasileira, Ricardo Teixeira “et caterva”, conseguem. Países de futebol de nível fraco, como Colômbia e Chile desistiram de enfrentar a seleção brasileira, alegando falta de preparo (que novidade!) e por isso, a Islândia, 54.a colocada no ranking mundial, virá jogar no dia 7 de março em Cuiabá.

E para piorar ainda mais a situação do já pobre e confuso futebol brasileiro, o senador Álvaro Dias, presidente da CPI do futebol e presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, acreditam que o provável fim do calendário quadrienal e o esvaziamento das ligas significará mais um retrocesso. Os presidentes das federações estaduais de futebol pressionam a CBF exigindo o fim do calendário (criado há oito meses) e das ligas, porque perderam o poder com o esvaziamento dos campeonatos estaduais. E a CBF acredita que perderá todo o poder que exerce sobre o futebol brasileiro, para ligas. Lembrando, o calendário quadrienal (2002 a 2005), foi criado, em 2001 como um dos instrumentos a serem utilizados para a “moralização do futebol brasileiro”. Ele previa a disputa do Rio-São Paulo por 16 clubes, em conjunto com campeonato estaduais (esvaziados), e a Copa do Brasil no primeiro semestre, Copa dos Campeões e o Brasileiro ficaram para o segundo semestre. E dirigentes nos grandes clubes criaram a liga Rio-São Paulo.

Isso tudo significava que os clubes do futebol brasileiro começariam a ter bons lucros com jogos, principalmente os chamados “grandes”, que sempre tiveram prejuízos nos campeonatos regionais. Mas pelo rumo que o futebol brasileiro está seguindo, tudo indica que aquele que seria “ a arca da esperança”, de um futuro promissor está se transformando numa “Torre de Babel”, onde ninguém fala a mesma língua e há um profundo receio da perda do poder. Com certeza, depois de o Brasil ser eliminado da próxima Copa do Mundo, o “grande culpado” será o técnico Luiz Felipe Scolari, principalmente se ele não convocar Romário.

Ah! Acho que está chegando a hora de os torcedores correrem atrás de dirigentes do futebol brasileiro, chinelos de dedo nas mãos, cobrando bons resultados e a prometida moralização. (Chico Dominguez, da ACEESP - Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo)

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